O sucesso de Tormenta 20 e o que isso simboliza para o rpg nacional

Jogos de interpretação de papéis tem sobrevivido aos constantes avanços tecnológicos no mundo dos games.


Preview da capa do livro. Créditos: Jambô Editora


         Jogadores de RPG têm 1 milhão de motivos para festejar. Literalmente. Tormenta 20, o novo título da Editora Jambô, fez história no Catarse após bater a incrível marca de um milhão e meio de reais arrecadados na plataforma. Em meio às comemorações, muito se discute sobre a importância do hobby nos tempos de plataformas digitais de entretenimento e este feito veio para provar que o RPG de mesa resiste, persiste e continua encantando gerações de jogadores. 

Crédito: RPGgista.com

          Atualmente é muito comum ver na casa dos jovens consoles de vídeo game como os da Microsoft (X-box), Sony (Playstation), Nintendo (Nintendo Swich) ou mesmo PCs e notebooks potentes o suficiente para jogos online. Porém, esses jogos tem dividido espaço com livros de regras, livros de raças, magias e tudo o mais que for necessário para que os jogadores possam emergir em uma campanha de RPG. 

A sigla RPG vem do termo em inglês  Role-playing game, que na tradução livre seria algo como “Jogo de Interpretação de Personagens”. Trata-se de um gênero de jogo onde os jogadores assumem o papel de um personagem imaginário (inventado por ele próprio ou não) em um mundo fictício. Existem manuais que auxiliam os jogadores a criarem e ambientarem seus personagens e suas histórias, como, por exemplo, os manuais de regras e os manuais de monstros. Fonte: Brasil Escola.

No Brasil, a prática de jogar RPG de mesa começou no início dos anos 80 de forma importada. As pessoas que viajavam para fora do país traziam (principalmente dos Estados Unidos) títulos em inglês com o intuito de jogar com os amigos. Essa foi a primeira geração de jogadores nacionais, chamados de “geração xerox”, pois obtinham e propagavam os manuais através de fotocópias. Foi após a Rede Globo transmitir, em 1986, a série animada “Caverna do Dragão” (Dungeos & Dragons, no original) que o RPG de mesa começou a virar febre em território nacional.
            Além de ser uma fonte de entretenimento, o RPG também é uma ótima fonte de aprendizado. A escritora de livros de fantasia Karen Soarele diz que a prática exige leitura e interpretação de texto. “O RPG incentiva os novos leitores não apenas a juntarem letra com letra e formarem palavras, mas faz com que efetivamente pensem no que estão lendo, interpretem o significado do texto e desenvolvam suas próprias criações”. Para ela jogar é muito mais do que ler manuais, ele também incentiva a pensar, analisar e interpretar.



Tormenta e o Financiamento coletivo
            A Jambô Editora provou por A + B que, mesmo com o avanço de plataformas de jogo online, o RPG de mesa ainda resiste e prospera em um mercado cada vez mais promissor. E como explicar esse fenômeno? Para o editor chefe da editora, Guilherme Svaldi, o RPG de mesa sobrevive às novas tecnologias pelo poder de contar uma boa história. “Criar narrativas e compartilhá-las com os amigos é uma das atividades mais antigas da humanidade. Alguns dizem que é precisamente o que nos faz humanos. Nenhuma tecnologia substitui esse tipo de interação”, comenta Guilherme. 
          Isso fica ainda mais evidente quando observamos a trajetória da campanha de financiamento do manual básico “Tormenta 20”. Lançado no dia 10 de maio, a editora havia pedido R$ 80,000 de arrecadação para o projeto sair do papel. Em 20 minutos o site saiu do ar em virtude do número anormal de acessos à plataforma. Uma hora depois do início, o financiamento atingiu 100% da meta, ou seja, já havia atingido R$ 80,000, batendo o recorde de meta alcançada em menor tempo. Daí para frente foi só alegria: 



           
  • Maior projeto na categoria jogos;
  • Maior financiamento na categoria editorial;
  • Maior arrecadação nas primeiras 24 horas;
  • Projeto mais bem-sucedido do Catarse;



        O financiamento do novo livro foi para a editora uma forma de convidar as pessoas a participarem ativamente do projeto. A Jambô é uma editora tradicional, ou seja, publica seus livros com recursos próprios. Porém, de acordo com Guilherme, esse era um projeto especial. “Era a comemoração de 20 anos do maior universo de fantasia do Brasil, e não podia ser tratada da forma habitual. Se simplesmente produzíssemos o livro internamente, estaríamos privando os jogadores de participarem”. Para ele, Tormenta só chegou onde está graças ao apoio do público. 




Tormenta é um RPG de mesa criado por Leonel Caldela, Marcelo Cassaro, Rogerio Saladino, Guilherme Dei Svaldi e JM Trevisan, e publicado pela Jambô Editora. Foi lançado originalmente em 1999 e, ao longo dessas duas décadas, teve seu universo expandido com romances, contos e HQs, além de dezenas de suplementos. Hoje, comemora vinte anos com esta nova edição do livro básico, intitulada Tormenta 20, que tem como objetivo atualizar o mundo de Arton para os fãs das antigas e facilitar a introdução de novas pessoas ao hobby. Fonte: Jambô Editora

 E por falar no público, uma verdadeira legião de fãs apoiou o projeto. O prazo do financiamento terminou no dia 09 de julho. Foram mais de 5.000 apoiadores, tendo arrecadado ao todo R$ 1.875.600*. Os valores variavam entre R$ 50,00 (o nível mais baixo) até R$ 800,00 reais, sendo este o nível mais alto do apoio. Como em qualquer financiamento coletivo, os apoiadores recebem recompensas, que variam de menção nos créditos até participação ativa na decisão das mecânicas do jogo. Abaixo o gráfico animado ilustra de onde veio a maioria dos apoios. 

Fonte: site do Catarse


* O valor final arrecadado ainda não está fechado; ainda há boletos a confirmar pela plataforma.


Um desses apoiadores foi o Gestor Ambiental Silas Contaifer. Ele já joga no cenário há doze anos e já viu muita coisa nesse meio. Ele conta que já jogou 19 sistemas de RPG diferentes, mas que o financiamento trouxe algo novo: o poder de conversar e criar junto com a comunidade brasileira nos diversos blogs e grupos online que falam sobre Tormenta. “Estou super animado com Tormenta 20. Gostei das votações para escolhas de parte do material que virá no livro e já estou com as fichas prontas para testar o sistema com meus amigos”. 
Tormenta já é considerado o maior e mais importante título do RPG nacional, após esse financiamento coletivo, não há qualquer dúvida sobre esse fato. 



O RPG em Brasília
            A comunidade candanga é bastante participativa quando o assunto RPG. O grupo D30 é um bom exemplo de pessoas engajadas. Criado em 2008 por um grupo de entusiastas desse tipo de jogo, o D30 tem como objetivo principal unir os fãs do hobby, pois havia uma grande demanda de pessoas que gostavam de jogar, mas não tinham com quem jogar.  
Afora isso, a falta de iniciativas e projetos voltados para a prática foram motivadores para a criação do grupo, que ganhou muito destaque e prestígio dos frequentadores com o passar do tempo. A média de público em cada evento organizado pelo grupo é de 50 a 160 pessoas, a depender do tema e do dia, chegando a contabilizar mais de 300 pessoas em eventos especiais.
O jornalista Janary Damacena é um dos fundadores do grupo. Ele conta que conheceu o RPG do início da década de 90 e foi incentivado desde criança pela família a jogar RPG. Desde então sempre procurou se atualizar sobre as novidades ao longo dos anos e levou essa experiência para o projeto. “Queríamos dar um incentivo para o pessoal da cidade e criar uma comunidade de RPG para estimular pessoas de todas as cidades satélites a organizarem seus próprios encontros”, destaca o jornalista. 


Créditos: D30 RPG

O grupo é formado por 12 pessoas que fazem reuniões mensais para definir os encontros. Janary ressalta que tudo o que fazem é de forma voluntária, participa quem quer e pode. Cada encontro tem um tema específico, onde os mestres e jogadores irão jogar alguma aventura referente ao tema proposto. Missão impossível, histórias de terror, histórias de heróis, mundo perdido são alguns dos temas já propostos nos encontros. Ele ainda destaca que o grupo é aberto: qualquer um pode colaborar com ideias e sugestões. O técnico de Monitoração Henrique Soares é um colaborador e frequentador assíduo dos eventos do D30. Ele conta que começou como um ajudante dos eventos e foi convidado este ano para ser um membro oficial do grupo. “Ter um grupo como o D30 é importante para o RPG local, pois é um estímulo para que jogadores se reúnam, conheçam novos sistemas e cenários e principalmente: possam fazer amizades e se divertir”, diz Henrique. 

Quer acompanhar o grupo? Segue eles: 

Gif
            Jogar RPG é uma atividade muito prazerosa. Diversão garantida para os amantes do hobby e uma ótima ferramenta que auxilia na educação. Tormenta 20 é um simbolo de que o RPG nacional está muito bem e prosperando como nunca na cultura pop nacional. E para provar que existem muitos jogadores por aí. Novos e antigos, prontos para sentar em uma mesa cheia de livros, fichas e dados. Ficou interessado em jogar? Você é jogador? Existe alguma comunidade na sua cidade? Conta aqui pra mim nos comentários. 


Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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