RESENHA – Os Filhos da Tempestade (Rodrigo de Oliveira)

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: De Oliveira, Rodrigo. Filhos da Tempestade. 1ª edição. São Paulo, Editora Planeta, 2017. 336 páginas.
Gênero: Ficção fantástica
Temas: Bruxas, sobrevivência, maldições;
Categoria: Literatura Nacional;
Ano de lançamento: 2017;
Série: Filhos da Tempestade (Livro 1);







“Uma verdadeira caça às bruxas foi iniciada, com a criação de um tribunal especial. Pessoas de todas as idades e posições sociais passaram a se acusar mutuamente. Era como se boa parte da população da pequena Salém fosse composta de adoradores de forças ocultas. Em pouco tempo, centenas de pessoas foram presas e julgadas. Ao menos vinte homens e mulheres foram condenados à morte, a maioria morta por enforcamento”
*Filhos da Tempestade (pág. 10).

                Um grupo de jovens musicistas do Rio de Janeiro embarca em um voo com destino aos Estados Unidos. O que era para ser apenas uma viagem de uma turma de alunos acaba se transformando em tragédia: o voo em que estavam sofre um acidente após uma violenta tempestade e cai no mar. Os sobreviventes encontram uma ilha deserta, que aparentemente não tem qualquer contato com o restante do mundo. O ambiente paradisíaco que inicialmente conquista os jovens esconde uma força poderosa e maligna. Um segredo envolvendo uma jovem bruxa do século XVII ameaça a vida dos garotos que terão de lutar pela própria sobrevivência contra um inimigo invisível e aparentemente imbatível.
                Filhos da Tempestade é o mais recente livro do autor Rodrigo de Oliveira, conhecido pelos fãs do terror por ter escrito As Crônicas dos Mortos, uma série de livros sobre apocalipse zumbi. Na história somos apresentados ao personagem central Tiago e alguns de seus amigos. Após o acidente, os poucos sobreviventes do voo conseguem chegar em uma ilha deserta e aparentemente intocada pelo homem. Porém, à medida que os jovens desbravam a ilha, descobrem que não estão tão sozinhos assim.

“Na cabine de comando, o piloto se deu por vencido. Mais duas turbinas haviam parado de funcionar, seus instrumentos não respondiam, no rádio, tudo que se ouvia era um ruído e havia um buraco no avião. Era o fim do caminho.
- Preparar para impacto. Foi uma honra viajar com você, Chico.
- A honra foi minha, comandante – respondeu o copiloto, com os olhos marejados.”
*Filhos da Tempestade (pág. 11).
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                Contudo, antes de conhecermos o personagem principal, somos apresentados a uma jovem chamada Carol Smith, que foi acusada de bruxaria em 1697. Julgando-se incapaz de ter nas mãos outro episódio de caça às bruxas, o juiz do caso decidiu que ela deveria ser julgada pelo Vaticano.

A paz acabou no outono de 1697, quando o juiz Sewall conheceu uma jovem órfã chamada Carol Smith e se viu novamente às voltas com um suposto caso de bruxaria.
*Filhos da Tempestade (pág. 11).

                Porém, Carol nunca chegou a ser julgada. Algo terrível aconteceu no meio do caminho, mudando a vida de todos que tiveram o azar de atravessar o terrível triângulo das bermudas para sempre.
                “Fantástico! Sensacional! Vou jogar esse livro pela janela. Meu Deus, cadê o segundo volume?”. Esse foi eu quando terminei de ler o livro. Acompanho o trabalho do Rodrigo desde seu primeiro livro, “Vale dos Mortos”, e até hoje acho impressionante a maneira como o autor surpreende o leitor a cada novo livro. É um enredo fantástico atrás do outro. Uma história incrível atrás da outra. Quando você acha que ele não tem mais para onde ir, ele joga uma reviravolta no capítulo seguinte (e mata um personagem no processo). Quem já leu algo dele sabe do que falo.
                A obra apresenta uma trama bem adolescente, já que a maioria dos personagens têm idades entre 13-16 anos. Então acompanhamos o desenvolvimento dos personagens por essa época de descobertas que é a adolescência. E Rodrigo explora muito bem esse ponto, usando esse pretexto para que os leitores possam, junto dos personagens, explorar a ilha paradisíaca. Algo que talvez vocês possam estranhar na narrativa é o fato dos adolescentes encararem as coisas com um pouco de naturalidade. Por exemplo: eles estão em uma ilha sem qualquer contato com o mundo e demoram a sentir saudades de casa, da família e dos amigos que talvez nunca mais verão. Porém, tem um motivo por trás disso, então não estranhem (tanto). E interessante ressaltar também que essa aparente liberdade que a ilha proporciona aos adolescentes acabam por despertar sentimentos e emoções que eles jamais teriam se estivessem em um ambiente mais urbano (e controlado por adultos). De jovens assustados com a possibilidade de ficar para sempre em uma ilha deserta, eles viram pessoas capazes de tudo para defender o lar. Inclusive matar.

- Você sente saudade de casa? – perguntou, e completou depois de uma pausa: – Seja sincero. Sua resposta vai ficar entre você, eu e a torcida do Flamengo, se conseguirmos voltar.
Tiago riu do comentário. Cíntia sabia ser cativanente.
- Não. Estranhamente, não, nem um pouco – respondeu ele, ao mesmo tempo em que um relâmpago iluminava a escuridão. – E você?
- Nada, nem um pingo sequer. É como se pertencesse a outra vida. E isso me assusta.
*Filhos da Tempestade (pág. 11).

                Rodrigo tem uma maneira muito criativa de descrever algumas cenas. O frenesi era tamanho que cheguei a me arrepiar na parte em que é descrito a queda do avião, que para mim foi uma das melhores passagens da obra. Você fica muito apreensivo pelo que está por vir, mas louco de curiosidade para saber o que aconteceu com os personagens. E para quem conhece a escrita do Rodrigo, sabe que esses momentos de tensão sempre são acompanhados de mortes. Ele ainda faz questão de te deixar aflito em um capítulo e muda o foco de propósito no outro, para depois voltar com tudo no seguinte. Devo comentar que isso é muita maldade.
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                E por falar em mortes, o Rodrigo parece não ter se esquecido do Apocalipse que criou nas Crônicas dos Mortos: ele voltou a assombrar a imaginação de seus leitores com mortes brutais e tetricamente detalhadas. Dito isso, aqui vai um aviso: não se apegue demais aos personagens. Mesmo sendo adolescentes, eles não estão a salvo da imaginação homicida do autor. E mesmo em meio ao cenário paradisíaco descrito no livro, com toda a calmaria e descobertas adolescentes, as mortes não tardam a vir.
A coisa foi tão chocante que chegou a determinada parte da trama que falei em voz alta: “Oi? Como é? Cara, você matou fulano? É sério isso? Tu é maluco? Sério, não estou acreditando no que acabei de ler”.  E vale outro aviso: quando o autor termina um capítulo com algo que lembre um “momento feliz”, pode apostar que alguém em breve vai conhecer o “criador” mais cedo.

Leryane observou um por um e notou aquilo que devia ter percebido há muito tempo, algo óbvio que não tinha sido notado por ela e por mais ninguém.
Aquele lugar era maldito. Ele viciava, seduzia e aprisionava as pessoas. Era como uma gigantesca teia de aranha da qual era impossível escapar.
*Filhos da Tempestade (pág. 11).
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              Como se não bastasse todo o enredo levar o leitor a beira de um ataque de ansiedade pelo que vai acontecer no final, o livro trás “apenas” perguntas que dão gancho para o próximo volume e uma revelação impactante que foi o motivo de eu quase ter jogado o livro pela janela do tanto que aquilo me deixou sem chão. Sério, vocês vão ver quando lerem. Quem avisa amigo é.
                Minha única “crítica” (se é que podemos classificá-la como tal) é que o autor ainda não escreveu o segundo livro. Assim como nas Crônicas, está sendo complicado aguentar a ansiedade. Esse é o grande "problema" em ler séries. Já fico querendo logo o próximo. Sei que não é fácil, mas já fico na torcida para ver o lançamento do segundo o quanto antes. 
                A obra é narrada em terceira pessoa, com passagens de tempo truncadas, primeiro contando a história de Carol Smith e depois indo para o tempo presente e focando-se principalmente em Tiago, dando ainda espaço para alguns personagens secundários. Há no meio da narrativa outro salto temporal, que mostra o que aconteceu aos sobreviventes após um trágico evento que se eu comentar seria spoiler.
A fluidez da narrativa é totalmente frenética. Quando você acha que vai vim uma parte morosa, o autor joga uma bomba e o clima de tensão volta fazendo com que devoremos rapidamente às 336 páginas do livro. Quanto à revisão, quase não vi erros. A formatação está muito boa, com letras bem espaçadas, de fácil leitura. A capa é maravilhosa e faz uma referência direta com uma passagem do livro. E por último, cada capítulo tem uma imagem e o título logo abaixo.
(imagem)


Rodrigo de Oliveira é um escritor paulista, autor da saga best-seller “As crônicas dos mortos”. É técnico em Publicidade Propaganda, cursou Publicidade e Propaganda na Universidade Metodista e se graduou em Gestão de Tecnologia da Informação pela Universidade Paulista. Além de escrever romances de terror e fantasia, também atua como arquiteto de sistemas sênior e possui certificação de especialista em gerenciamento de projetos pelo Project Management Institute - PMI, sediado na Filadélfia, no estado da Pensilvânia (EUA). Vive com a mulher e os dois filhos em São José dos Campos, interior do Estado de São Paulo.
                Começo recomendando para os fãs do autor. Não se sintam órfãos por “Era dos Mortos” ainda não ter sido finalizado e não pensem que essa é uma história “tapa buraco”. Rodrigo entrega a nós, fãs, uma história incrível que merece ser apreciada tanto quanto as crônicas. Aqueles que têm interesse em conhecer o trabalho do autor, podem começar tranquilos e calmos com está obra. Um aviso aos de coração fraco: muitas emoções esperam por vocês neste livro. Ora vão ficar maravilhados, ora putos, ora chocados. Tudo isso em poucas páginas. Aos que têm credos religiosos, vale o alerta que a obra é uma ficção. E por fim, recomendo para quem apoia o nacional. Rodrigo tem todas as qualidades daquilo que chamamos de Best-Seller.
                Filhos da Tempestade é uma das melhores obras que tive o prazer de ler este ano. Com um final chocante, o livro abre um leque de infinitas possibilidades para o próximo volume. E só o que eu tenho a dizer sobre isso é: quero pra ontem!




Bibliografia de RODRIGO DE OLIVEIRA (ordem cronológica):

Livros:
  • O Vale dos Mortos –Editora Baraúna (2013); Relançado pela Faro Editorial (2014).
  • Elevador 16 – Faro Editorial (2014)
  • A Batalha dos Mortos – Faro Editorial (2014)
  • A Senhora dos Mortos – Faro Editorial (2015)
  • Ilha dos Mortos – Faro Editorial (2016)
  • Filhos da Tempestade – Editora Planeta (2017)



Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
2 Comentários

2 comentários :

  1. Luciano!
    Vixe!
    Deve ser um daqueles livros que só largamos quando chegamos a última página, porque criatividade não faltou.
    Gostaria muito de conferir como ele abordou o tema do Triângulo das Bermudas para que tenha se empolgado tanto.
    Desejo uma ótima semana produtiva!
    “Saber quando se deve esperar é o grande segredo do sucesso.” (Xavier Maistre)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem

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  2. Adorei saber que os personagens são adolescente e estão tentando desvendar além do próprio mundo, é uma fase muito boa e peculiar. Notei que o livro te prendeu mesmo e que a narrativa do autor é ótima, já estou ansiosa para conferir essa obra. Percebi também que a diagramação é muito bonita e bem trabalhada. Está na minha lista de leituras.

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