FANFIC - Memórias de uma quase sobrevivente

            

Título: Memórias de uma quase sobrevivente
Classificação: Livre
Gênero: Drama.
Original: The Walking Dead

Sinopse: July tinha apenas 17 anos quando o temido fim do mundo chegou, o apocalipse começou e ninguém entendia como as coisas funcionavam nesse novo mundo, ela teve que descobrir sozinha como sobreviver e cuidar de seus dois irmãos mais novos essa nova realidade.


Memórias de uma quase sobrevivente

            Uma noite tranquila?
            Não sei o que é isso há muito, muito tempo...
            Desde aquele terrível dia não sei mais o que é ter a sensação de estar a salvo, de ter minha família a salvo – ou pelo menos o que restou dela.
            As coisas aconteceram como uma explosão, não havia como prever que o que estava chegando, e se alguém tivesse previsto quem, em sã consciência acreditaria em tamanha baboseira? Fim do mundo? Apocalipse? Mortos se levantando? Pessoas sendo comidas vivas por... zumbis? Há algum tempo eu teria dado gargalhadas se alguém me dissesse isso, mas não hoje.
            Me lembro do primeiro dia como se tivesse sido ontem, eu estava em casa cuidando das crianças enquanto minha mãe e meu pai iam a um almoço beneficente do outro lado da cidade... Se eles não tivessem saído de casa naquela manhã tudo teria sido diferente, disso tenho certeza... Anne e Marcos estavam assistindo televisão enquanto eu lia um livro – coisas tão bobas que fazem tanta falta hoje... A chamada do noticiário chegou de repente e interrompeu o filme que estavam vendo, Marcos resmungou algumas palavras feias e Anne começou a rir da irritação dele mas em seguida se calou.
            - Fiquem em suas casas. – dizia o repórter com a voz tremula e ofegante. – Tranquem portas e janelas. Evitem locais cheios e hospitais.
            Tirei os olhos do livro e foquei a televisão, o repórter do canal 13 estava parado na frente de um vidro – de uma loja, talvez? O suor escorria em seu rosto e ele não conseguia disfarçar o quanto estava apavorado, ele tremia incontrolavelmente e acredito que o cara que filmava estava no mesmo estado de pânico, suas imagens não saiam bem focadas o que não nos impedia de ver nitidamente o cenário atrás dele. Era aterrorizante. O vidro estava manchado de sangue e pessoas machucadas se debatiam contra ele como se não soubessem o que estavam fazendo. Gritos de dor e horror quase sobressaiam a voz do repórter que tentava nos alertar do perigo iminente.
            Por um momento aquelas imagens perturbadoras não me pareceram reais, era como se estivéssemos assistindo a um filme de terror.
            Peguei o controle e troquei de canal só para me arrepender logo em seguida. O outro canal transmitia imagens aéreas do terraço de um arranha-céu onde pessoas se amontoavam por cima umas das outras em um emaranhado estranho. Pareciam leões lutando por um pedaço de carne. Quando a câmera deu o zoom e focou o que estavam fazendo um calafrio percorreu toda minha espinha. Aquilo não podia ser verdade.
            Esse foi o início do fim. Liguei tremula pros meus pais, minha mãe demorou a atender, ela disse que estavam presos na estrada, que o prédio havia sido evacuado e por isso estavam voltando pra casa.
            - Não sei por quanto tempo vamos ficar presos nesse engarrafamento. Estamos ouvindo pela rádio o que está acontecendo. Chegaremos assim que possível, enquanto isso cuide dos seus irmãos, mantenha-os a salvo dessa loucura toda. Nós amamos vocês e... – Fim da ligação.
             A ligação havia caído e essa foi a última vez que ouvi a voz da minha mãe.
             Antes de tudo isso se despedir era algo banal, hoje o significado é outro. Quando se diz um adeus ou um até logo já espera-se que seja a última vez em que irá ver aquela pessoa.
            Ficamos escondidos em casa durante alguns dias. O lado de fora havia sido tomado pelo caos. Os telefones não funcionavam, as notícias da TV só foram piorando até que pararam de transmiti-las.
            Eu sabia que não poderíamos ficar escondidos naquela casa por mais tempo. Os suprimentos estavam se esgotando, precisávamos sair e tentar sobreviver nesse novo e estranho mundo.
            Eu era só uma garota de 17 anos tendo que tomar decisões de vida ou morte. Eu era apenas uma menina cuidando de duas crianças. Anne tinha 14 anos e Marcos apenas 10... Que chances tínhamos em meio ao fim do mundo? Meu dever era mantê-los firmes e corajosos, mas eu estava apavorada, a cada passo que dava o gelo percorria minha espinha porque eu não sabia se aquele passo seria o que nos levaria para a morte.
            Éramos só no três e uma Winchester 22 que meu pai escondia no porão. Se eu sabia atirar? Descobri isso no dia em que um dos mortos atacou Anne. Foi o primeiro tiro que dei. Foi o tiro que salvou a vida da minha irmã.
            É difícil descrever o horror que eu sentia. Eu andava pelas ruas manchadas de sangue... Era tanto sangue que me perguntava se mais alguém teria sobrevivido...  Eu via o terror nos olhos dos meninos, as lagrimas descendo vez ou outra quando passávamos por um cadáver.
            Eu queria chorar, eu queria gritar. Mas não podia. Se eu desmoronasse o que seria dos meus irmãos? Eu precisava me mostrar forte, precisava ser forte para conseguir protege-los.
            As ruas, na maioria das vezes, estavam desertas. Não se via uma vivalma, ao contrário dos monstros, esses eram avistados com alguma frequência. Aquele terrível fedor que emanavam era tão forte que fazia com que meus olhos ardessem, foi difícil conseguir me acostumar àquilo.
            Um dos últimos comunicados que transmitiram pela televisão falaram que havia um lugar seguro.
            Nós precisávamos ir pra lá, mas andando não conseguiríamos, precisávamos de um carro – e eu sabia como roubar um.
           

            - July, nós estamos indo encontrar papai e mamãe? – Marcos disse com a voz embargada. – Eu o olhei pelo retrovisor e seus olhos mareados me encaravam.
            - Marcos... – a voz quase não saia, um nó havia se formado em minha garganta.
            Anne já tinha idade para entender, permaneceu calada com a cabeça baixa. Eu sabia que estava chorando.
            - Marcos. Mamãe e papai estão... Eles não vão voltar. – engoli em seco.
            Ele apenas assentiu e voltou seus olhos para a janela do carro.
            Foi a última vez que Marcos falou sobre eles. 

            As coisas foram se ajeitando - na medida do possível. Aprendemos das piores maneiras como evitar os mortos e como mata-los de verdade. Consegui armas para os dois e os ensinei a atirar - como eu mesma sabia? Até hoje isso é um mistério.
            Levamos muito tempo para encontrar o tal lugar, eu não sabia exatamente onde era, e por muitas vezes errávamos o caminho. Passou muito tempo até tomarmos a direção certa.

            Chegamos ao “local seguro” só para descobrir que era uma enorme mentira.
            A falta de esperança e o desespero que senti naquele momento são indescritíveis. Aquela promessa de um porto seguro para nós três era minha última esperança.
            Cai de joelhos chorando e um grito cortou minha garganta antes que eu pudesse evita-lo. O grito ecoou pelo lugar e essa foi a pior coisa que eu poderia ter feito.
            De onde eles saíram, eu não faço ideia, mas em segundos estávamos cercados por mortos em decomposição que vinham em nossa direção.
            Aquele cheiro horrível aumentava a cada passo lento que davam. Seus estranhos grunhidos me atingiam como calafrios.
            Agarrei minha arma e atirei no que estava mais próximo mas eles eram muitos e não havia como matar todos eles.
            - Corram pro carro. – Eu gritei e agarrei a mão de Marcos enquanto corria.
            Coloquei os dois dentro do carro e me virei. Um deles havia me alcançado e não tive tempo de pegar a arma.
            Olhei de relance para o carro e vi os dois encolhidos me olhando aterrorizados. Uma dor aguda atingiu meu braço um pouco abaixo do cotovelo. Nem ao menos consegui gritar. Só pensava nos dois me olhando com pavor de dentro do veículo. Era meu fim. Era nosso fim. Não havia escapatória. De repente o monstro caiu no chão, morto com uma flecha atravessando seu olho. Meu coração batia tão rápido que era como se fosse sair do peito. Eu não estava acreditando no que havia acabado de acontecer. Um homem segurando uma besta corria em minha direção e gritou para que eu entrasse no carro e eu obedeci. Ele entrou no banco do motorista e arrancou para longe da multidão de mortos que se aproximavam.
            - Você está bem? – ele disse quando estávamos já há uma distância.
            Não respondi.
            - Vou leva-los a um lugar seguro.
            Permaneci calado durante todo o trajeto. Minha cabeça girava. Eu sabia o que me esperava e não sabia o que fazer. Me sentia uma total inútil.
            Ele dirigiu por algum tempo por uma estrada de terra.
            - Chegamos. – Ele finalmente disse.
            Olhei pela janela e logo a frente havia uma cerca enorme, uma não, várias, como nunca havia visto antes, vários prédios... Isso era...
            - Bem-vindos a Prisão.
            Ao nos aproximarmos vi criança correndo no gramado, adultos cuidando de uma horta. Um lar. Um local seguro para meus irmãos. O alivio foi imediato. Parecia um sonho. Era o lugar perfeito.
            Olhei para o homem que dirigia e pedi que parasse o carro por uns momentos. Ele não entendeu, mas obedeceu.
            Descemos do carro e olhamos para o lugar. Abaixei a cabeça e uma lagrima se formou.
            Me ajoelhei na frente dos meus irmãos e segurei suas mãos.
            - Prometi a mim mesma que manteria vocês dois a salvo. Prometi a mamãe que cuidaria de vocês enquanto ela estivesse fora. Hoje vejo essa promessa cumprida. – uma lagrima desceu. Os dois me olhavam sem entender.  – Agora vejo a possibilidade de terem um lar novamente. – eu os abracei o mais forte que pude. – Eu amo vocês mais do que tudo nessa vida. Se cuidem, protejam-se. – Passei vários minutos abraçada com eles e então me levantei.
            - Cuide deles – supliquei ao homem. – Sei que não é sua obrigação, mas eu imploro. – ele assentiu. Ele sabia.
            Os meninos finalmente entenderam. Me abraçaram novamente em meio a lagrimas.
            Os três entraram no carro e eu observei de longe o momento em que entraram na prisão.
            - Eu amo vocês. – sussurrei.

            Sei que não me resta muito tempo, mais uns minutos talvez e será o fim, porém eu precisava contar minha história de alguma forma, sei que talvez ninguém leia essa carta, mas se você está lendo isso deve conhecer os sentimentos que esse novo mundo nos proporciona. Não sei quem você é mas se conhecer Anne e Marcos, diga que os amo.
            Hoje, após muito tempo sei o que é ter um minuto de tranquilidade, poderei aproveitar alguns instantes de uma noite tranquila e vou embora em paz porque sei que meus irmãos estão a salvo.

                                                                      Boa sorte nesse novo e horrível mundo...
                                                                                   July – uma quase sobrevivente.


Autora: Jéssyca Alves.
Idade: 19 anos
Localidade: Brasília
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Comentários
2 Comentários

2 comentários :

  1. Eu li essa fanfic no encarte que a Bienal fez dos concorrentes do concurso. Caraca, muito triste. Mas muito boa. Ah sim, trouxemos um dos encartes para vc guardar. ^_^

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  2. Que bom que gostou *o*, sim é triste, gosto de explorar isso...

    Oba *-------* obrigada obrigada o/

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