"O casamento é uma excelente pedida para quem gosta de romances policias com muito mistério"
Ficha técnica
Referência bibliográfica: BONINI,
Victor. O casamento. 1ª edição. São Paulo, Faro Editorial, 2017.
368 páginas;
Gênero: Suspense policial;
Temas: Investigação, casamento, ameaças, adultério;
Categoria: Literatura Nacional;
Ano de lançamento: 2017
“- Diana, aconteceu um crime lá dentro!
– E antes mesmo de amparar a noiva, que despencou com o choque, Oscar emendou:
- Puta merda, eu preciso de uma bebida.”
*O casamento (pág. 10)
Apesar das
inúmeras diferenças existentes entre Diana e Plínio, algo constantemente
apontado por todos, eles estão prestes a se casar. Para celebrar a união,
família e amigos, mesmo aqueles que não estão muito de acordo com a união, se
reúnem durante um final de semana em um hotel-fazenda com tudo pago. Todavia, o
momento da marcha nupcial torna-se propício para a marcha fúnebre, pois uma
peça importante para realização do casamento é encontrada morta nos fundos do
salão onde ocorreria a cerimônia. Nisso, o detetive particular Conrado (Lyra)
Bardelli, que estava presente no casamento realizando uma investigação
particular, encontra-se envolvido em um caso policial de homicídio. Agora seus
instintos investigativos, junto a sua curiosidade, o impulsionam descobrir
mais, afinal, haveria alguma relação entre os dois casos?
A leitura
desse livro proporcionou diversas reviravoltas na minha opinião sobre ele.
Quando li a sinopse pela primeira vez, achei que a história seria bastante
interessante e minhas expectativas só aumentaram após a leitura de Quando
ela desaparecer. Todavia, ao conhecer o casal principal, logo no começo da
história, meu ânimo diminuiu um pouco. Isso porque Diana e Plínio são, à
primeira vista, uma versão do clichê da popular e o loser, sendo que
isso só se agrava com a perspectiva racista que Diana tem de Plínio.
A partir
dessa apresentação, desanimei bastante, mas decidi continuar a leitura para
descobrir mais sobre o assassinato, torcendo para que o foco narrativo não
fosse tanto nos dois. Contudo, no decorrer da obra, a relação de Diana e
Plínio, de fato, não é a única a receber destaque, porém ela é aprofundada de
maneira extremamente envolvente. Sempre que a relação dos dois é trazida à
tona, ela recebe mais nuances que ajudam o leitor a ter uma compreensão melhor
da relação dos dois e descobrir como pessoas tão aparentemente incompatíveis
acabaram se casando.
Além
disso, adorei rever o detetive Bardelli em ação, dessa vez de forma mais
participativa, já que ele também faz uma aparição no Quando ela desaparecer.
Ele é um personagem bem cativante e sua presença é mais constante neste livro,
afinal ele está diretamente envolvido no caso. Todavia, Lyra não foi o único
personagem que chamou minha atenção nessa história. Victor Bonini conseguiu,
mais uma vez, colocar diversas pessoas interessantes na trama e trabalhá-los
com a medida certa para uma narrativa equilibrada.
Isso
porque o assassinato no casamento não era o único caso a ser investigado, uma
vez que Conrado Bardelli estava na festa a pedido de um cliente, um homem
casado que está mantendo um caso com a irmã do noivo. Alguém descobriu sobre
esse caso e estava ameaçando expor o relacionamento extraconjugal caso o
cliente de Bardelli não pagasse determinada quantia, que ia aumentando de
tempos em tempos. Coincidentemente, talvez até demais, no mesmo casamento em
que Lyra tentava descobrir um chantagista ocorre um assassinato. Entretanto,
para o lamento de Lyra, o detetive não deve se envolver muito no caso, pois
homicídios são departamento da polícia e não de um detetive particular.
Contudo, sua curiosidade fala mais alto, e a suspeita da relação entre os casos
o faz investigar mais, mesmo havendo sido demitido pelo seu cliente.
Com isso,
acompanhamos diversas tramas simultaneamente: o casamento de Diana e Plínio, o
desentendimento entre a família dos noivos, que não estão muito satisfeitas com
o casamento, o caso de adultério do cliente de Bardelli e, claramente, a
investigação do assassinato. Essas tramas acabam envolvendo diversos
personagens bastante interessantes, sendo que temos mais contato com uns do que
com outros. Senti, todavia, que Bonini tem o talento de nos apresentar a
diversos personagens interessantes na medida certa, a ponto de suas obras não
serem tão extensas, descrições desnecessárias de personagens secundários, ao
mesmo tempo que conhecemos bastante dos personagens para formarmos opiniões e
afetos sobre eles.
Essa foi
meu segundo contato com as obras de Victor Bonini, mas pude notar seu talento
em escrever romances policiais envolventes. Mais uma vez me vi guiada ao longo
da narrativa pelo aparecimento de pistas que pareciam peças soltas de um
quebra-cabeças, mas se encaixaram perfeitamente em um final surpreendente. As
obras de Bonini foram uma agradável descoberta desse ano e não apenas
despertaram minha vontade de ler mais obras do autor, como também outros livros
de suspense em 2020.
“A lógica de Conrado Bardelli era o
seguinte: como detetive, tinha uma espécie de autorização social para
investigar a vida particular dos outros. Lei das profissões, ora. Médicos veem
pacientes nus. Advogados sabem os podres dos clientes. Técnicos de informática
checam quais sites você entra. Cozinheiros preparam a sua comida. E detetives
investigam os negócios alheios, oras.”
*O casamento (pág. 192)
A história
é contada em terceira pessoa por um narrador onisciente. Ainda que no decorrer
da história tenhamos idas e vindas na linha do tempo, a história permanece
bastante fluida e envolvente. Parte disso pode ser pela forma como os capítulos
foram divididos, uma vez que, no decorrer do livro, vemos os capítulos
principais, que contam sobre um determinado evento, ser subdividido em diversos
momentos correlacionados. Assim, foi possível entrar em contato com várias
tramas e personagens diferentes sem que a história ficasse confusa ou maçante.
Cabe destacar também o excelente trabalho da Faro Editorial nos aspectos físicos da obra, qualidade que já
percebi ser padrão da editora.
A trama de
O casamento é dividida em quatro partes, sendo que há uma página em cor
preta e um buquê para realizar essa divisão. Além disso, há um detalhe de
sangue escorrendo no início de cada capítulo, mostrando o cuidado em usar
símbolos da história para esses detalhes. A capa também trouxe detalhes em
verniz e alto relevo, além do título em hot stamp, porém a arte em si não chamou
muito da minha atenção. Sabemos que os conceitos de capa estão em constante
mudança conforme o mercado, portanto é difícil julgar uma capa de 2017 estando
em 2019, por isso, posso me ater apenas a minha opinião pessoal que, se fosse
um livro que eu visse hoje pela livraria, o julgamento da capa não faria jus ao
conteúdo.
Victor
Bonini nasceu em São Paulo, morou em Vinhedo, interior do estado, e voltou à
capital aos dezoito anos para cursar jornalismo. Na adolescência, devorou todos
os livros policiais e de terror que pôde encontrar. Na universidade, seu
elogiado trabalho de conclusão de curso, em parceria com Mariana Janjácomo, foi
um livro sobre o caso Pesseghini, apresentando vários aspectos do crime que
chocou o país em 2013. O trabalho não foi publicado a pedido da família das
vítimas. E aos vinte e dois anos, quando lançou seu primeiro livro, Colega de
Quarto, pela Faro Editorial, ele finalmente entendeu que escrever é a forma de
dar vazão a debates internos sobre a lógica de crimes e a mente dos psicopatas
— pensamentos que o assombram como ideias para a ficção, querendo emergir.
Atualmente é repórter da TV Globo, em São Paulo
Minha
principal recomendação de O casamento vai para quem gosta de romances
policiais com muito suspense, pois irá encontrar uma ótima história. Também
indico o livro para quem quer conhecer o gênero e para quem gosta de livros
onde vários personagens são trabalhados e suas tramas se entrelaçam, aspectos
que são bastante encontrados na escrita de Bonini. Por fim, recomendo para quem
gostou de Quando ela desaparecer e deseja, como eu, ter contato com
outras obras do autor.
Bibliografia
de Victor Bonini
Livros:
- Colega de quarto –
Faro Editorial (2015).
- O Casamento –
Faro Editorial (2017).
- Quando ela
desaparecer – Faro Editorial (2019)
Contos:
- Vozes do Joelma – Faro Editorial (2019)
Categorias:
Faro Editorial•
investigação policial•
O Casamento•
Resenhas•
Romance Policial•
suspense•
Victor Bonini