RESENHA - A Casa dos Pesadelos (Marcos deBrito)

Marcos deBritto volta a surpreender seus leitores com o livro "Casa dos Pesadelos", que explora o terror psicológico dos personagens.

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Ficha técnica:
Referência bibliográfica: DEBRITO, Marcos. A Casa dos Pesadelos. 1ª edição. Barueri/SP, Faro Editorial, 2018. 139 páginas.
Gênero: Suspense;
Temas: Traumas, pesadelos;
CategoriaLiteratura Nacional
Ano de lançamento2018




“O jovem nem sempre foi de poucas palavras. No entanto, desde a última vez que percorreram aquela mesma estrada, quase uma década atrás, seu comportamento arredio soterrara qualquer resquício de talento social. Gostaria de afastar as divagações sobre um passado confuso cuja lembrança o torturava, mas via-se indo em direção ao epicentro da tormenta”.
*A casa dos pesadelos (pág. 12).

            Dez anos se passaram desde que o pequeno Tiago esteve cara a cara com uma assombração. Agora adolescente, lutando contra o medo enraizado em seu subconsciente, ele volta ao local que o aterrorizou na infância para  provar a si mesmo que tudo não passou da obra de um delírio infantil.
            Porém, ao chegar no casarão, o jovem se depara novamente com o misterioso quarto do seu falecido avô, devidamente trancado e com entrada proibida. A noite, os sons que o atormentaram retornam e alimentam nele a suspeita que o mal está habitando aquele cômodo proibido. Porém, antes que pudesse desvendar o mistério, a assombração parte em busca de um novo alvo: seu irmão mais novo.
            Determinado a impedir que o caçula passe por todo o sofrimento que passou, Tiago, mesmo apavorado, decide enfrentar a criatura. E o que descobre expõe terríveis segredos do passado que ninguém ali poderia sequer conceber.

            Casa dos Pesadelos, do autor Marcos deBrito narra a história de Tiago, um jovem que estava indo passar alguns dias na casa da avó com a mãe Laura e o irmão caçula Bruno. Seria apenas mais uma visita não fosse por um pequeno grande detalhe: Tiago odiava com todas as forças ter de voltar para a casa da avó. Isso porque dez anos atrás o rapaz havia visto uma assombração na casa que o atormentou ao ponto dele ser um adolescente introvertido. Porém, após anos de psicólogo e muita insistência da mãe, ele tinha se convencido que estava quase entrando na fase adulta e que a tal assombração não passava de uma tenebrosa imaginação infantil. Seria mesmo um delírio ou a coisa existia de fato?
            Bom, quem acompanha o blog sabe que estou lendo e resenhando os livros do Marcos desde seu primeiro lançamento (e até hoje meu favorito) À Sombra da Lua (Ei, Marcos, cadê a continuação? haha). Então, para quem já leu algo do autor sabe que sangue, mortes e muitas reviravoltas não faltam. No entanto, a história de A Casa dos Pesadelos é… diferente. Como disse, estou acostumado a ver o sangue jorrando e aqui temos um típico (ok, nem tanto assim) drama de adolescente rebelde com a vida, que desafia as leis dos adultos e acha que sabe tudo (vocês já passaram ou vão passar por algo assim, de certo), porém com o toque magistral de terror de arrancar os cabelos que os fãs do Marcos já devem ter se acostumado (ou não). Aqui o terror é puramente psicológico. Sim, leitores! É um livro de suspense com pitadas de terror. E o autor explora a “caça ao monstro” tão bem quanto explorou o mito do Saci, do Serial Killer e do Lobisomem nas obras anteriores. A diferença é que aqui o dito monstro não é algo palpável e não sai distribuindo tripas pelo chão da sala.

“Receoso em abandonar o automóvel, Tiago encarava a casa pela janela, nitidamente incomodado por estar em frente à construção que tanto o assombrava. Se tivesse a opção, jamais retornaria. Porém, não queria atravessar toda a adolescência com horror de algo que sua terapia o fizera questionar se de fato era real. Para ter uma vida adulta livre de temores ingênuos, ele reconhecia a necessidade de ter que rejeitar sua covardia. Precisava certificar-se de que o que vira quando criança era apenas fruto da imaginação.
*A casa dos pesadelos (pág. 12).

            Embora tenha um leve tom sobrenatural, a história é mais pé no chão do que seus antecessores, explorando o que é crível dentro do nosso mundo real (o de um adolescente com traumas de infância), algo que poderia ser a realidade de qualquer um e é aí que a história ganha corpo, pois as pessoas podem (e alguns vão) se identificar com Tiago, com Laura e até mesmo com o pequeno Bruno. Afinal, quem não tem um trauma, um segredo ou um medo que esconde a sete chaves?
            A história pode ser resumida na resolução de dois mistérios: o que assombrou o Tiago na infância e porque sua avó proíbe terminantemente a entrada de qualquer um no quarto do falecido avô. Quando tinha seis anos, Tiago tentou entrar nesse quarto e recebeu de prêmio uma bronca severa da avó e 10 anos depois nada havia mudado, o quarto continuava lá trancado. E isso só aumentou as suspeitas do jovem de que as respostas para todas as suas perguntas estavam lá dentro. E é claro, quando você pensa que matou a charada, vem o Marcos e “pá”, toma-lhe uma reviravolta bem na sua fuça.
            Existe um grande segredo na história e sua revelação é tão impactante e condenável que a simples descoberta pode desmantelar completamente a família de Tiago. O que é? Só lendo para saber. Nem tudo é o que parece ser, fica a dica.
            Em relação aos personagens, temos aqui um retrato do que poderia ser um “Casos de família”: O pai dos meninos morreu quando Bruno ainda era um bebê, logo Laura ficou com a grande responsabilidade de cuidar de duas crianças sozinha. E Tiago… bem, ele tem o seu grande problema, que além de tê-lo feito ficar traumatizado com o lugar,  o ocorrido o deixou com traumas severos nas relações sociais. A forma como ele descreve o monstro que o atormentou é de tirar o chapéu. Bruno é o mais inocente na percepção de mundo por conta da idade. A história do monstro que aterrorizou o irmão ficou tão viva em sua mente que ele passou a imaginar a situação logo no primeiro dia.
E vamos conhecendo a personalidade de cada um deles, incluindo aí a da avó e da personagem Camila, essa que, assim como Tiago, enfrenta problemas dentro da própria família. E embora não tenha visto um monstro assustador cruzar a porta do seu quarto, havia um monstro talvez ainda mais assustador e perigoso morando em sua própria casa: seu pai. Não irei me estender mais que isso por motivos de spoiler.

               Ah, já ia me esquecendo: o livro não tem final definido.
            Que? Pois é. O livro tem um final aberto, que leva margem a 14 milhões de possibilidades diferentes (pega essa referência) e eu fiquei assim na última página: Ei, está faltando páginas! Cadê o resto? Não tem resto. E quando consegui raciocinar direito (depois do choque da revelação) que fazia sentido. Assim como o drama mencionado acima, o “pós-créditos” desta obra é algo que deve ser interpretado individualmente. A resolução não seria igual para todos e ainda deixa a pergunta: o que você faria no lugar do protagonista? Foi uma ótima sacada do autor. Sei que vocês não estão entendendo bem, mas seria um mega spoiler falar abertamente o que rolou, então vou implantar a curiosidade na cabeça de vocês. Apenas LEIAM e tirem suas próprias conclusões (e venham conversar comigo, ok?).

     
A história é narrada em terceira pessoa, acompanhando os passos do protagonista Tiago e sua jornada para desvendar o próprio passado. Ao longo da história a narrativa volta no tempo (as páginas em laranja) para mostrar coisas que aconteceram na casa quando Tiago era uma criança. O desenvolvimento dos demais personagens flui à medida que vamos conhecendo melhor as motivações do jovem de odiar a casa. Por falar em fluidez, alguns leitores podem ter uma certa dificuldade na leitura, pois o autor se empolgou nas comparações e no rebuscamento das palavras. Isso é um problema? Não, mas pode diminuir o ritmo da leitura para aqueles que (como eu) buscam o significado de palavras que não são comuns no dia a dia.
Mais uma vez a Faro está de parabéns pela diagramação do livro. Eu fico muito feliz e impressionado com o tratamento que a editora dá a suas obras nacionais. A capa ilustra perfeitamente o tom da narrativa, enquanto as ilustrações de Ricardo Chagas presentes dentro do livro dão vida ao aspecto sombrio do texto. A formatação, o tamanho das letras, tudo perfeito para leitura. A capa então, nem preciso falar, né? Sensacional.

            Recomendo o livro primeiramente para quem já leu algum outros livros do Marcos. Aqui não tem sangue, mas sua mente vai explodir de qualquer jeito, pois além de manter a qualidade da narrativa, aqui tem as famigeradas (e incríveis) reviravoltas destruidoras de teorias e mentes. Se você é daqueles que prefere um medinho psicológico para atormentar seu sono, recomendo a leitura desse livro. Por ser um livro mais dentro da realidade, acredito que muitas pessoas vão se identificar com os dramas vividos pelos personagens, então, jovens, vale a pena dar uma chance à obra, idem para os pais que não entendem alguns comportamentos de seus próprios filhos, classificando tudo como “rebeldia”. Essa rebeldia pode ser um trauma escondido, nunca se sabe.
E por fim, aquela recomendação de sempre: apoie os nacionais. Tem gente muito bom por aí que merece ser lido e se eu fosse por em uma lista de recomendações, atualmente o Marcos está no meu Top 5. Vão na fé e na coragem que vocês não irão se arrepender.
O livro traz uma mensagem referente a um assunto muito sério (que não vou falar, porque é spoiler). Cabe a você decidir o que fará após a leitura da última página.  

Bibliografia de MARCOS DEBRITO (ordem cronológica):
Livros:
  • À Sombra da Lua – Editora Rocco (2014).
  • Condado Macabro – Editora Simonsen (2016).
  • O Escravo de Capela – Faro Editorial (2017).
  • A Casa dos Pesadelos – Faro Editorial (2018).



Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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