O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca
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Romances de cavalaria: as diferenças entre a ficção e a realidade
Postado por: Helkem No dia: terça-feira, novembro 11, 2014 1
Olá,
queridos leitores.
Quem
não conhece ou não viu ainda os filmes “Coraçãode Dragão” ou “Coração de cavaleiro”?
São dois exemplos clássicos cinematográficos de um gênero que nasceu nas
páginas dos livros, ainda na Idade Média, conhecidos como Romance de Cavalaria.
São histórias cujos protagonistas são cavaleiros e seus códigos de honra e
senso de dever. Outra história muito famosa desse gênero, tanto nos livros
quanto nas telas, é “Rei Arthur”.
Mas,
você conhece a origem dessas histórias? E as semelhanças e diferenças entre os
personagens da ficção e os cavaleiros reais? Não? A repórter Aretha
Yarak trouxe um pouco dos primórdios desse gênero para as páginas de
uma edição especial da Revista Super Interessante.
Confira
abaixo a transcrição.
***
Imagine
a vida de um cavaleiro. Não um personagem histórico, mas o clichê da fantasia,
dos filmes, jogos e desenhos animados. Você provavelmente aprendeu coisas como
vagar pela terra sozinho, ajudando os fracos e oprimidos, seguindo o mais rígido
código de honra, secretamente apaixonado por uma princesa que, quem sabe, seja
preciso salvar de um dragão, que também guarda um tesouro.
Na
vida real, o dragão nem era a parte mais implausível: cavaleiros eram militares
profissionais que lutavam em formações de centenas, e seu maior alvo eram
fracos e oprimidos plebeus, armados geralmente com arcos. Na prática, seu
código de honra era uma ligeira sugestão: estupros e pilhagens eram feitos
pelos cavaleiros das ordens monásticas, que eram, para todos os fins, monges.
A
imagem popular do cavaleiro não vem da realidade, mas dos romances de cavalaria
e das canções de gesta, gêneros em prosa e verso que se tornaram populares após
a Primeira Cruzada. Eram livros cheios de ação e romance, feitos para divertir
e inspirar, e não davam a mínima para o realismo. Como aconteceu como muitas
outras lendas, ninguém avisou os autores que a Idade Média havia acabado, e o
gênero seguiu firme e forte pelo século 18, quando “cavaleiro” já era quase só
um título, sem qualquer papel militar. Foi só com a sátira impiedosa de Cervantes,
autor de “Dom Quixote”, em 1600, que
a ficha caiu e eles saíram de moda.
A
seguir, alguns dos personagens mais importantes nascidos da imaginação
medieval. Tire as crianças da sala: diferente do estereótipo moderno, as
relações entre cavaleiro e donzela frequentemente eram consumadas. Foi só em
tempos recentes que adaptaram as lendas para gostos mais puritanos.
ORLANDO – França e outros países (1115-1516)
Desde
a Espanha até a Noruega, dezenas de livros foram escritos sobre o legendário
paladino de Carlos Magno, morto em combate com os mouros na Batalha de
Roncesvales, em 778. Orlando seria o dono de Durendal, a espada mais afiada do
mundo, feita com um dente de São Pedro, o sangue de São Basílio, o cabelo de
São Denis e um pedaço da roupa da Virgem Maria. Com ela, enfrentou o gigante islâmico
Ferrabrás (ou Ferraguto) e forçou-o a se converter ao cristianismo. Também
participou de torneios pela mão da princesa Angélica. Em sua batalha final, ele
se recusa a chamar por reforços, até que, tarde demais, toca seu olifante – uma
trombeta feita de marfim de elefante – com tanta força que estoura as veias da
cabeça, morrendo sem combate.
AMADIS DE GAULA – Portugal (séc. 14)
A
autoria é portuguesa, com certeza, mas o personagem é estrangeiro. Filho de um
rei da Gália e uma princesa da Bretanha, Amadis foi abandonado pelos pais e
criado pela feiticeira Urganda. De volta ao reino, já adulto, enfrenta vários
desafios, incluindo matar o gigante Endriago, coberto de escamas e cujo fedor é
fatal. Com isso, consegue ser feito cavaleiro por seu próprio pai. Apaixonado pela
princesa Oriana, da Inglaterra, fica louco após receber uma carta mal-educada
da amada. Mais tarde, o casal consuma a relação, sexo antes do casamento – pelo
qual ganha o ódio eterno do pai da ex-donzela. Amadis foge com Oriana e eles,
tempos depois, se casam. Mas acaba morto por seu próprio filho, que vinga a “desonra”
de ter nascido de mãe solteira.
SIR EGLAMOUR – Inglaterra (1350)
Um
cavaleiro pobre se apaixona pela filha de seu senhor, um barão feudal. O nobre
diz que concorda com o casamento, desde que ele resolva três tarefas: primeiro,
tirar um cervo de uma floresta tão distante que fica depois do paraíso celta,
protegido por um gigante. Depois, matar um javali assassino que aterrorizava
Sidon, no Líbano. Por fim, acabar com um dragão em Roma. Tudo isso ele resolve
galantemente, mas, entre o javali e o dragão, já sem paciência, acaba deixando
a princesa grávida. Mãe e filho são banidos do reino, e acabam separados quando
um grifo rouba a criança. Depois de muitas reviravoltas, que levam décadas e
incluem a mãe casar com o filho (felizmente, sem consumar a relação), todo
mundo acaba junto, e o filho casa com uma princesa prometida ao pai.
FREDERIK DA NORMADIA – Suécia (1308)
O
duque Frederik era um dos cavaleiros do Rei Arthur. Um dia, ele sai para caçar
e acaba perdido. Até que encontra o reino dos anões, dentro de uma montanha. O rei
deles, Malmrit, enfrenta uma revolta, que o cavaleiro ajuda a controlar. Como prêmio,
ele recebe um anel mágico, capaz de torná-lo invisível. As semelhanças com “O senhor dos anéis” acabam aqui: usando
o anel, o cavaleiro consegue o acesso a uma torre do rei da Irlanda, onde ele
mantinha presa sua filha, Floria. Os dois tem um romance – consumadíssimo – e,
após mover mundos e fundos, ele consegue levar a princesa para a Normandia, com
um navio cheio de tesouros. E são felizes para sempre.
***
E
então, o que acharam? Os primeiros heróis literários de cavalaria eram bem
diferentes dos que aprendemos a gostar. É sempre interessante ver como as
lendas e as ideias evoluem e como os livros refletem essas transformações
graduais.
Por
hoje é isso, pessoal. Até a próxima!!!!
Referência
do texto:
- YARAK,
Aretha. Romances de Cavalaria: tudo a respeito do herói medieval nasceu com
eles. Publicado em “Dossiê Super Interessante: Lendas Medievais”,
edição 338-A, outubro de 2014. Páginas 14 e 15.
Crédito
das imagens:
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Comentários
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Ual que legal poder saber um pouco mais sobre lendas e histórias tão antigas.
ResponderExcluirFrederik eu conhecia, por ser bem parecido mesmo com Senhor dos Anéis.
Eu nunca poderia imaginar que os cavaleiros não eram como a gente vê nos filmes.
Mas acho que deviam ter algumas exceções né? Me recuso a acreditar que nunca houve um cavaleiro como Mel Gibson na história. kkkkk
Beijos,
Mari Siqueira
http://loveloversblog.blogspot.com