RESENHA - Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna (Douglas MCT)

Douglas MCT apresenta aos leitores a jovem Betina, que tem sua vida virada do avesso ao descobrir que é uma vampira filha de Drácula.



Ficha técnica:
Referência bibliográfica: MCT, Douglas. Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna. 1ª edição. Porto Alegre, Editora AVEC, 2018. 290 páginas.
Gênero: Fantasia;
Temas: Monstros, traições, poderes;
Categoria: Literatura Nacional
Ano de lançamento: 2018
Série: Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna (Livro 1);



“- E o seu pai é bem famoso, até
 - Aí, não. Como assim?
 - Vampiro. Literatura. Cinema. Conecte os elementos, vai, eu te dou um tempo para pensar.
 - Tafari…
 - Você já leu sobre ele e deve ter visto filmes também. Sei que é fã de obras do gênero.
 - O meu pai é o Drácula?
 - Sim.
 Vou parando o diário por aqui, por enquanto. ”
*Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna (pág. 71).


Betina é uma jovem que ao completar dezesseis anos descobre que é uma sobrenatural. Como se não bastasse, descobre também que é filha de um dos sobrenaturais mais famosos do mundo: Drácula. A descoberta faz a jovem partir em uma jornada de descobertas por um castelo que guarda grandes segredos, desafios e traições. Tudo isso enquanto ela e seus novos amigos monstros tentam resgatar uma garota sobrenatural da Inquisição Branca, os grandes inimigos dos monstros. E, para isso, eles enviam seu mais implacável caçador: Van Helsing.
                Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna é uma história de fantasia infanto juvenil escrita pelo autor Douglas MCT onde acompanhamos a jovem Betina, uma garota um tanto fora dos padrões ditos normais da sociedade com seu estilo meio gótico. Órfã desde bebê, sua mãe morreu logo após ela nascer e o pai ela nunca conheceu, sumiu sem deixar vestígio. A garota vive em uma cidadezinha do interior de São Paulo chamada Cruz Credo (pois é) e apesar de sofrer bullying por conta de sua aparência trevosa, ela possuía um gênio forte e não levava desaforo para casa, tendo como única amiga uma garota chamada Lucila.

                Assim que Betina completou 16 anos, coisas estranhas começaram a acontecer ao seu redor. Primeiro, uma mulher começou a seguir seus passos na rua e, por ser uma cidade pequena, ela sabia que ela não era dali. Depois uma aparição falou com ela no meio da noite, coisa que ela achou ser fruto de paranoias e muitos filmes de terror. Mas a gota mesmo foi quando, ao ser atacada, a garota não só repeliu o ataque com força muito superior a de um adulto, como despertou a habilidade de virar fumaça. A partir dali a vida da jovem mudaria para sempre.
                Eu conheço o autor já tem um tempo, mas nunca tinha lido algo dele até então. O livro veio como uma cortesia para mim pela Avec (obrigado!) e logo comecei a ler. E devo parabenizá-lo de antemão pela escrita do livro. Primeiro, pelo texto leve e de fácil compreensão; segundo pela ambientação do cenário, quase 100% Brasil, coisa que não é muito comum desse gênero; e terceiro por escolher mostrar uma personagem feminina em sua obra, acredito que tenha sido um grande desafio.
                Outro ponto interessante na história é a escolha pelo uso da primeira pessoa. A medida que a história avança, Betina vai entendendo aos poucos como funciona o universo dos sobrenaturais e vai aprendendo a utilizar seus próprios dons. E por a história ser escrita em primeira pessoa, o leitor vai descobrindo junto com ela. A narrativa em forma de diário ajuda a passar a impressão de que somos confidentes de Betina, o que aproxima o leitor não só dela, mas também do universo no qual ela está inserida.
Algo digno de nota em relação à narrativa são os diálogos. O autor não só usa palavras do nosso cotidiano, como também utiliza gírias nossas de cada dia como “Cara” (é quase o bordão da Betina), “diabos”, “escambau”, “fala sério”, “rolê”, “caramba meu”, entre outros. E eu achei isso muito “daora”. Alguns autores, quando vão escrever um livro, ficam presos à norma culta e se esquecem da ambientação e a proposta dos personagens na trama. Só para nível de compreensão, imagina um adolescente “BR” dialogando sem falar uma gíria. Difícil imaginar, não é?
(IMAGEM)
Por esse ser o primeiro livro de uma série, somos apresentados a todo o universo criado pelo autor. Quem são os sobrenaturais? O que eles fazem? Vampiros, lobisomens, fantasmas, múmias, gigantes, golens. Quais são seus poderes? Quem são seus inimigos? Tudo isso é apresentado até pouco mais da metade do livro. 

            “- Ah, eu adoro essa parte - disse ela enquanto abocanhava o lanche gigantesco. Confesso que eu não sabia se ela se referia ao beirute ou a mim.
- Que parte?
- A que vocês, novos sobrenaturais, começam a me fazer perguntas sobre esse universo recém-descoberto. - Mordeu outro pedaço. - Adoro mesmo!
- Sobrenaturais?
- Viu? Começou. - Ela soltou uma risadinha, depois bebeu um gole da vitamina. O copo era maior que a minha cabeça. - Sobrenatural é o nome que damos para pessoas como nós. Você é vampirada, vira fumaça. Eu falo com espíritos, tenho poderes vodu. Essas coisas. ”
*Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna (pág. 71).
         
E nesse ínterim somos apresentados aos personagens que acompanharão Betina em sua jornada: Adam, um dos filhos de Frankenstein; Tyrone, um lobisomem; e Navas, uma espécie de homem anfíbio. Eles acabam servindo de guia para Betina em sua nova vida no lar dos sobrenaturais. E por falar em lar, não posso deixar de comparar o Castelo da Noite Eterna com a animação “Hotel Transilvânia”. Um lugar criado para que os sobrenaturais ficassem protegidos da fúria dos humanos, com a única diferença que O Castelo da Noite Eterna não é um Hotel e sim uma espécie de base de operações de Drácula e seus aliados.

     “Tudo aquilo era quase como uma fábula, difícil de acreditar. Mas nunca acreditamos que certas coisas podem nos acontecer, até que aconteçam. Apesar de ser bem improvável que algo assim rolasse com frequência e com qualquer pessoa. Não éramos especiais, éramos sobrenaturais. Alunos, amigos, Tutores, irmãos, pais e mães. Uma família. ”
*Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna (pág. 276).

Por ter um tom mais juvenil, a trama acaba caminhando por esse lado sem muitas complicações ou maquinações complexas. Embora a obra tenha um gancho enorme para o próximo livro e algumas reviravoltas bem legais, elas não são difíceis de se entender (e até mesmo de matar a charada antes que se revele), justamente pela proposta do livro mirar (acredito eu) um público mais jovem. E por conta disso algumas coisas me desagradaram (acho que estou ficando idoso), como por exemplo a forma como Betina aceitou a condição de Lucile (sem spoilers) e como a própria Lucile aceitou sua condição; ou aquela “formação de batalha” que os personagens usaram no final do livro. Sei que foi uma referência legal, mas ao menos para mim não “casou” com o momento, até porque aquela era uma batalha contra um dos carrascos mais letais da Inquisição Branca. Não me desceu bem a forma como o combate se desenrolou como um todo, mas é uma opinião pessoal minha e ela não afeta tanto assim o enredo.  
Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna cumpre bem com sua proposta de levar uma história rica em referências à cultura pop. E não são poucas! Principalmente, claro, do universo do Terror. Betina é apaixonada por praticamente tudo relacionado ao terror, em especial os filmes clássicos. E pôr a obra se passar em grande parte no Brasil, ganhou ainda mais crédito e acredito que isso possa atrair muitos jovens a consumir literatura, pois acredito eu que um livro deve dialogar com o seu público e o livro de Douglas faz isso muito bem com o público jovem. Bom, já falei demais, vou deixar vocês com esse gostinho de “quero” ler.
               
              “O bom disso tudo é que, desde então, descobri um lado meu que eu não sabia que existia até o momento. Tomei gosto pela coisa e hoje sou fã de obras de horror, tenho vários gibis dos Contos da Cripta, livros do gênero encontrados em sebos e DVDs de terror doados por quem quiser se desfazer de alguma antiga coleção. ”
*Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna (pág. 18-19).

            Um último destaque: a divulgação. Não tem muito a ver com a resenha, mas preciso comentar. Quando o livro foi lançado, o autor postou um ensaio feito pelo fotografo Douglas Alberto com a cosplayer Tsu Keehl, que deu vida a Betina e o resultado ficou sensacional! Como fotografo, não posso deixar de parabenizar a iniciativa e deixar um aviso aos autores: estou aqui. Me contratem para fazer ensaio temático dos seus livros! HAHAHA. 


             A obra é narrada em primeira pessoa. Acompanhamos os passos de Betina e à medida que o livro avança, somos apresentados a novos personagens da trama e a todo o universo pensado pelo autor. A fluidez da narrativa é ágil, pois como o livro é contato em forma de diário por Betina, o autor habilmente termina os capítulos com algum gancho para o próximo, o que faz a leitura ser mais dinâmica.
Quero destacar aqui o excelente trabalho de diagramação da AVEC. Não apenas pela capa, mas também pelas ilustrações ao longo do livro, que contam trechos da história que estão fora do alcance de Betina e ajudam o leitor a entender pontos não contados por ela, como e-mails, cartas e recortes de jornais. Tudo muito bem ilustrado. Cada capítulo contém uma imagem do que, ao meu ver, é o Castelo e logo abaixo o título (muito criativos, por sinal). São vinte e seis capítulos, divididos em três partes e no fim os agradecimentos do autor e conteúdo extra com a ficha técnica de alguns personagens.


Douglas MCT escreveu O Coletor de Almas e a série de livros Necrópolis, dezenas de contos em coletâneas, além de quadrinhos para a Turma da Mônica, Hansel&Gretel, SUPER e Edgar Alan Corvo. De vez em quando o autor também faz roteiros para TV e Games. Douglas Mora em Socorro, interior de São Paulo, com seus dois gatos, Noite e Frida, com quem costuma tomar café e conversar durante a madrugada.
Recomendo a leitura para as pessoas que estão começando a se aventurar no mundo dos livros. A história de Douglas é divertida, dialoga com a realidade atual, pois trata de temáticas como o bullying e o preconceito, com o adicional de ter clássicos do nosso terror reinventados. É um prato cheio para quem quer uma leitura leve, que tenha vários elementos da cultura pop e que goste do sobrenatural. Vale também a recomendação para aqueles que ainda tem aquele pé atrás com nacionais. Eis aqui um excelente exemplo de obra nacional com potencial para alcançar novos e jovens leitores.


Bibliografia de DOUGLAS MCT (ordem cronológica):
Livros:
  • Necrópolis – Livro 1: A fronteira das almas – Editora Draco (2010); relançado pela Editora Gutemberg em 2012.
  • O Coletor de Almas: As viagens da peregrina do tempo e da terra – Editora Gutenberg (2012);
  • Necrópolis – Livro 2: A batalha das feras – Editora Gutenberg (2012).
  • Betina Vlad e o Castelo da Noite Eterna – Editora AVEC (2018).



Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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