RESENHA - O Príncipe de Westeros e Outras Histórias

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: R. R. MARTIN, George e DOZOIS Gardner. O príncipe de Westeros e outras histórias. 1ª edição. Rio de Janeiro, Saída de Emergência, 2015. 480 páginas.
Gênero: Diversos.
Temas: Canalhas.
Categoria: Literatura Estrangeira.
Ano de lançamento: 2015.















“- Não seja modesto, bardo. Você já tem canções que são mais velhas que nós dois juntos.
- Então me conte a sua história. Ou me conte a versão que você quer que eu ouça.
- Não a... verdadeira?
- Ninguém jamais conta a verdade sobre si mesmo. Nós contamos o que queremos que os outros julguem, para o bem ou para o mal. E, quando eu tiver ouvido a sua história, talvez acrescente alguma coisa nela – disse, assoprando o chá para esfriá-lo antes de tomar um gole. – Talvez eu cante sobre a nossa visita às torres da cidade perdida que tocam o céu. Ela tem um nome?”
*O príncipe de Westeros e outras histórias (pág. 243).


Afinal, o que define um canalha?
            Suas atitudes? Suas manias? Seu modo de viver a vida?
        Eles têm muitos nomes. Ladrões, vigaristas, malandros, crápulas, trapaceiros, sedutores, impostores, mentirosos, malvados e uma sorte de outros títulos nada nobres, mas que mesmo assim os enchem de orgulho.  
Eles estão entre nós. Eles aparecem em histórias de todos os tipos e de qualquer gênero.  Basta pensar um pouco e logo surge em nossas mentes a figura de um canalha (você mesmo, leitor, pode ser um). Quer exemplos? Han Solo para os fãs de ficção científica. Jack Sparrow para os amantes de uma boa aventura. James Bond para os apaixonados por ação. Tony Stark nos quadrinhos. Doutor House nas séries. Alladin nos desenhos e vários outros. Às vezes eles passam tão despercebidos que mal os associamos à palavra. Às vezes os xingamos e maldizemos justamente por associá-los à palavra e às vezes os amamos muito mais que os mocinhos justamente por serem canalhas.
             “O príncipe de Westeros e outras histórias” parte desse princípio e apresenta aos leitores dez histórias inéditas de grandes nomes da literatura mundial. Cada um deles deu o seu próprio significado a palavra. Na introdução “Todo mundo ama um canalha” George Martin diz o seguinte:

            Nosso tema é universal, e Gardner e eu amamos boas histórias de todos os tipos, não importa em qual tempo, lugar ou gênero elas estejam. Então, saímos por aí e convidamos autores bem conhecidos dos mundos da fantasia épica, de espada e magia, fantasia urbana, ficção científica, românticos, mainstream, do mistério (leve ou hard boiled), thrillers, históricos, faroeste, noir, horror... opções à vontade. Nem todos aceitaram, mas muitos toparam, e o resultado está aí, nas próximas páginas. Nossos colaboradores formam uma equipe de elite com autores premiados e best-sellers, representando uma dúzia de editoras e gêneros diferentes. Pedimos a cada um deles a mesma coisa — uma história sobre canalhas, cheia de boas reviravoltas, planos ousados e reveses. Não impusemos nenhum limite de gênero aos nossos escritores. Alguns deles escolheram escrever no gênero que conheciam melhor. Outros tentaram algo diferente" – George Martin, pág 15

Então, leitor, espere por histórias de diferentes estilos literários nessa obra. Espere por muitos tipos e estilos de canalhas.
Eu não me identifiquei com todos os contos. Esse é um dos problemas das antologias. Você pode encontrar e se empolgar com um conto extraordinário, para na página seguinte encontrar um conto não tão bom assim ou não tão empolgante. Foi assim que me senti lendo essa obra. Fiquei empolgado com alguns, arrastei outros e pulei (sim, pulei) um dos contos porque não conseguia avançar na leitura de maneira alguma. Talvez um dia eu volte e tente ler novamente. Talvez. Os contos que eu mais curti foram:
Providência: conta a história de uma famosa obra de arte que passou por vários donos através dos séculos. De entusiastas de obras de arte a nazistas. A história é muito bem escrita e tem um final completamente (ao menos para mim) inesperado;
Qual é a sua profissão: Conta a história de uma mulher especializada em... masturbação masculina. Por conta de um problema no pulso (¯\_(ツ)_/¯) acaba se tornando uma “vidente”, aceitando um caso que parecia comum no início, mas que acaba tornando-se algo bastante perigoso. A história é um misto de horror e mistério;
A caravana para lugar nenhum: fala sobre o bardo Alaric, que é contratado por um mercador para animar com suas canções os homens que têm de fazer uma jornada difícil por um deserto, onde espíritos e miragens espreitam sob as dunas. Adorei o “dom” do personagem central;
A Árvore Reluzente: conta a história de Bast, um garoto muito inteligente e metido a esperto que “ajuda” outros garotos a resolverem seus problemas em troca de favores ou informações importantes. O conto mostra o quanto crianças podem ser espertas.
Minha crítica vai para o uso exagerado do nome do Martin na obra. Certo, só mencionar o nome dele em um livro já é sinônimo de vendas (o que sempre é uma boa jogada de marketing), mas existem outros autores excelentes nessa antologia. E justamente por conta do nome do seu conto “O Príncipe de Westeros ou o irmão do rei”, resolveram colocar como título da obra. Achei desnecessário e um pouco desrespeitoso com o trabalho dos outros autores. Fiz uma pesquisa na internet e vi que o nome da coletânea é Rogue (“Trapaceiro”. Imagem abaixo). O nome do Martin aparece com destaque, mas nada tão agigantado quanto na edição brasileira. Numa primeira impressão, o mote central de todas as histórias (os canalhas) fica nublado pela referência ao mundo criado pelo autor.
No geral, os contos são ótimos e o time escolhido por George Martin é espetacular. São vários estilos, vários gêneros e várias “espécies” de canalhas. Cada um dos escritores falou a seu próprio modo como é ser um e aposto que você, leitor, vai se identificar em algum momento com pelo menos um deles.
Como são vários contos, são vários estilos de narração que o leitor irá encontrar nas dez histórias.  Não existe um padrão. “Como o Marquês recuperou seu casaco” é narrado em terceira pessoa, ao passo que “Qual é a sua Profissão” é narrado em primeira pessoa. A fluidez da narrativa é tranquila em quase todas as histórias. Os personagens são no geral bem construídos, mas o leitor não irá encontrar um grande aprofundamento dos mesmos nas histórias, por se tratarem de contos. A revisão peca algumas vezes, mas nada que interfira no desenrolar da leitura. A formação e a diagramação estão ótimas, com fontes confortáveis para leitura e folhas amareladas. Os contos são separados por duas páginas negras com o título do conto, o nome do autor e o nome da pessoa que traduziu para o português e atrás uma breve biografia do autor. A capa é maravilhosa e chama muita atenção com cores fortes e título em relevo. No início do livro temos um sumário e ao final algumas páginas com outros títulos da editora.
George R. R. Martin é autor de vários best-sellers, incluindo a aclamada série "As Crônicas de Gelo e Fogo", que deu origem à premiada série de TV "A Guerra dos Tronos". Como roteirista e produtor, trabalhou em "Além da Imaginação" e em vários outros projetos. Atualmente vive com a esposa, Parris em Santa Fé, no Novo México.
Gardner Dozois já ganhou quinze prêmios Hugo por seu trabalho como editor, além de dois prêmios Nebula como escritor, na categoria melhor conto. Foi editor de Asimov's Science Fiction por vinte anos e já escreveu e editou mais de cem livros, incluindo vários volumes da The Year's Best Science Fiction.
Recomendo a obra para todos os fãs de literatura fantástica. Os contos são um prato cheio para quase todos os tipos de leitores. Temos aventura, mistério, romance, suspense, comédia... Nem preciso dizer que fãs dos autores que assinam a obra devem ter esse livro em mãos, pois os contos são totalmente inéditos. Alguns estão trazendo antigos personagens de volta as páginas dos livros depois de muitos anos de hiato. E por fim, aos leitores que se identificam com um canalha.


Autores participantes da Antologia:

  • Connie Willis
  • David W. Ball
  • George R.R. Martin
  • Gillian Flynn
  • Joe R. Lansdale
  • Neil Gaiman
  • Patrick Rothfuss
  • Paul Cornell
  • Phyllis Eisenstein
  • Scott Lynch





Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
5 Comentários

5 comentários :

  1. Quando li essa obra também não me identifiquei com todos os contos haha
    Na verdade gostei de um ou dois, não me lembro muito bem quais deles...
    Foi um livro que deu para distrair, mas alguns contos foram massantes e não tive coragem de pular, como você. É o tipo de livro que não voltaria a ler...

    Beijinhos ;*
    http://www.guardiadebibliotecas.com.br/

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  2. Oi, Luciano. Eu nunca me dei muito bem com contos mas hoje em dia estou tentando encara-los de forma diferente. Boas histórias podem sair de livros assim e preciso de uma chance.
    Jurava que esse livro tinha algo relacionado apenas com GOT, acho que por causa do nome de capa. ;\
    Achei o tema bem interessante e concordo sua colocação sobre sermos canalhas. Acho que todos temos um pouco disso.

    Beijos.
    Blog Cantar Em Verso

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  3. Luciano estou com esse livro em casa e até o momento só li o primeiro conto que não me agradou muito. Mas já havia lido A árvore Reluzente, só queria aproveitar para esclarecer que Bast não é exatamente uma criança apesar de todos os outros personagens serem, ele é personagem de As Crônicas do Matador do Rei e um dos melhores neste gênero, junto com seu mestre o estalajadeiro "Kote". Ademais estou curiosa com os outros contos, mas não tive muito tempo para ler ainda, quanto a capa concordo com você, apesar de Martin ter organizado não achei justo terem dado tanta enfase assim ao seu nome.

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  4. Olá, esse livros esta sendo muito bem comentado e parece que todos os contos são bem escritos, ainda não tive a chance de conhecer a escrita da maioria dos autores participantes e isso me deixa com mais vontade de lê-lo e aproveitar para conhecer a forma que os autores apresentam seus contos *--* Enfim espero poder lê-lo em breve *--*

    Visite "Meu Mundo, Meu Estilo"

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  5. Não curto contos, e também não sou fã de histórias com canalhas. Então vai ser difícil me interessar por esse livro um dia... não curti isso de terem trocado o título para focar ainda mais no George R.R. Martin, concordo que foi meio desrespeitoso com os outros autores.

    beijo!

    Ju
    Entre Palcos e Livros

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