RESENHA - A Rainha Sombria (Vivianne Fair)





Ficha técnica:
Referência bibliográfica: FAIR, Vivianne. A Rainha Sombria. 1ª edição. São Paulo, Editora Draco, 2016. 227 páginas.
Gênero: Fantasia;
Temas: Mundo fantástico, magia, aventura;
Categoria: Literatura Nacional;
Ano de lançamento: 2016.

         “Olhei para trás. A janela onde antes tinha estado o vitral parecia um buraco violeta luminoso, de onde jorravam luz e estrelas. Páginas e páginas foram sugadas para dentro dele. Senti meu corpo começar a levitar e ser puxado no ar.
- Jade! - gritou Mirella, correndo ao meu encontro.
             Estendi a mão para ela, mas era tarde demais. Já estava longe, sendo sugada para dentro da janela sem vitral.
           Mirella foi ficando mais distante, e em breve eu já não escutava mais os gritos dela. Ou os meus.
Tudo escureceu”
*A Rainha Sombria (pág. 23).

                Jade é uma jovem estudante universitária que por conta de eventos esquisitos foi parar dentro de um mundo de fantasia. Lá ela conhece um feiticeiro que explica que há uma rainha vivendo dentro dela, mas não uma rainha qualquer. Uma tirana cruel que muitos naquele mundo gostariam de ver morta. Tentando conviver com o mal dentro de si, Jade sai em jornada para descobrir como retirar a rainha de seu corpo… e não morrer no processo. 


                A Rainha Sombria é uma obra de fantasia escrita pela autora brasiliense Vivianne Fair. O livro começa com um flashback de um grupo de heróis lutando contra uma poderosa feiticeira chamada Ashira. Na feroz batalha, Isabella pereceu e, graças aos esforços de seus amigos, o guerreiro Kiriam conseguiu atingir a inimiga com uma lança. Graças a esse ato heróico,  o reinado de Ashira chegou ao fim… ou assim eles pensavam.
No tempo presente somos apresentados à Jade, uma jovem universitária que sonha em se formar em medicina, mas que tem sérios problemas em ficar na linha. A cada dia que passava a jovem ficava cada vez mais temperamental até que chegou um momento em que ela não poderia mais culpar a TPM. Ela começou a se questionar se estava ficando louca, já que até seu subconsciente estava lhe pregando peças… ou será que não?
                A jovem não se lembrava de nada da sua infância. Por algum motivo toda sua vida anterior aos 12 anos de idade foi apagada de sua memória. Ela foi encontrada caída em uma biblioteca sem memória e enviada a um orfanato. Por toda sua adolescência e vida adulta a jovem se perguntava o que teria acontecido. Ela teria sido abandonada por seus pais? Eles morreram? Ela não sabia explicar. Também somos apresentados à Mirella, a única amiga que Jade tinha; e Samantha, a colega de classe que vivia pegando no pé da protagonista por motivo nenhum, só por ser a filha do diretor e achar que podia mesmo.

- Você tem um passado. Só não se lembra dele. 
- Muito animador. 
- Jade… a única parte de seus passado que você não lembra é de quando você tinha menos de doze anos. Pelo amor de Deus, ninguém lembra disso mesmo. Ou quer lembrar.
- Mas por que fui parar num orfanato? 
- Não vou começar a bater boca com seu mimimi. Sei que você faz isso para poder escapar da punição. 
- Punição? Acha que estou na quarta série?
- Fora.
- Sim, senhor. 
*A Rainha Sombria (pág. 12).

                Certo dia, tudo piorou na vida de Jade. Após um acidente (?!?) em que um frasco de ácido explodiu sem explicação próximo de Samantha (algo que provavelmente deixaria uma cicatriz eterna). Toda a turma olhou espantada para o acontecido, mas não eram para Samantha que eles miravam olhares espantados. Era para Jade que, apesar de igualmente assustada com o ocorrido, exibia um sorriso estilo “Why so Serious?” no rosto ou quase isso.
                Aquele parecia ter sido o estopim das coisas estranhas, mas não acabou ali. Depois de decidir voltar ao lugar onde foi encontrada, Jade foi inexplicavelmente sugada para dentro de um portal dimensional. Após acordar, ela conhece Alyon, um elfo muito charmoso e educado que explica que ela não estava mais em seu mundo. Jade havia sido transportada para aquele outro mundo, pois havia alguma conexão entre ela e a pessoa que Alyon queria de fato buscar: Ashira
                E como se não bastasse, um guerreiro invadiu o lugar onde os dois estavam e contou que o tal Alyon era o servo fiel e maligno da cruel Ashira e que ela estava correndo um grande perigo ficando ali. E agora? Confiar no feiticeiro ou no guerreiro?
                Assim a jornada de Jade para descobrir sobre seu passado e sobre o que raios estava fazendo naquele mundo começa. 
(Imagem)
                Bom, vamos aos meus comentários sobre essa obra. Eu já conheço a autora de outros trabalhos. Li a trilogia “A Caçadora” e, embora eu tenho suspirado vários “affz”, gostei muito da leitura. Aqui, em A Rainha Sombria, ela mantém a fórmula de explorar clichês em nome das risadas de seus leitores e uma escrita leve. As piadas continuam afiadas e com um timing certinho, com inúmeras referências a várias coisas da cultura pop. Uma em especial, uma clara referência a Game of Thrones, onde um grupo de personagens começa a dar títulos a Jade, assim como deram títulos a Daenerys. Simplesmente hilário. 

Eles me fitaram do alto com interesse. Sem se olharem novamente, o mais alto falou.
- Muito bem, nós a levaremos conosco para que possa ver o passado da rainha. Mas lhe asseguro, Jade, filha de José, receptáculo da rainha, criança deste mundo, que o que vier a seguir pode ser para o seu bem, mas pode ser para o seu mal.
Ótimo. Mais um título. Imagino quantos terei até o fim da jornada.  
*A Rainha Sombria (pág. 177).

                A obra fala sobre confiança e origens. De um lado o sedutor (affz) Alyon com suas promessas de “vamos viver juntos eternamente e te darei de bônus os vestidos da rainha” e do outro Kiriam e seus companheiros contando histórias de como Ashira era má e precisava ser detida. No meio, uma Jade inicialmente confusa sobre o que fazer, mas que aos poucos vai entendendo seu lugar naquele mundo, descobrindo sobre o seu passado, ao mesmo tempo que desenvolve uma relação peculiar com Ashira.
                E falando em relação, esse é o ponto alto da obra. Ashira estava (por algum motivo de spoiler) dentro da Jade, as duas dividindo o mesmo corpo (isso não é spoiler! Tá na simopse!) . E em momentos de stress ou perigo, Jade conseguia acessar os poderes da feiticeira (que por sinal, era estupidamente poderosa, capaz de por dragões no chinelo). Só que isso deixava Ashira ainda mais poderosa e pouco a pouco Jade estava sendo dominada pela vontade da rainha. Até que ponto era prudente acessar os poderes dela? Essa relação obviamente começa tensa, com a rainha tentando levar Jade para o lado negro da força (haha), mas aos poucos Jade começa a igualar as coisas, já que Ashira precisava de Jade viva para sobreviver e isso forçou uma aliança engraçada entre as duas. 

- Você os salvou. Poderia ter me guiado para a saída do labirinto, mas  você me levou até a fonte de poder. Por quê?
- Você precisa desses idiotas para sobreviver. Jamais encontrará uma forma de me tirar daqui se não tiver ajuda. 
- Pois eu acho que você teve pena deles.
- Está Louca? Eu preferia que você voltasse para Alyon, mas se faz tanta questão desses tolos, que seja. Apenas quero voltar ao meu antigo corpo bem, de preferência. 
- A rainha tem um lado bom, afinal - comentei, sorrindo.
          *A Rainha Sombria (pág. 109).

                Senti falta de um aprofundamento maior no cenário. Como um mundo totalmente novo (tanto para Jade, quanto para nós), acho que ficou faltando uma atenção maior quanto às descrições dos lugares. Claro que eles existem, mas servem apenas para situar o leitor do local que os personagens estão e não para mostrar as peculiaridades sobre aquele mundo. Um mapa também fez muita falta para termos uma noção maior dos caminhos percorridos pela protagonista.
                E por fim, mas não menos importante: o final. Uepa, spoiler Luciano? Cadê o alerta? Calma Jovem. Deixa eu explicar. Existem três finais na obra e você pode escolher qual final você quer, basta seguir as instruções deixadas pela autora. Legal, né? O destino de Jade depende literalmente de você. 
                Sobre o final que escolhi: eu fui no final da autora para poder escrever essa resenha. Não vou falar muito sobre, mas posso dizer que existe um final bom para os personagens, um final ok e um final nem tão bom assim.



                O livro é narrado em primeira pessoa, pela ótica da personagem Jade. E junto dela vamos descobrindo mais informações sobre o universo criado pela autora, bem como conhecendo os outros personagens da trama. A fluidez da narrativa é bem leve, sem palavras rebuscadas. A autora até usou gírias do nosso cotidiano, o que faz a leitura ser ainda mais rápida e tranquila de ler. A obra é linear, com alguns flashbacks para explicar acontecimentos do passado, tanto de Jade quanto de Ashira. 
A revisão pecou um pouco, há alguns erros bobos, mas que não passam despercebidos, como a palavra feiticeiro escrito “Feitriceiro”. Mas não é algo que vá fazer você largar o livro, de forma alguma. Algo que me incomodou um pouco também foi o uso excessivo da expressão “Engoli em seco”, mas isso já é opinião pessoal. 
Agora, as ilustrações…  aqui temos uma obra a parte. Vivianne, além de escritora, é também ilustradora. E ela desenha MUITO. Há várias ilustrações ao longo do livro (imagem ao lado) que são sensacionais e servem muito bem para dar aquela luz na imaginação das pessoas que estão lendo a obra. A capa também chama muito a atenção de quem pega o livro pela primeira vez. E por fim, o livro é dividido em 32 capítulos, com os agradecimentos da autora ao final. 
Vivianne Fair (conhecida também por Chefa) é autora da trilogia A Caçadora  e o romance Quem precisa de heróis. Também possui ebooks como Steph, a super-hiperativa;  Poderes Encrenqueiros e O Legado do Dragão. Trabalha também com ilustrações, inclusive internacionais e ilustrou várias das capas dos seus livros, incluindo outras capas para outros autores. É professora de desenho e inglês, sendo formada em artes plásticas. É carioca, mas mora atualmente em Brasília com seu filho, um crítico ferrenho de suas obras, mas que ela ama com toda certeza.
         A Rainha Sombria é uma leitura que recomendo para quem quer se aventurar em um mundo de fantasia sem ter de sofrer muito com descrições pesadas sobre o novo universo. Aqui a autora abre mão disso em nome da diversão. Os fãs da autora que a acompanham desde a trilogia “A Caçadora” também vão se sentir em casa lendo essa obra.  E por fim, recomendo você dar uma chance para as obras da autora. Vivianne é uma escritora que merece ser lida, assim como tantos outros autores nacionais que lutam dia a dia por um espaço na estante dos leitores. 

Bibliografia de VIVIANNE FAIR (ordem cronológica):

Livros:

  • Cavaleiros do RPG – Editora Livronovo (2009); republicado e renomeado como “Quem precisa de heróis?” pela Editora Lexia (2010);
  • A caçadora (vol .1): Sorriso de vampiro – Editora Draco (2014);
  • A caçadora (vol. 2): Sussurro das sombras – Editora Draco (2015);
  • A caçadora (vol. 3): Temporada de caça – Editora Draco (2016);
  • Rainha Sombria – Editora Draco (2016);


Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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