Ficha técnica:
Referência bibliográfica: PONTES,
Marcelo L. Algoritmos Sagrados: Almas seladas. Campo Grande, Modo Editora,
2012. Coleção Algoritmos Sagrados, vol. 1. 1ª edição, 225 páginas.
Gênero: Ficção.
Temas: Destino, números, fim do
mundo.
Categoria: Literatura nacional.
Ano de lançamento: 2012.
“– Destino? Humanidade? Como números podem influenciar a humanidade? –
perguntou o jovem.
Rogério olhou fixo para o rapaz, estava indignado com a fragilidade da
compreensão dele para com a ciência e, com semblante sério, respondeu
rapidamente:
– Existem muito mais coisas no universo que apesar de não
compreendermos, podem ser expressos em números. A morte dos dinossauros, o
dilúvio, a peste negra, o terremoto de Lisboa, entre outras calamidades, acha
que ocorreram por acaso? Não! Os números meu rapaz, os números são os culpados.
– ele fez uma pausa. – Talvez não
tenhamos o controle sobre nosso futuro, mas se existe algum Deus que previu
muitas catástrofes, significa que Ele conhece os números.”
*Algoritmos Sagrados: Almas seladas (pág.
12).
O que rege a vida das pessoas?
Há de fato alguma força que comanda tudo e todos no universo? Existe destino?
Há meios de prevê-lo ou conhecer seus caminhos? Duas almas podem estar
entrelaçadas? Almas podem ser amaldiçoadas, portadoras do mal?
Layla Aina e Victor Siegfried
nasceram no mesmo dia e no mesmo momento: 29 de fevereiro de 1992, um ano
bissexto. Embora partilhando tamanha coincidência (ou não?), ambos tiveram
vidas muito distintas. Fruto de um casal muito pobre, o nascimento dela foi
marcado pela tragédia. A criança veio prematura – ao sétimo mês de gestação –,
causando muito sofrimento à mãe que faleceu logo após dar a luz. Órfã de mãe e
abandonada pelo pai – que a culpava pela morte da mulher amada –, Layla foi
criada pela avó que dizia que ela era amaldiçoada. Ao seu redor, tudo era dor e
tristeza. E morte. Como em um jogo cruel, durante toda a vida Layla presenciou
o trágico fim das pessoas que a quiseram bem, carregando em seu corpo uma
cicatriz para cada morte, como um lembrete daqueles que perdera. E ela teve uma
vida pobre, miserável e marcada pela solidão e pela perda. Ele, ao contrário,
nascera de um casal rico, seu nascimento tendo ocorrido de uma forma
anormalmente tranquila e indolor. Abençoado com carisma, sorte, inteligência e
muito talento para todas as habilidades que desejasse, Victor cresceu cercado
por riqueza, afeto, mimos e amor. Um garoto que teve tudo o que queria e
destinado a ser incapaz de sofrer. Layla e Victor: dois lados de uma mesma
moeda; dois seres opostos, predestinados a se encontrarem, se apaixonarem e
viverem um amor avassalador e inexplicável. Paralelamente à história do jovem
casal, a descoberta de antigos códices maias traz algumas revelações sobre os
antigos rituais de sacrifícios humanos e sobre os motivos pelos quais eram
realizados. Entretanto, a morte acompanha aqueles que tem contato com os
antigos artefatos e, segundo a contagem de tempo dos maias, um ciclo esta se
fechando e algo está para acontecer.
“Almas Seladas” é o primeiro volume da série Algoritmos Sagrados. A
trama gira em torno do casal formado pelos adolescentes Layla e Victor, ambos
de 16 anos. Vivendo vidas radicalmente opostas e em cidades diferentes, eles
não teriam como se conhecer não fosse o destino. E quando isso acontece, o amor
surge tão forte e arrebatador quanto somente algo como “destino” pudesse ser
capaz de explicar. Até esse ponto, a narrativa se dedica a descrever a vida de
sofrimentos de Layla. Em outros capítulos, o protagonista é Victor, com sua
vida cujo único adjetivo a altura é: “perfeita”. Quando eles finalmente se
encontram, a princípio a trama se envereda por um romance um tanto açucarado. O
garoto faz uso de todas as suas habilidades, status e bem-aventurança para
tornar os poucos dias em que passa com a amada algo mágico e especial para ela.
A garota se esforça para curtir e aproveitar ao máximo os tão inesperados e
incomuns momentos de felicidade, enquanto teme que a maldição que acredita ter
novamente lance sua fúria sobre o homem que ama. Paralelamente, os mistérios envolvendo
um grupo de cientistas que se dedicam a estudar acontecimentos catastróficos e
suas relações com os números se mesclam à descoberta de códices maias que
trazem importantes revelações sobre o porquê o antigo povo praticava
sacrifícios humanos, jogando uma pitada de misticismo sobre a narrativa. Entretanto,
o ápice da trama é decorrente de uma guinada surpreendente da história,
tornando o ritmo da narrativa tão frenético quanto os acontecimentos com os quais
o casal protagonista – e também seus amigos –, se envolvem. E no final, somente
no final, as pontas da trama parecem se conectar e, numa reviravolta de fazer
cair o queixo, o autor lança um enorme gancho para a continuação da história no
segundo livro da série. E, acreditem, um gancho que muda radicalmente o tom e os
rumos que a trama delineava até então.
Narrado em terceira pessoa, “Algoritmos Sagrados: Almas Seladas” é um
livro que flerta com o misticismo e com a ideia de destino, predestinação e
profecias. Mas nesse primeiro volume, essas questões são apenas esboçadas. O foco
é apresentar os personagens, principalmente Layla e Victor, e introduzir a
engrenagem geral que movimenta a trama. De um modo geral, é uma preparação para
o que está por vir no segundo volume. Tanto que é a última – sim, a última –
frase do livro que causa o maior impacto. A diagramação do livro é linda, com
uma ilustração bem colocada e com o posicionamento do número de páginas em um
local pouco convencional e muito interessante. Outro ponto forte são as
citações de diversas fontes presentes no início de cada capítulo. Mas nem tudo
são flores. A revisão é sofrível. Diversos erros estão presentes ao longo do
texto, dos mais sutis aos mais gritantes, ao ponto de incomodar mesmo os
leitores que em geral não se abalam com tais “detalhes”.
A mente por trás dessa história
é Marcelo L. Pontes, paulista da capital, nutricionista e amante das artes
(músico, pintor e escultor) e da literatura (leitor e escritor). Embora “Algoritmos Sagrados: Almas Seladas” seja
seu primeiro romance, Marcelo já havia publicado um sistema genérico de RPG (Role-playing game) intitulado “Signus” na década de 1990. A série “Algoritmos Sagrados” é uma saga para aqueles que apreciam histórias
carregadas de simbologias e misticismos e, principalmente, para aqueles que
estejam dispostos a ser surpreendidos e pagar pra ver.
Bibliografia de Marcelo L. Pontes (ordem
cronológica):
Livros:
- Algoritmos Sagrados: Almas Seladas – Vol.1 – Modo Editora (2012);
Sistema para RPG:
- Signus (1997).
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Resenhas
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca
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