RESENHA – Tomb Raider: Os Dez mil Imortais (Dan Abnett)

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: ABNETT, Dan. Tomb Raider – Os Dez mil Imortais. 1ª edição. São Paulo, Editora Nemo, 2016. 220 páginas.
Gênero: Aventura
Temas: Mitologia, exploração, arqueologia
Categoria: Literatura Estrangeira; Literatura Inglesa;
Ano de lançamento: 2016









“Lara Croft se considerava sortuda. Era jovem e forte, e estava em boa forma, tanto física quanto mental. Estava recebendo ajuda para superar seu transtorno de ansiedade, e sabia que ficaria bem. Suspeitavam que tivesse Síndrome de Estresse Pós-Traumático, mas ela se recusava a aceitar o diagnóstico. Isso dizia respeito a pessoas que haviam sofrido profundamente com esse problema, pessoas que sofreriam por toda a vida e seriam mudados para sempre. Ela não seria uma dessas pessoas.”
*Tomb Raider – Os 10 mil Imortais (pág. 7).

Assombrada pelas lembranças de sua aventura pela ilha de Yamatai, Lara queria mais do que qualquer coisa esquecer o pesadelo que foi sua primeira expedição. Porém, os males de Himiko não foram expurgados e sua amiga Samantha fica novamente entre a vida e a morte, obrigando-a a relembrar o passado enquanto busca uma cura para sua melhor amiga.
Tomb Raider – Os Dez mil Imortais, do autor Dan Abnett, transporta direto dos games uma adaptação inédita da maior exploradora do mundo dos games. Na história, Lara embarca em uma nova jornada para salvar sua melhor amiga, acometida pela maldição remanescente de Himiko. Suas pesquisas a levaram a ir em busca de um antigo e misterioso artefato capaz de curar sua amiga e resolver de vez os eventos testemunhados em Yamatai.
Primeiro eu preciso deixar registrado que foi com muita empolgação que joguei e zerei Tomb Raider (2013), o reboot da franquia que reconta a história de Lara Croft desde o começo de seus dias como exploradora. Então, foi também com muita empolgação que comecei a leitura desse livro, esperando ver como a exploradora seria retratada em outra mídia.
Registrado isso, devo confessar que me decepcionei com a leitura dessa obra e vou explicar o porquê.
A heroína nós seus 20 anos de existência. Mudou um tiquinho, né?
Adaptações de jogos estão em voga hoje em dia. Assassin’s Creed, World of Warcraft, Star Craft, Halo, God of War etc. É necessário um cuidado especial com aquilo que você quer adaptar, já que são duas mídias totalmente diferentes. E em “Os Dez Mil Imortais”, o autor não tomou esse cuidado, já jogando na cara do leitor que isso e aquilo estão acontecendo e ela tem de fazer isso e aquilo para resolver. Então vem o primeiro problema. Você tem de saber ali na hora de antemão o que está acontecendo porque este livro não é uma adaptação do jogo, é uma continuação, que se passa alguns meses após sua conclusão.

Dito isso, vamos ao maior problema do livro: é pré-requisito ter jogado o game “Tomb Raider”, lançado em 2013 para X-box 360, Ps3 e Pc e mais tarde para Xbox One e Ps4. Sim, leitor. Se você não é gamer, saiba que você vai sentir falta de muita coisa na narrativa. Referências aos acontecimentos do jogo permeiam quase toda a obra, já que Lara está em busca de uma cura para algo que acometeu sua amiga Samantha enquanto as duas se aventuravam pela ilha de Yamatai. Se você não tem um console e/ou não é um gamer e ainda assim quer ler o livro, procure por resumos na internet, mas já deixo avisado de antemão que (ao menos para mim) a experiência não é a mesma.
Embora a leitura seja frenética, com Lara indo e vindo a vários locais, sendo perseguida, tendo de lutar pela vida em diversas ocasiões, senti muita falta da exploração. No jogo desbravamos florestas, cavernas, tumbas e toda sorte de lugares esquecidos pelo homem moderno e no livro Lara visita mais Museus que entradas de cavernas. Nada contra, mas se estamos falando de uma exploradora... Mas isso é uma opinião pessoal.
No livro temos organizações criminosas que também estão atrás do dito artefato. E sendo organizações, obviamente estamos falando de gente que tem recursos, e eles estão quase sempre dois passos à frente de Lara, dando dinamismo à história, já que ela tem de se virar para escapar de seus algozes. Só que tinha coisas que ficaram muito mal explicadas. Até onde se sabe, Lara havia escapado da ilha com pouquíssimas pessoas e não saiu por aí espalhando o que fez em Yamatai, mas todo mundo que ela visitava dizia saber algo sobre sua jornada anterior ou sobre sua busca atual. Como sabiam? De onde vieram as informações? Alguém mais saiu da ilha? Até mesmo gente que nem é do submundo, mas tinha uma boa conexão de internet sabia o que diabos a exploradora estava fazendo. Ok, o pai dela era muito famoso, mas mesmo assim, não é como se ela tivesse feito um Check-in na ilha e postado no Facebook com a Tag #LaraEsteveAqui.

“Sei quem você é, Lara Croft. O Sr. Frink tirou sua foto no local da escavação, e vasculhei a internet por informações sobre você. Sei quem seu pai foi, e sei quem você é. Sei tudo sobre Yamatai. Você deve estar aqui por causa do Velocino de Ouro. É o único motivo possível! Uma mulher como você! Uma arqueóloga como você! Você conhece as lendas. Sabe que Jasão veio para cá! O que sabe sobre o Velocino de Ouro que eu não sei? Quão próxima você está de descobrir seus segredos? Quão próxima está de encontrá-lo?”
*Título do livro (pág. 107).
A melhor heroína que você respeita.
Para dizer que o livro não foi de todo ruim para mim, ele pode instigar o leitor a dar uma pesquisada mais a fundo na história dos Dez Mil Imortais e de Jasão e os Argonautas. Eu gosto de livros que nos estimulam a sair da leitura para procurar informações em outros lugares (mas claro, mantendo uma coerência narrativa). Obras que têm como plano de fundo nossa própria realidade são um prato cheio para os curiosos de plantão. Outra coisa de que gostei muito é como o autor retratou Lara no livro, já que ela ainda é inexperiente e mesmo que tenha visto coisas incríveis em sua primeira jornada, ela ainda se mostra um pouco cética, preferindo recorrer à lógica e à tecnologia a acreditar no sobrenatural. Isso faz parte da transição da garota assustada para o ícone dos jogos de aventura.
A obra é narrada em terceira pessoa. O narrador segue os passos de Lara, contando quase toda a história sob o seu ponto de vista, deixando alguns espaços pequenos para a visão de personagens secundários. Então vemos a evolução da narrativa a partir das decisões da exploradora. A fluidez da narrativa é relativamente tranquila, fiquei travado com algumas descrições de localidades e cenas de luta (outra coisa que o autor não desenvolveu muito bem). A narrativa é linear, com apenas alguns trechos que voltam pouco no passado para explicar um acontecimento recente na visão de outra pessoa.
A tradução/revisão do livro não foi muito feliz. Vi erros complicados de argumentar que foi falta de atenção. Em um determinado momento da trama o nome de Lara é escrito como “Laura”, o nome de um personagem secundário chamado Karam foi escrito Karan. E o pior de todos foi quando um personagem disse “chega” e no flashback da mesma cena aparece ele dizendo “basta”. Já a diagramação está ótima, com letras bem espaçadas e folha amarelada. Na capa vemos Lara empunhando uma arma e atrás dela seu objeto de busca e sombras do que parece ser o exército dos Dez Mil Imortais.
Dan Abnett é um autor Best-seller que já figurou várias vezes na lista do The New York Times e escreveu mais de 40 livros, além de ter roteirizado quadrinhos como Guardiões da Galáxia e muitos outros. Mora em Maidstone, Kent.
Nik Vincent já publicou diversas obras entre quadrinhos, livros e manuais de treinamento. Ela colabora regularmente com seu marido Dan Abnett.
Bom, como já deu para notar, não curti a leitura, mas ainda assim recomendo para os fãs da personagem, que podem ter uma visão diferente da minha ao lerem a obra. Talvez funcione mais para uns do que para outros. Infelizmente, não recomendo tanto assim para quem não jogou o game, já que como dito, ele é uma continuação quase que direta. E por fim, fico no aguardo para que mais obras da exploradora cheguem até os leitores brasileiros, pois há muito ainda a ser contado da história de Lara.


Bibliografia de DAN ABNETT (ordem cronológica):

Livros:
  • Tomb Raider: Os Dez Mil Imortais – Editora Nemo (2016).



Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
8 Comentários

8 comentários :

  1. Luciano, eu não gosto de games, na verdade, detesto. Não tenho paciência para passar semanas tentando zerar algum, então com certeza essa seria uma leitura que eu não faria. O autor poderia pelo menos fazer um apego das cenas mais importantes e depois dar uma continuação ou lançar um livro anterior, porque quem gosta de livros desse gênero mas ainda não leu nenhum, com certeza irá ficar perdido nessa história (como seria meu caso).

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    1. Oi Nicoli. Todos tem seus gostos, te entendo :)
      Sim, o autor poderia ambientar a história e trazer flashbacks de acontecimentos anteriores. Seria uma boa para preparar os leitores.
      Beijos!

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  2. Oi, Luciano!!
    Como não tenho o costume de jogar não sabia que era um jogo como também não sabia que tinha o livro. Só assisti o filme com a atriz Angelina Jolie. É o único contato que tive com a Lara Croft.
    Beijoss

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    1. Olá, Marta!
      Ano que vem vai estrear um novo filme da heroína. Vai que pode ser sua nova porta de entrada!
      Beijos

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  3. Eu acompanho a Lara Croft desde o início, mas não que eu goste do jogo ou nada assim, mas tenho um grande amigo que tem praticamente tudo dela relacionado ao jogo e tudo porque ele era tão fã que já brigamos por causa dela(kkkkkkkkkkkkk) adorei o post!

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    1. Que legal, Adriana! Mostra o post para ele. Adoraria conferir a opinião de um fã como ele sobre o livro :)
      Beijos!

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  4. Nossa Luciano!
    Já assisti o filme e adorei, mas não tinha nem noção que existia um game com esse jogo, pelo simples fato de não jogar mais...
    E ver que para entender a leitura tem de ter jogado, me deixou um tanto triste, porque pensei que seria uma aventura em tanto...
    Uma pena!
    “Não basta saber, é preferível saber aplicar. Não é o bastante querer, é preciso saber querer.” (Johann Goethe)
    cheirinhos
    Rudy

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    1. É uma aventura e tanto, para quem consome mais de uma mídia rsrs
      Beijos ;)

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