Gêneros Literários: Você sabe o que é Distopia?



            Começamos nossa coluna Gêneros Literários com uma postagem explicando o que era Chick Lit. E ficamos devendo outras postagens semelhantes. Nossas sinceras desculpas. Mas agora reativamos a ideia e, para recomeçar com chave de ouro, vamos falar de um gênero super em alta na preferência dos leitores...
Nós da Academia queremos saber: você sabe o que é Distopia?

Vejamos o que diz o dicionário:

Dicionário Informal:
Antítese da utopia, utopia negativa.

Dicionário Online de Português:
Local imaginário, circunstância hipotética, em que se vive situações desesperadoras, com excesso de opressão ou de perda.
Quaisquer demonstrações ou definições de uma associação social futura, definida por circunstâncias de vida intoleráveis, cujo propósito seria analisar de maneira crítica as características da sociedade atual; além de ridicularizar utopias, chamando atenção para seus males; antiutopia.

Priberam Dicionário:
Ideia ou descrição de um país ou de uma sociedade imaginários em que tudo está organizado de uma forma opressiva, assustadora ou totalitária, por oposição à utopia.


Etimologicamente, a palavra distopia deriva da conjunção dos termos gregos dys (ruim, mau) e topos (lugar) formando um conceito que pode ser compreendido como “lugar ruim”. Historicamente, a palavra foi cunhada e usada pela primeira vez por John Stuart Mill em 1868 durante um discurso na Câmara dos Comuns inglesa. Na literatura, distopia é a antítese da utopia (bom lugar). Enquanto esta representa uma idealização da sociedade e do mundo, onde a vida aproxima-se da perfeição e onde tudo é feito e construído pela felicidade e bem-estar geral; aquela é o retrato de um mundo opressor e cruel oriundo de um sistema totalitário ou de um evento apocalítico ou ainda uma junção de ambos.
As histórias distópicas usualmente se passam no futuro. Por vezes, um futuro próximo, onde algo ou alguém provoca uma mudança drástica na estrutura da sociedade; e por vezes num futuro distante, normalmente não datado, onde os efeitos dessa mudança já estão consolidados e enraizados no modo de vida das pessoas. Os enredos geralmente tratam de situações extremas onde a população vive sob o jugo de uma ordem vigente que a desencoraja ou incapacita de cultivar ou expressar traços de liberdade individual, social ou política. Eventualmente retrata uma população alienada sobre sua condição de refém que é levada a acreditar que certas concessões são validas em nome da coletividade e do bem comum. Às vezes retrata uma sociedade subjugada à força em nome de um ideal. Mas sempre há um esforço por parte da instituição autoritária (o governo ou qualquer outra), apoiado na ignorância coletiva ou na imposição forçada, para se mantenhar o controle sobre as massas. Nesse panorama, a principal engrenagem da trama geralmente se baseia no não-conformismo de um personagem ou um grupo de personagens frente à sua realidade. As razões que levam esse elemento a se rebelar contra a ordem vigente podem ser as mais variadas – idealismo, pressão, egoísmo, vislumbre de um conhecimento ocultado pela elite – mas sempre é o estopim para uma grande quebra de paradigmas por ele próprio e por aqueles que o cercam. O choque entre o sistema e o elemento destoante é, portanto, o motor que move a história.
Apesar de aparentemente excludentes, utopia e distopia podem nutrir íntima relação. Em algumas histórias, a distopia nasce da corrupção de uma utopia. Quando um aparente mundo perfeito, organizado, ordenado, se transmuta em um mundo opressor, aprisionante, sufocante, como no caso da saga “Divergente”. Quando um governo pautado na ideologia do bem comum, da igualdade entre todos e da distribuição justa dos bens se revela uma instituição totalitária e ditatorial que elimina sem quaisquer escrúpulos seus oponentes, assim como retratado em “1984”.  Quando uma inovação tecnológica que a princípio deveria facilitar ou melhorar significativamente a vida das pessoas, torna-se um instrumento de controle e subjugação, como exemplificado em “Admirável mundo novo”. Ou ainda quando algumas fraquezas ou imperfeições humanas são eliminadas com a ajuda da ciência mas que posteriormente se mostram primordiais para a humanidade das pessoas, como na saga “Delírio”. Em todos esses casos, e em tantos outros mais, o mundo opressivo se apresenta camuflado por falsas ideias de busca por um mundo ideal, uma imagem que se vende para a população para encobrir os verdadeiros objetivos da elite dominante. Nas palavras de J. M. de Sousa Nunes, do E-Dicionário de Termos Literários:

“A distopia está para a utopia como o acordar de um sonho progressivamente degenerado em pesadelo, ao desmitificar a tentação de transformar uma idealização utópica (necessariamente lacunar) em sistema de despótica aplicação.”

Outra vertente desse gênero literário retrata mundos e realidades distópicas resultantes de eventos apocalípticos. Aqui, a matriz da história é o caos e a barbárie resultantes de enredos onde a sociedade precisa se redescobrir e se reinventar após ser confrontada e por vezes quase aniquilada. Epidemias virais, catástrofes naturais, invasões alienígenas, surgimento de zumbis, o despertar de consciência em máquinas dotadas de inteligência artificial, ou qualquer coisa capaz de ameaçar seriamente a vida humana torna-se um bom argumento para esse tipo de distopia. Essa vertente bebe na fonte da ficção científica e tende a mostrar um lado mais instintivo do ser humano, uma posição que coloca a sobrevivência acima de qualquer coisa.
Filosoficamente, a distopia existe como uma crítica à sociedade atual e aos seus valores e problemas evidentes ou latentes. Reforçando as características negativas da realidade, o objetivo é conscientizar o leitor dos problemas reais intensificando-os e escancarando-os em um mundo imaginário. Mesmo com elementos fantásticos ou pouco verossímeis, é um gênero fortemente enraizado no mundo real e que explora a imaginação para causar um choque de realidade. A literatura distópica é marcada por narrativas geralmente densas e pesadas. Dentre suas principais características estão:

- Visão e discurso pessimista sobre o mundo, as pessoas e as instituições;
- Crítica social;
- Projeção e exacerbação dos problemas atuais no futuro;
- Exploração da estupidez e ignorância coletiva;
- Centralização do poder e do conhecimento por uma elite dominante e/ou governo;
- Generalização e banalização da violência.

A distopia como gênero literário remonta à época da 1º Guerra Mundial, quando o horror de um conflito armado com proporções globais fomentou o pessimismo quanto ao que o futuro reservava. A animosidade entre EUA e Rússia durante a Guerra Fria, a loucura eugênica de Hitler e os nazistas durante a 2ª Guerra Mundial e os muitos governos ditatoriais instaurados durante o século XX foram um bom combustível para a crescente popularidade de obras com teor distópicos. Atualmente, o gênero reaparece com força total em obras para o chamado público Young Adult (jovem adulto), com exemplares de grande sucesso de vendas e cujas adaptações cinematográficas foram e são sucessos estrondosos de bilheteria.
Confira abaixo algumas dessas obras representantes do gênero:



Literatura Estrangeira:
- 1984 (George Orwell);
- Admirável mundo novo (Aldous Huxley);
- Fahrenheit 451 (Ray Bradbury);
- Série “Delírio” (Lauren Oliver);
- Série “Divergente” (Verônica Roth);
- Série “Feios” (Scott Westerfeld);
- Série “Jogos Vorazes” (Suzanne Collins);
- Série “Legend” (Marie Lu);
- Série “Maze Runner” (James Dashner).


George Orwell

Aldous Huxley

Ray Bradbury


Lauren Oliver

Verônica Roth

Scott Westerfeld

Suzanne Collins

Marie Lu

James Dashner




Literatura Nacional:
- Cyber Brasiliana (Richard Diegues);
- Rio 2054 (Jorge Lourenço);
- Série “Anómalos” (Bárbara Morais);
- Série “A rebelião das almas” (Flávio Vieira);
- Série “Supernova” (Renan Carvalho).









Créditos:
- Imagem principal: Editora Rocco.
- Imagens de capas: divulgação.

Fontes:
Helkem Araujo

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca
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Comentários
6 Comentários

6 comentários :

  1. Helkem, parabéns pelo post, acho super legal abordar essa assunto.Tem muitas pessoas que leem este tipo de literatura e não fazem a minima do realmente é.
    Beijos.
    www.pontoparaler.com.br

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  2. Oi Paulo.
    Então, eu gosto muito de assuntos teóricos. Gosto mesmo. Me diverti (e me descabelei tbm) fazendo meu Ensaio Teórico e minha "monografia" na faculdade, que era de Arquitetura. E não podia deixar de me interessar um pelas minúcias dos gêneros literários. Vivo pesquisando. Acho fascinante.
    Mas como tudo nessa vida, essas categorizações de gêneros literários são bem elásticas e acaba que uns possuem elementos de outros e vira (quase) tudo uma grande salada-mista.
    Mas acho importante esclarecer, dentro do possível, o que é o que. Por isso essa coluna.
    Espero conseguir ajudar as pessoas entenderem porque tantos livros tem temáticas tão parecidas.

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  3. Oi oi Helkem,
    Apesar de gostar do gênero, tenho que tomar cuidado, porque eu tenho uma certa preguiça de ler series de tal gênero, eu me enjoo, e poucas realmente me ganham, porém livros de um só volume facilmente me conquistam, entre os que você listou, o meu preferido (e um dos meus livros preferidos de toda vida) é Admirável Mundo Novo, pra mim é uma distopia mais ousada do que as distopias já costumam ser, principalmente pelo contexto da época que foi publicado!
    Parabéns pelo post, gostei muito de poder conhecer o gênero em si, agora vou ler os post sobre Chick Lit!!

    Beijos!
    SeteCoisas.com

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    1. Oi Bruno
      Falam tão bem de "Admirável Mundo Novo" que fico muito curiosa pra ler. Gosto muito de distopia. Mas algumas das séries atuais são muito parecidas umas com as outras.

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  4. Amei a postagem, é muito bacana essa explicação dos gêneros, vou tentar ler a do chick-lit
    Nem me fala de Distopia, o meu tcc é sobre isso e tenho que pesquisar bem afundo esse tema
    Mas gostei bastante da sua resenha, dá para entender bem do que se trata esse gênero literário
    E quando a gente começa a estudar descobre que cada filme e livro que nem imaginávamos se trata de uma distopia
    Já estou seguindo ;)

    Beijos
    http://pocketlibro.blogspot.com.br

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  5. Oi Ângela
    Seu tcc é sobre distopia? Que legal. Nem preciso dizer que fiquei mega curiosa. Se for disponibilizá-lo em algum lugar, não esquece de avisar ;)

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