ENTREVISTA: Enéias Tavares (Parte 2)

Olá, leitores!
Semana passada publicamos a primeira parte da entrevista com o autor Enéias Tavares. Quem não viu ainda, pode conferir nesse link. Antes de mostrar o resto da entrevista, deixe-me contar o que eu fiz nos meus dias livres em Porto Alegre dos Amantes: Assisti um filme no Cinematógrafo Falante. Devo dizer o quão revolucionário é esse aparelho. Seu inventor com toda certeza está nadando na grana. E ainda tive a oportunidade de ter um quadro meu registrado pelo artefato curiosamente batizado de Photografia da Alma Humana. Nome curioso, não? Essa belezinha faz em segundos o que um pintor leva horas para fazer. Já encomendei uma para mim. Imaginem os furos jornalísticos que poderei ter em mãos com uma dessas? Depois de ouvir o ditado do vendedor "Uma Photografia vale mais que mil palavras", não duvido de mais nada nessa vida. E claro, passei minha última noite no Palacete, pois ninguém é de ferro rsrs

Nessa segunda e última parte da entrevista, Enéias Tavares fala sobre as novidades envolvendo o universo de sua obra e um recado para leitores e escritores que acompanham seu trabalho. Confiram abaixo:



Academia: Bem no início do livro existe uma nota sobre a “Graphia” usada na obra. Você encontrou alguma dificuldade, tanto da editora, quanto dos leitores, ao escolher preservar a grafia original dos fonemas?

Enéias: Na verdade, não. Pelo contrário, quando isso é mencionado é quase sempre como elogio ao estilo da obra. Obviamente, eu não estou escrevendo com a grafia da época e sim propondo um exercício estilístico, de natureza paródica, que objetiva a imersão naquele mundo. Acho que esse elemento deve persistir nos outros títulos da série. Mas não é só isso, brinco também com o próprio gênero detetivesco ou pulp. No site, há, por exemplo, cartões postais e anúncios de época que auxiliam nessa imersão, além de entrevistas exclusivas com alguns personagens, como Dante D´Augustine sobre Literatura Popular e com Beatriz de Almeida e Souza sobre a representação feminina na ficção brasileira (imagens abaixo). Todos esses elementos auxiliam na criação de um pano de fundo bem rico, que adensa e aprofunda a experiência de leitura. Futuramente, caso a série também alcance uma boa vendagem, pretendemos produzir um Guia de Referência do universo de Brasiliana Steampunk com todos esses elementos paratextuais.
Nota do entrevistador: Guia este que os fãs com certeza vão adorar ter.





Academia: Acreditamos aqui na Academia que “a propaganda é a alma do negócio”. Você mencionou um site sobre sua obra e diversos outros materiais extras que expandem o universo do livro. Poderia falar um pouco sobre esse processo de expansão? Sobre como você imaginou seus personagens, os mapas, as ilustrações, a capa maravilhosa e tudo o mais?

Enéias: Eu sempre adorei aquelas obras que produzem a sensação de grande profundidade em termos de universo, cenário, mundo. Moore, em “Como escrever quadrinhos”, defende a necessidade da escrita de um texto primeiramente sobre o mundo e seus mais insignificantes detalhes. Este texto, não é a história que você contará. Antes, é um detalhamento ad nauseam do lugar onde a história se passa. Eu ainda não fiz isso com o mundo de Brasiliana Steampunk, ao menos não como gostaria. Antes, o que tenho são linhas do tempo, apontamentos esparsos, reflexões sobre política, cultura e outros elementos que alteram o modo como imagino meus personagens vivendo neste mundo. Como isso é fundamental para mim, acho também fundamental ao leitor. Então, o que estamos tentando produzir, eu e artistas como Bruno Accioly com o site, Jéssica Lang, Karl Felippe e Diego Cunha com as ilustrações, Raul Cândido e Marcus Lorenzetti com o tarô, é criar esse universo paralelo que aprofunde mais e mais o universo da série. Eu adoro mapas, cartas, poemas, registros, diários, anúncios, reportagens, entrevistas – penso nos documentos presentes nos onze capítulos de “Watchmen” –, ou seja, coletâneas de documentos fictícios que nos fazem, por um breve momento, cogitar se de fato, nesse universo infindo de infindos mundos possíveis, não há um cosmos como esse, com heróis e heroínas como esses, vivenciando situações que, se você parar para analisar, não são tão distantes dos nossos próprios dramas, conflitos, angústias. Para mim e para os artistas envolvidos, trata-se de uma diversão bem interessante produzir todos esses conteúdos, sobretudo porque imaginamos quão divertido eles devem ser para leitores e leitoras. Em algum momento, é claro, também pensamos que esses conteúdos ajudarão a conquistarmos mais leitores, sobretudo quando perceberem o respeito que temos pelo tempo que eles dedicam à série. E para nós, esse é a maior recompensa: saber que há pessoas dedicando seu tempo à leitura ou à fruição do que estamos produzindo.
Nota do entrevistador: E isso na minha humilde opinião é algo que todo autor deve ter em mente. Os leitores dedicam seu tempo a suas obras. Os autores dedicam seu tempo escrevendo uma obra para os leitores, mas quanto maior é essa dedicação (criando e expandindo), maior será a recompensa. Um dia farei uma postagem sobre isso rs
A Mesa de Trabalho de Isaías Caminha, por Jéssica Lang
Academia: Sobre isso, como está sendo essa primeira recepção do público a sua obra? Tem alguma história divertida para nos contar?

Enéias: A reação tem sido ótima. Eu não sou um autor conhecido. “Lição de Anatomia” é minha primeira obra, o que certamente deve levar muitos leitores a terem dúvidas sobre a qualidade do texto ou sobre a longevidade da série. E isso é mais do que compreensível. Mas de forma geral, a capa, a editora, a sinopse, todos esses elementos auxiliam a diminuir as dúvidas. E quando os leitores compram o romance e o lêem, as reações são bem positivas. Estou muito feliz com o fato de os leitores perceberem que Brasiliana Steampunk oferece uma experiência de leitura bem incomum. Alguns dos resenhistas têm tecido comentários bem apaixonados e encantadores, o que me motiva muito. Quanto às histórias engraçadas, não tenho muitas, mas tenho uma que me comoveu sobremaneira. Minha amiga e também editora, Bárbara Prince, estava no metrô de São Paulo, lendo a segunda parte de “Lição de Anatomia”, que é contada por Simão Bacamarte. Na frente dela, um menino estava lendo “O Alienista” de Machado de Assis. E lá estavam, dois livros, em 2015, com histórias bem diversas, trazendo o mesmo personagem. Gostei da coincidência e me diverti imaginando como o Simão de Machado encararia o Bacamarte de Brasiliana Steampunk. Há outras coincidências como essas que tem me deixado bem contente.

Academia: Quais são as próximas novidades que aguardam os leitores de Brasiliana Steampunk? Planos para uma possível continuação?

Enéias: Sim. Já comecei a escrever o segundo volume, que tem o título provisório de “O Parthenon Místico” e que contará a origem dessa sociedade secreta em conflito com a Ordem Positivista. Se tudo der certo, ele deve ser publicado entre 2016 e 2017. Enquanto isso, os leitores podem aguardar mais contos inéditos, novas cartas do tarô, entre outras surpresas que temos pela frente, que incluem também um possível jogo de tabuleiro. Quanto aos contos, dentro de duas semanas lançaremos uma noveleta em duas partes, intitulada “Contos Mal Vistos & Retratos Mal Ditos”, que é um spin off para “Lição de Anatomia”. Ela conta e mostra a criação de duas telas que parodiam pinturas de Rembrandt: Uma delas é “A Lição de Anatomia do Dr. Louison” e a outra “A Camarilha da Dor”. O protagonista é um pintor simbolista chamado Basílio de Andrade Neto que recebe de Louison a encomenda das duas telas. Uma delas, apresenta suas vítimas; a outra, os amigos que integram o Parthenon Místico, com o acréscimo de dois sujeitos que se mostram fundamentais ao desenrolar dos eventos mostrados no romance: Pedro Britto Cândido e Isaías Caminha. O conto começa antes do romance e termina depois e funciona como um adendo a tudo o que leitor encontrou por lá, incluindo revelações bem interessantes sobre Beatriz e sua relação com Louison. Os contos terão capas e ilustrações de Diego Cunha, design de Jéssica Lang e apresentações de Ana Cristina Rodrigues e Andre Cordenonsi. Dentro de um mês eles estarão disponíveis no site de forma gratuita, como todo o material que estamos produzindo.
Nota do entrevistador: Meu Deus! Um Jogo de tabuleiro *-*

Academia: Qual autor (a) você indicaria para ser nosso “Parceiro da Academia”?

Enéias: Pergunta difícil, sobretudo neste momento, quando temos tantos autores legais. Mas eu recomendaria Felipe Castilho, cuja saga “O Legado Folclórico” é uma das melhores coisas que temos hoje em termos de literatura fantástica produzida no Brasil. Os dois volumes da série criada por ele, “Ouro, Fogo & Megabytes” e “Prata, Terra & Lua Cheia”, são pura diversão, além de chamarem a atenção para a nossa vívida e fundamental cultura popular. Se eu tivesse filhos, seriam os livros que eu leria pra eles. Com um adendo: para a alegria deles e a minha!

Academia: Para finalizar, gostaríamos de agradecer pela parceria e colaboração com a Academia. Gostaria de deixar um recado para os aspirantes a escritores? E para seus leitores?

Enéias: Aos escritores, não desistam dos seus sonhos e dos seus projetos e saibam que carreira literária é trabalho, e trabalho duro. Não é sobre glamour ou qualquer coisa do tipo. É sobre o prazer de se criar histórias e de se ver essas históricas tocando outras pessoas. Quanto aos leitores de Brasiliana Steampunk, muito obrigado pelas horas que vocês dedicaram à leitura do romance e pelo apoio que estão dando ao meu trabalho, seja nos eventos ou na internet. Deste lado, trabalhando muito para estar à altura da confiança e do carinho de todos vocês. Por fim, muito obrigado à Academia pela parceria e pela oportunidade que estou tendo aqui de conversar sobre meu trabalho. Grande abraço a vocês!



A equipe da Academia Literária DF agradece imensamente a confiança que você depositou em nosso trabalho, a atenção e o carinho dedicados a essa parceria Enéias e esperamos que nossa parceria traga bons frutos. Sucesso em sua carreira!
Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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