RESENHA - Uma ilha no Atlântico (DAY FERNANDES)

Na minha resenha de estreia escolhi falar sobre o livro de uma autora que gosto muito e de uma história que me encantou pra valer



Ficha técnica:
Referência bibliográfica: FERNANDES, Day. Uma ilha no Atlântico. 1ª edição. Brasília, Edição do autor, 2018. 324 páginas;
Gênero: Fantasia;
Temas: Romance, magia, vidas passadas;
Categoria: Literatura Nacional;
Ano de lançamento: 2018





“Há muitos, muitos anos, uma lenda misteriosa atravessou a curiosidade dos homens e dos deuses. Uma história sobre uma cidade perdida, onde tudo podia acontecer.”
*Uma ilha no Atlântico (pág. 82).

Mariana Fragoso é uma arquiteta talentosa que optou por se dedicar ao seu trabalho ao invés de gastar o seu tempo com relacionamentos amorosos. Graças às suas habilidades arquitetônicas, ela consegue um projeto que a leva para Maris, uma desconhecida ilha no meio do oceano Atlântico. Apesar de receosa com todo o mistério, Mariana logo se vê encantada pelas belezas naturais da ilha, incluindo os belos olhos azuis do seu contratante, Théo Montenegro. Porém, o que era para ser uma viagem de trabalho em uma ilha paradisíaca, acaba se tornando uma aventura cada vez mais estranha, graças a acontecimentos inexplicáveis por toda ilha, e também dentro dela mesma. Além dos sentimentos inéditos que aparecem na presença de Théo, Mariana irá descobrir que Maris esconde vários mistérios nos quais ela está mais envolvida do que imagina.

Foto produzida pela Bruna UPanda


No começo do livro, conhecemos Mariana, uma talentosa arquiteta, e Bianca uma psicóloga que é amiga e colega de quarto de Mariana. Apesar de terem um ótimo relacionamento e algumas semelhanças, como preferirem comemorar em casa a mudança do vizinho barulhento, a opinião das duas sobre o amor é bem diferente. Enquanto Bianca é uma romântica sonhadora, Mariana é bastante pé no chão e tem certeza de que nunca irá encontrar sua alma gêmea porque nem mesmo acredita que isso exista, por isso prefere se dedicar ao seu trabalho. E logo nos primeiros capítulos, vemos o resultado da sua dedicação junto as suas habilidades. Um de seus projetos é aprovado por um misterioso contratante de voz atraente, que deseja uma casa para viver com sua futura esposa em uma ilha no meio do oceano Atlântico.
Embarcamos, então, com Mariana em sua viagem para a desconhecida e misteriosa Ilha de Maris, um lugar nunca mencionado nos destinos de viagem das companhias aéreas. Todavia, antes mesmo de subir a bordo do voo particular que a leva para seu destino, sonhos estranhos começam a perturbar o sono da nossa protagonista. Sonhos que se tornam mais frequentes e detalhados ao longo da história. Preciso dizer que já imaginei desde o começo qual seria o papel desse sonho, principalmente porque elementos oníricos nunca aparecem sem motivo nas narrativas. Ainda assim, fui me surpreendendo com a riqueza de detalhes que foram sendo apresentados para formar um panorama completo que se encaixava perfeitamente ao resto da narrativa. Parte disso acontece porque a autora revela um evento através dos sonhos, mas a forma como ele acontece ou mesmo quando acontece só descobrimos no decorrer da história.
Contudo, esse não é o único mistério a ser desvendado na obra. A ilha de Maris em si é traz diversos elementos surpreendentes e misteriosos. A começar pela forma que é descrita, pois no momento em que Mariana desce do avião, a vontade que dá é de trocar de lugar com ela para contemplar com meus próprios olhos tamanha maravilha natural. Então se alguém achar o mapa que leva para Maris, pode enviar para mim.

“Havia um aroma inebriante no ar, como se o perfume das flores locais viajasse por todo lado, carregado pelo vento. Seguindo pela costa, mais ao longe, dezenas de luzes amareladas se acendiam, dando forma a uma cidade tímida. Os pássaros voavam em sincronia para as árvores, preparando-se para seu descanso. Meu queixo caiu, literalmente, diante daquela paisagem magnífica.”
*Uma ilha no Atlântico (p. 43)

Para além do cenário, a trama que gira em torno de Mariana e Théo foi bastante envolvente. Preciso alertar que não entendo “Uma ilha no Atlântico” como um livro de romance, e sim como um livro com romance. Digo isso porque apesar do relacionamento entre os personagens ser importante para a trama, a história não é unicamente sobre isso. É sobre Maris e o que está acontecendo por lá. Por isso eu fiquei envolvida com o relacionamento de Théoriana (meu shipp, é horrível, mas é meu) e como ele se desenvolveria, afinal ele está comprometido, mas também fiquei curiosa para saber o que de fato acontecia na ilha e como esses acontecimentos iriam se desdobrar.
Apesar disso, a narrativa é bastante leve graças aos diálogos cômicos que surgem no decorrer da história, sem contar que fiquei surpresa como as pistas do que vai aparecer na história, através dos sonhos, não torna a história tão óbvia quanto suspeitei no começo. Na verdade, isso me faz até refletir sobre outro aspecto dessas revelações, que se aplicam a muito mais que os livros. Já parou para pensar em quantas vezes nos deixamos levar por nossas concepções prévias sobre algo? Em quantas vezes achamos que sabemos o que vai acontecer, ou como é uma determinada situação ou pessoa só porque temos pistas a respeito e por termos uma falsa certeza que só existe um único caminho possível? Uma ilha no Atlântico também me mostrou que se temos só um vislumbre da história não conhecemos o todo e isso é o que nos surpreende.

Foto produzida pela Bruna UPanda. 

Em Uma ilha no Atlântico, toda a narrativa é feita em primeira pessoa por Mariana, o que foi muito interessante para transmitir para os leitores como é impressão de como seria sair do “nosso mundo”, cheio de modernidades, e ir para Maris pela primeira vez, uma experiência que é extremamente importante para a história. Então essa escolha de narrativa realmente facilita a imersão e a fluidez da leitura. Também encontramos uma narrativa linear com exceção de alguns sonhos de Mariana, que surgem ao longo da narrativa.
Outro aspecto interessante do livro, que tem um pouco mais haver com a construção da narrativa, trata-se do desenvolvimento dos personagens secundários. Isso porque você já espera que os personagens principais sejam bem trabalhados, mas Day Fernandes também ofereceu aos personagens secundários da ilha personalidades, background e interações que vão além dos personagens principais, mesmo dentro de uma narrativa em primeira pessoa. Por motivos óbvios, esse desenvolvimento é mais perceptível nos personagens secundários de Maris do que os da cidade de Mariana, ainda assim o trabalho da autora foi tão bom é possível se conectar e se identificar mesmo com esses personagens que não são o ponto chave da história.
O trabalho gráfico do livro também é um ponto de destaque. A capa é muito bonita e, na minha opinião, já deixa um pouco do ar de mistério do livro. Além disso, tem uma bela ilustração no começo do livro com um trecho de uma música do Nando Reis, o que já nos faz esperar por um romance. Também gostei bastante do detalhe no começo de cada capítulo, com pequenas ondas abaixo do número do capítulo. Cabe dizer que também li o livro em ebook e devo informar que, para aqueles que não fazem questão do livro físico, a adaptação para versão digital carrega os mesmos elementos gráficos, portanto você pode ter um livro tão bonito quanto o físico sem ocupar espaço na sua casa.

Foto produzida pela Bruna UPanda. 

Day Fernandes é uma autora brasiliense formada em Psicologia que começou sua jornada de escritora no mundo dos livros digitais, mas já realizou publicações independentes e, recentemente, teve sucesso em sua primeira campanha de financiamento coletivo para o lançamento do segundo volume da duologia A Fortaleza. Entre livros, contos e antologias, a autora se destaca por suas obras de fantasia e ficção científica. Além disso, esteve na Bienal do Livro de 2018 junto com André Vianco, através da Hardcover, com “Uma ilha no Atlântico”.
Se você gosta de uma história de romance ou é um leitor de mistérios que não se importa em ler uma história de amor junto a narrativa, Uma ilha no Atlântico é uma leitura que você deve incluir na sua lista. Também é uma ótima leitura para quem deseja conhecer um pouco mais da literatura nacional contemporânea a partir de excelentes autores.


Bibliografia de DAY FERNANDES:

Livros:


  • A Fortaleza - Mundo Sombrio – Edição do autor (2017).
  • Uma ilha no Atlântico – Edição do autor (2018).
  • A Fortaleza – Colonização – Edição do autor (2019)


Contos:

  • Sob a Minha Pele – Edição do autor (2017).
  • Os Opostos Se Distraem – Editora Sekhmet (2017).
  • Visões Noturnas – Edição do autor (2017).
  • A Segunda Face do Espelho – Darda Editora (2016). 


Antologias

  • O Hospício de Muskov – Editora Wish (2017).
  • Valquíria – Editora Darda (2016).
  • Abduções e outros contos – Editora Young (2017).


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