Mês do terror: Eliza (parte 4)




Título: Eliza
Classificação: +14
Gênero: Terror/Suspense
Sinopse: Todos conhecemos alguém como Eliza, uma pessoa que costuma ficar quieta em um canto, fazendo suas próprias coisas, como se estivesse à parte do mundo. Normalmente, pessoas assim são as vítimas preferidas dos valentões (e valentonas) na escola, mas também de quem menos se sabe a respeito. Algumas dessas histórias somem com o tempo, já outras, criam marcas que nunca serão esquecidas. Essa é a história de Eliza e você decide em que categoria ela se encaixa.


Leia antes a parte 1parte 2 e parte 3

4

“Eliza sentiu várias vezes que estava prestes a acordar, mas logo uma fraqueza tomava seu corpo e consciência, fazendo-a adormecer antes mesmo de abrir os olhos. Ainda assim, foi capaz de ouvir diversas vozes e gritos indistinguíveis nesse meio tempo. Com receio do que poderia estar acontecendo, não sabia dizer se preferia continuar dormindo ou descobrir o que estava se passando. Algum tempo após essas idas e vindas de consciência, ela finalmente conseguiu abrir os olhos e ver um céu estrelado através de vigas.
A jovem tentou se levantar, porém uma força contrária a manteve deitada e, graças a lembrança da última vez em que ficou imobilizada, a adrenalina que circulou pelo seu corpo a fez acordar de vez. Eliza olhou ao redor e, em meio a uma luz fraca, vinda de uma fileira de lâmpadas espalhadas na viga central, notou que estava no que parecia um galpão de depósito. Seu corpo estava preso a uma maca, amarrado por cintos, e no desespero por tentar de libertar, sentiu uma dor aguda no ombro que havia deslocado.
Ela tentou enxergar melhor ao seu redor, mas como uma das lâmpadas estava exatamente sobre Eliza, era mais difícil distinguir as formas que descansavam na escuridão. Viu, contudo, que algumas delas se moviam lentamente. Foi então que, em um dos cantos escuros, uma das formas a fez congelar. Era alta e estava quase imóvel, teria passado despercebida se não fosse pelo brilho que emanou de algo em sua mão. A lâmina do um machado, que brilhou devido a lâmpada que estava sobre Eliza. Ao perceber que estava sendo observado, o homem do machado começou a caminhar em direção a garota.
Eliza já havia pensado algumas vezes no que faria caso o assassino que tanto desenhara realmente aparecesse um dia, mas nada a havia preparado para aquele momento. Ela estava congelada por inteiro, sua mente era uma página em branco e tudo o que ela focava era no andar lento e decidido da figura que se aproximava dela. O homem parou ao lado de Eliza, encarando-a, e no momento que levantou o machado, a jovem cerrou os olhos com força, esperando pelo pior. Todavia, com os segundos que se passaram sem nada acontecer, ela voltou a abri-los, temerosa para ver o inesperado.
Sua respiração saiu falha e ofegante enquanto uma teia de sentido se formou na mente de Eliza, fazendo com que ela se questionasse como não havia pensado em algo parecido no momento que leu a notícia. Ao seu lado, com um macacão de operário, luvas, segurando um machado ensanguentado em uma mão e uma máscara tribal na outra, sua mãe a encarava com um sorriso que era quase doentio. A mãe de Eliza começou a explicar sua versão dos fatos. Há anos, durante uma faxina, ela achara os desenhos da filha sobre o homem mascarado. A princípio, achou que era coisa de criança, mas começou a notar que os desenhos sempre tinham haver com o estado em que Eliza chegava em casa.
A mãe dela contou ter percebido que Eliza precisava de ajuda, uma que a filha se negava a aceitar, então começou a medicá-la às escondidas, colocando os remédios na comida ou injetando quando ela adormecia. Sendo enfermeira em um hospital de pesquisa era fácil descobrir quais medicações e doses usar, e até mesmo fazer as aplicações. Sabia, também, que essa era a menor ajuda que Eliza poderia ter, então, discretamente, começou a vingar a filha. Achou uma máscara idêntica a que a jovem desenhara em uma loja de antiguidades e, naquele momento, o artefato pareceu chamar seu nome. Foi então que teve a ideia de investigar cada pessoa que atacava Eliza. Tinha o cuidado de atacar apenas aquelas que não tinham mais vínculos com a garota e da forma mais discreta possível, todavia ao notar que seu colega de trabalho havia abusado da sua confiança e da sua filha, acabou perdendo o controle.
Àquela altura, mesmo ouvindo aquilo da boca de sua mãe, Eliza receava em acreditar que no que estava acontecendo. Preferia acreditar que era apenas mais um pesadelo. Que em breve acordaria e o pior problema que ela teria que lidar era o bullying dos colegas de escola. Eliza queria acreditar que, ao abrir os olhos, estaria na sua cama e descobria que perdera a hora. Todos aqueles pesadelos a teriam impedido de ouvir o despertador tocar. Ela correria para a escola e teria mais um dia de aula. À noite, voltaria para casa e desenharia apenas para alimentar o seu perfil na internet.
Iria queimar todos os desenhos do homem mascarado e nunca mais iria se importar com as brincadeiras idiotas e de mal gosto dos seus colegas, porque nada que eles pudessem fazer seria pior do que aquele momento. Eliza sentiu que tinha aprendido a lição, desejar o mal para as pessoas não era algo bom para ela, só trazia mais sofrimento. Ela sentia que já poderia acordar e encarar o resto da sua vida de forma diferente. Que aguentar qualquer estupidez e toda a busca vã por atenção era melhor do que aguentar aquela tortura psicológica de ouvir sua mãe contando como matava as pessoas que ela desejou que morresse. Ouvir sobre como seu pai havia sido drogado e incriminado para que sua mãe pudesse terminar os assassinatos. Como tudo aquilo estava sendo feito por amor a Eliza.
Quando a mãe dela colocou a máscara novamente e se afastou, a garota não a reconheceu. Nunca fora próxima da mãe, mas também não acreditava que aquilo era possível. Então ela fechou os olhos e tentou relaxar. Ela tentou mentalizar sua cama, a janela, as cortinas que balançavam com o vento. Tentou imaginar o sol da manhã iluminando o quarto e lembrou de cada detalhe. Tudo para que, quando abrisse os olhos, finalmente tivesse acordado daquele pesadelo inacreditável. Contudo, ao abrir os olhos, Eliza estava no mesmo lugar e agora as formas na escuridão estavam mais próximas da luz. A jovem pôde ver alguns dos seus colegas atuais presos em cadeiras de rodas com os quadrinhos, nos quais a jovem desenhara o assassinato de cada um, grudados no peito.
Eliza entrou em pânico e começou a argumentar com a mãe dela. Tentou dissuadi-la de continuar com aquilo, de voltar para a casa e esquecer aquela história. Todavia, a mãe dela parecia surda por trás daquela máscara. Seus colegas pareciam sedados, pois nada faziam além de encarar o vazio com olhos desfocados. Quando Eliza viu o homem, que agora ela sabia que era uma mulher mascarada, caminhando ao redor deles, encarando cuidadosamente os quadrinhos, com a atenção de quem estuda para uma prova, a jovem começou a chorar e gritar por ajuda. Foi então que sua mãe a encarou novamente e caminhou até ela. Sem tirar a máscara ou as luvas enxugou as lágrimas da filha, sujando seu rosto com um pouco de sangue, e fez um gesto de silêncio, então voltou a se aproximar de um garoto que vivia puxando o cabelo de Eliza com força.
A jovem sempre achara uma atitude infantil, mas houve um dia que a perturbação foi tanta que, ao chegar em casa com dor de cabeça, Eliza fizera um quadrinho sobre aquele garoto. Então a mascarada puxou a cabeça do menino pelos cabelos, sem que o garoto oferecesse qualquer resistência. Após um breve momento encarando o rapaz, o machado subiu e desceu com força no meio da cabeça do jovem. Ela continuou dando machadadas até arrancar o couro cabeludo do garoto junto com parte do crânio, que foi fraturado na metade da testa. A dor fez o jovem começar a gritar até que ele desmaiou. O sangue do rapaz escorria com a mesma velocidade que as lágrimas desciam do rosto de Eliza.
Deixando a hemorragia seguir seu curso, a assassina aproximou-se da próxima vítima e, uma a uma, Eliza assistiu as mortes que ela mesma arquitetara sem poder fazer nada. Ela se sentiu impotente como sempre, mas, pela primeira vez em muito tempo, ela queria poder reagir. A vontade de fazer algo para se defender era gigante, mas também queria defender aquelas pessoas. Podia ter pensado em tudo aquilo, mas nunca teve vontade de fazer aquelas coisas. A raiva nunca fora conselheira da razão e por isso ela desenhava. Seus desenhos eram uma forma inofensiva de extravasar como se sentia. Enquanto estivessem escondidos não fariam mal a ninguém, mas ela não tinha pensado na possibilidade real de que eles pudessem tomar vida.
E, nesse momento, o único desenho que faltava voltou à sua mente. Uma vez, revoltada com a sua incapacidade de achar uma saída, de conseguir fazer algo, Eliza se deparou frente a frente com o homem do machado. Em seu desenho, ela reconhecia quem era responsável por toda a bagunça da sua vida. Ela avaliava cada situação e notava que todos os problemas começavam em sua cabeça. Ela criara as situações para aquilo, ela se afastara, ela decidiu não fazer parte daquilo. Decidiu não brincar de faz de conta, abraçar a falsidade e as mentiras do mundo e excluir todos aqueles que agissem daquela forma. Ela escolheu afastar todos.
Afogada em sua soberba, sem perceber, Eliza havia colocado a corda em seu pescoço que agora a sufocava e não achava nenhuma forma para se defender. Ao reconhecer isso, criou um desenho onde o homem com o machado arrancava sua cabeça fora: o lugar onde nascera as ideias, os desenhos e os problemas, mas nunca as soluções. Agora, todos que estavam ali haviam morrido, exceto a própria Eliza. Sua mãe, por trás daquela máscara, parecia ter lido sua mente e se virou para a jovem, começando a traçar novos passos em sua direção. Foi então que um som, ao longe, começou a ficar cada vez mais alto.
A sirene de uma polícia começou a ecoar de todos os lados e, nesse momento, sua mãe a encarou por um longo período de tempo, largou o machado no chão e desapareceu em meio às sombras daquele local. Eliza olhou para aqueles corpos mortos ao seu redor e começou a se desesperar. O que ela faria? O que achariam ao ver seus desenhos ali? O que achariam ao vê-la como única sobrevivente? Sua palavra já havia sido desacreditada tantas vezes antes, por que justo agora acreditariam? A vinda da polícia seria sua salvação, mas ela nunca fora salva antes e suas esperanças já haviam morrido para acreditar que aquela seria a primeira vez. Se o seu sonho havia sido verdade, ao que tudo indicava, Eliza era a principal suspeita e, naquele momento, ela estava, literalmente, no centro de todas as pistas.”




    Continua na parte final...


Autora: Bruna Gonçalves

Idade: 23 anos

Localidade: Brasília



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