Ficha técnica:
Referência bibliográfica: BARRETO,
Fábio M. Filhos do fim do mundo. Rio de Janeiro, Fantasy Casa da Palavra
(Leya), 2013. 1ª edição, 287 páginas.
Gênero: Ficção Científica.
Temas: Extinção da raça humana,
fim do mundo, mistério.
Categoria: Literatura nacional.
Ano de lançamento: 2013.
“O bebê que o Repórter encontrou no berço parecia estar dormindo; num
sono pálido e inerte. Pegou a criança no colo e acariciou o rosto gélido e
macio. Intimamente, torceu por um movimento que nunca veio. Pensou em como
reagiria quando chegasse a hora de ver o corpo sem vida do filho recém-nascido.
O menino tinha um rosto angelical.
Morreu sorrindo.
Mas morreu. Assim como todas as outras crianças no mundo, morreu.”
*Filhos do fim do mundo (pág. 94).
Em uma noite tão comum e
corriqueira quanto qualquer outra, a paz e tranquilidade se desfizeram ante o
desespero. Os bebês da maternidade estavam mortos. Não um ou dois ou três
bebês. Todos. Absolutamente todos os bebês morreram sem causa aparente. O
fenômeno inexplicável estendeu-se por todos os lares onde crianças saudáveis e
normais foram encontradas mortas em seus berços. E em todos os hospitais, mães
em perfeitas condições clínicas pré-parto deram a luz a rebentos inertes e sem
vida. Plantas e animais também compuseram o mórbido mosaico de vitimas do
misterioso mal. E toda a cidade foi atingida pela desgraça. Todo o país. Todo o
mundo. A dor e o desespero se espalharam rapidamente nas primeiras horas da
manhã e o pânico se agigantou perante uma conclusão agourenta e definitiva: com
as vidas de todos os bebês ceifadas e sem novos nascimentos, o ciclo de
perpetuação da espécie estaria quebrado e o fim da humanidade seria questão de
tempo. Pouco tempo. Da dor para o pânico; do pânico para a revolta; da revolta
para a barbárie; da barbárie para o caos; do caos para o fim. Ainda nas
primeiras horas da primeira manhã, os governos de todos os países firmaram um
acordo emergencial a fim de conter a revolta popular diante do até então
incompreensível acontecimento e um plano foi montado na tentativa desesperada
de encontrar uma explicação e, talvez – somente talvez – encontrar uma cura.
Internet, televisões e rádios são suspensos e somente um único jornal de cada
cidade, sob supervisão direta do governo, seria o responsável por veicular as
noticias e o andamento da crise que se avizinhava. E nesse turbilhão de acontecimentos
encontra-se o Repórter. Enquanto a Esposa grávida espera aflita por boas
noticias, ele terá de correr contra o tempo e enfrentar uma frenética jornada
em buscas de respostas e em busca da salvação para o Filho prestes a nascer.
“Filhos do fim do mundo” explora de maneira magistral um tema muito
comentado e muito presente no imaginário de todos os povos e nações: o fim do
mundo. Nas páginas desse livro, a promessa do fim – e não o fim em si – se dá
pela quebra do ciclo da vida. Todos os bebês morrem inexplicavelmente e nenhuma
única criança nasce viva. Plantas e animais compartilham a mesma sina. Sem
crianças, o destino da espécie estaria selado. Sem plantas e animais, a fome
seria o golpe final. Da dor pelas perdas das preciosas jovens vidas ao pânico e
caos ante o vislumbre do não-futuro, o leitor presencia o desencadear dos
acontecimentos que levarão ao fim. E acompanhará os passos de vários
personagens envolvidos na trama, uns mais ativamente, outros menos, mas todos
importantes para o surpreendente desfecho. A corrida frenética contra o tempo
ficará a cargo do Repórter. A urgência de suas ações se deve não apenas por seu
trabalho – seu jornal é a única fonte de informações de sua cidade –, não
apenas pela necessidade de encontrar respostas, não pela tentativa de salvar a
humanidade do fim certo e inevitável. Sua urgência se deve pela frágil
esperança de salvar seu Filho, ainda no ventre de sua Esposa, contando as horas
para nascer.
O autor se esmera em mostrar que
a reação das pessoas diante do inexplicável é, naturalmente, a pior possível.
Que o medo e a dúvida tornam as pessoas irracionais, se agarrando a qualquer
vestígio de segurança que possam imaginar ter. E como qualquer outro animal
acuado e sem opções não hesitará em matar. O pânico e o desespero são quase
tangíveis assim como o ódio e a intolerância. Os conflitos que se apresentam
são de uma verossimilhança que chega a surpreender. Apesar de fictício, muito
do que ocorre ali certamente seria presenciado se algo de tamanha magnitude
realmente acontecesse, pondo em risco a sobrevivência da raça humana.
Pegando carona no fascínio em torno da data do dia 21 de
dezembro de 2012 – data profetizada como sendo o fim do mundo em razão do fim
do calendário Maia –, o Evento Zero se desenrola na noite de 21 para 22 de
dezembro. Entretanto, apesar de se utilizar da conhecida data como gancho para
sua história, o autor Fábio Barreto, não especifica o ano em que os eventos
ocorrem. Também não especifica a cidade ou o país onde a trama principal se
desenrola. Nem mesmo as personagens são identificadas. São pessoas como o
Editor-chefe, o Engravatado, o Capitão, o Médico, o Padre, o Blogueiro, o
Radialista, o Governador, a Primeira-dama, a Senhora... e no centro da trama, o
Repórter, a Esposa e o Filho. Ao não lhes atribuir nomes, Barreto sugere que
qualquer pessoa poderia vivenciar aquelas situações. Que qualquer cidade
poderia ser o palco da trama. Que nenhum país estaria livre dos efeitos da
tragédia. Ao não especificar um ano, um ponto no tempo, ele insinua que poderia
acontecer a qualquer momento, no passado ou no futuro, distante ou não.
Abdicando de nomes ou datas, o autor confere um sentido universal e atemporal a
sua história.
De ritmo frenético, a narrativa traduz a urgência dos
acontecimentos. A trama se desenvolve no espaço de poucos dias e todas as
pequenas reviravoltas prendem o leitor página após página, expectante, ávido
pelo próximo lance. Ao chegar à ultima página, o leitor perceberá que não é o
desfecho da história o que importa e sim o processo, o cenário construído (ou
desconstruído?) ao longo daqueles dias. O foco principal da trama é o
comportamento do ser humano perante uma ameaça. E isso é transmitido com
sutileza e honestidade. Apesar de longos, os seis capítulos que compõem o texto
são bem construídos e estruturados com pequenas pausas entre uma ideia e outra.
A narrativa em terceira pessoa apresenta um narrador imparcial, que assiste a
tudo sem julgar ou emitir opiniões.
“Filhos do fim do mundo”
é o romance de estreia de Fábio M. Barreto, cineasta, jornalista e escritor
paulistano residente em Los Angeles. Nerd de carteirinha, é membro de um dos
podcast sobre cultura nerd e pop mais famosos em terras brasileiras: o
RapaduraCast. Apaixonado por ficção cientifica, Barreto já trabalhou no Sci-fi
News, na CNN e no Brainstorn #9. Os leitores de “Filhos do fim do mundo” verão
um escritor consciente e maduro, capaz de emocionar e surpreender e tornar
plausível um tema enganosamente clichê. Impossível não esperar ansiosamente por
uma nova obra de tão promissor contador de histórias.
Bibliografia de Fábio M. Barreto (ordem
cronológica):
Livros:
- Filhos do fim do mundo – Fantasy Casa da Palavra (2013).
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Resenhas
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca
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Gosto demais desse livro. Ele tem um senso de urgência muito top, me deixou ansiosa do começo ao fim. Fora que é uma perspectiva bem original, diferente de tudo que a mídia tava produzindo em cima do dia 21/dez.
ResponderExcluirQue bom que tem muitas pessoas lendo esse livro. Considero uma das melhoras obras nacionais dos últimos tempos e estou ansiosa pra ver os próximos trabalhos do Barreto. :)
Bjs,
Raquel
www.pipocamusical.com.br
Olá Raquel
ResponderExcluirRealmente, esse livro é de tirar o folego. E bem diferente da maioria das histórias que abordam o fim do mundo. Estou louca pra ler mais um livro do Barreto e espero, sinceramente, que ele não demore muito a escrever o próximo.
Bjus