Título: Eliza
Classificação: +14
Gênero: Terror/Suspense
Sinopse: Todos conhecemos alguém como Eliza, uma pessoa que costuma ficar quieta em um canto, fazendo suas próprias coisas, como se estivesse à parte do mundo. Normalmente, pessoas assim são as vítimas preferidas dos valentões (e valentonas) na escola, mas também de quem menos se sabe a respeito. Algumas dessas histórias somem com o tempo, já outras, criam marcas que nunca serão esquecidas. Essa é a história de Eliza e você decide em que categoria ela se encaixa.
Leia antes a parte 1
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2
“Quando Eliza começou a despertar, ainda se sentia letárgica. Seu corpo estava dormente, porém sentia um peso sobre ele, e a única voz que ouvia estava tão nítida quanto se ela estivesse embaixo d’água. Ao abrir os olhos, a primeira coisa que entrou em foco foi a sombra de uma árvore no meio da noite e, quando ela virou a cabeça para olhar ao redor, sentiu uma mão cobrir sua boca. Foi então que viu o homem que estava em cima dela, o dono da voz que ela não conseguia entender o que dizia.
Nesse momento, a adrenalina acelerou a recuperação dos sentidos e, quando Eliza se deu conta do que estava acontecendo, começou a se debater e tentar se libertar desesperadamente. Todavia, seu corpo ainda estava fraco para conseguir lutar ou fugir e seus gritos por ajuda eram abafados pela mão que ela não conseguiu tirar de sua boca. A voz daquele homem se tornara mais nítida e apenas aumentou seu desespero, já que tudo que ele dizia eram ameaças e xingamentos para ela. Eliza começou a chorar: de frustração, de desespero, de dor. Parecia que o tempo havia parado e ela estava presa no pior momento de sua vida. Tudo que ela via entre as lágrimas era a maldade e a satisfação nos olhos do seu estuprador.
Quando tudo acabou, Eliza se encontrava em choque. Seu corpo estava trêmulo e lágrimas pesadas e silenciosas escorriam por seu rosto. O cara apenas se levantou e fechou a calça, ameaçando a garota de voltar e fazer pior caso ela contasse para alguém. Então ele foi embora e a deixou ali, tentando processar tudo o que tinha acontecido. Eliza permaneceu deitada imóvel e não conseguiu contar quanto tempo havia se passado até o momento que ela ouviu o grito da mulher que a encontrou.
A senhora caminhou até ela e a ajudou a se sentar e arrumar suas roupas da melhor forma possível, já que sua blusa estava esticada e sua calça sem o botão. A mulher cobriu Eliza com um casaco que estava usando enquanto ligava para polícia e, quase uma hora depois uma viatura chegou, encontrando Eliza ainda em choque. Levaram-na para a delegacia da mulher junto com a senhora que a ajudou e, de lá, ligaram para os pais da garota. O tempo que levou para eles chegarem foi o suficiente para Eliza conseguir se acalmar e contar o que aconteceu, ainda que monotonamente.
Após ela e seus pais prestarem depoimentos para a delegada que registrou a denúncia, Eliza foi levada para o hospital onde foi tratada e medicada. As pessoas que a atenderam foram empáticas, mesmo com o silêncio da garota, que não disse mais nenhuma palavra o resto da noite. Ao entrar em casa, ela foi direto para o banheiro, onde tomou um banho longo, gastando um sabonete inteiro no processo. Depois disso, pulou o jantar e foi para o seu quarto, trancando a porta assim que passou por ela. A jovem fechou a janela e as cortinas, deixando a luminária de sua escrivaninha ser a única fonte de luz do seu quarto. Foi então que ela percebeu que sua mochila havia sumido assim como os últimos desenhos que tinha feito.
Ela fechou os punhos com força e pegou seus materiais de desenho reserva no guarda-roupas, colocando tudo em cima da mesa. Eliza se sentou na cadeira em frente a escrivaninha e começou a materializar todos os sentimentos e pensamentos que vagavam pela sua mente em desenhos no papel. Ela nunca havia sentido tanto ódio e tanta angústia na vida. O rosto do homem que a atacou ainda estava perfeitamente claro em sua mente e isso só piorava a forma como se sentia. E foi então que se deu conta que automaticamente o desenho que fizera fora mais uma história do homem com a máscara.
Nos quadrinhos, ele surgiu por trás do seu agressor e, antes que Eliza fosse atacada, o homem de máscara usava o cabo do machado para asfixiar o agressor até que ele desmaiasse. Os quadrinhos seguintes mostravam seu agressor com suas mãos e pés presos a uma mesa de metal e o homem de máscara usando o machado para fazer incisões na pele dele e usando esses cortes para puxar grandes pedaços de pele, deixando-o em carne viva e jogando álcool por cima para vê-lo se contorcer e gritar de dor. Após deixar a maior parte do corpo daquele homem em carne viva, o homem mascarado usou o machado para abrir o peito e arrancar o coração da sua vítima.
Ao avaliar todos os quadros daquela história que tinha riqueza de detalhes, Eliza não sentiu nenhuma culpa, mas tampouco sentiu alívio. Transformara todos os sentimentos negativos que sentia ao lembrar da forma que aquele homem a olhara em um retrato de tortura e assassinato do seu agressor. Contudo, ao ver no último quadrinho o brilho dos olhos por trás da máscara tribal do homem que segurava um machado em uma mão e um coração em outra, conseguia ver a si mesma refletida neles, junto aos sentimentos aos mesmos sentimentos de maldade e satisfação.
Foi então que ela chorou novamente, transformando aqueles sentimentos em lágrimas incessantes. Os minutos seguintes se passaram como um grande borrão até que ela adormeceu e seus pesadelos vieram visitá-la novamente. Pela primeira vez, Eliza não sabia se estava observando a cena ou se era parte dela. Muitas vezes percebia o homem mascarado olhando diretamente para ela e, após arrancar o coração do homem que estava na mesa, ele caminhou até ela. Eliza queria fugir, mas algo a deixava presa àquele lugar. No fundo de sua mente sabia que aquilo não era real, mas ao ver o homem mascarado se aproximar cada vez mais, ela já não tinha certeza. Foi então que uma batida alta a fez acordar ofegante.
Ao abrir os olhos, Eliza viu que estava em sua cama, mas não lembrava de ter se deitado. Seu quarto ainda estava escuro, avisando que a noite não havia acabado e obrigando Eliza a acender a luz da escrivaninha para enxergar melhor. Foi então que ela notou que seus desenhos não estavam lá e correu para procurá-los em seu esconderijo. Ao ver seu último quadrinho no topo da pilha, respirou um pouco aliviada e escondeu tudo novamente. Ela decidiu ir ao banheiro lavar o rosto e, antes de voltar para o quarto, viu um prato de comida que sua mãe havia deixado ao lado de sua porta, embrulhado com plástico filme. Ela decidiu comer antes de voltar a dormir e, quando se deitou novamente, os pesadelos a acompanharam até os primeiros raios da manhã.
No horário usual da escola, a mãe de Eliza bateu na porta para saber se a jovem iria para aula. Apesar de acordar com dores em seu corpo e o cansada após uma noite mal-dormida, Eliza cogitou se iria ou não para aula. Após decidir que ficar em casa não a ajudaria em nada, vestiu a primeira roupa que encontrou, amarrou o cabelo e colocou suas coisas em uma mochila velha, saindo de casa sem comer ou falar com os pais. Todavia, alguns metros depois de sua casa Eliza já estava arrependida de sua decisão. Sentia como se todos os olhos estivessem sobre ela, sejam para persegui-la ou julgá-la. Antes mesmo de chegar na próxima rua, ela correu de volta para o seu quarto, onde se trancou e ignorou os chamados de seus pais, que estavam surpresos com a volta repentina.
Eliza vestiu um conjunto moletom e se enfiou debaixo das cobertas, colocando fones de ouvido para ouvir músicas aleatórias no volume máximo e isolar qualquer outro som. Após algum tempo, a queda da adrenalina trouxe de volta o cansaço da noite mal dormida, que a venceu e ela voltou a dormir, mas longe de conseguir descansar. Após um looping do mesmo pesadelo da noite passada, Eliza acordou ofegante e decidiu que descansar não seria uma opção.
Resolveu passar o resto do dia trancada em seu quarto refazendo os desenhos que havia perdido e só reparou que o tempo havia passado quando ouviu seus pais retornando do trabalho. Eles a chamaram para jantar e, após muita insistência, a jovem cedeu, juntando-se a eles para uma refeição. Os pais dela nunca foram amistosos ou presentes, ainda mais após a visão que haviam construído de Eliza ser uma garota com problemas. Com um pai bombeiro e uma mãe enfermeira que viviam fazendo plantões, a jovem costumava ficar mais confortável em sua própria companhia do que na presença dos seus progenitores, principalmente após a situação da noite anterior. Por isso, após terminar de jantar, foi para o seu quarto e programou a história que trabalhara durante a tarde para ser publicada em seu site no dia seguinte, indo dormir logo em seguida por pura exaustão.
No dia seguinte, Eliza acordou bem mais tarde, já decidida a não sair de casa. A primeira coisa que fez foi abrir o seu e-mail para ver notificações sobre a história que havia programado para ser postada algumas horas antes. A primeira mensagem que apareceu era um comentário extremamente agressivo e negativo sobre a postagem, mas ela nem se atentou muito, afinal sempre tinham reações do tipo. Contudo, após os comentários seguintes serem muito parecidos e não parecerem ter nexo com o conteúdo postado, a garota resolveu abrir a publicação para entender melhor o que estava acontecendo.
Assim que a página carregou, Eliza congelou por um momento, assustada. A história que havia sido postado algumas horas antes não era a que havia programado, e sim o último quadrinho que fizera do homem de máscara. De fato, aquele conteúdo era agressivo e nada parecido com o que postava, mas ainda achava aqueles comentários exagerados, já que haviam outros quadrinhos bastante violentos na internet. Continuou lendo o que as pessoas estavam falando até que um comentário com um link chamou a sua atenção.
O link levava para uma notícia de um homem que havia sido achado morto naquela mesma manhã totalmente esfolado e com o peito aberto. Quando ela viu a foto da vítima, sentiu o mundo ao seu redor ficar embaçado e seu coração parar. A vítima encontrada era o seu agressor, que havia sido morto da mesma forma que ela desenhara e, para piorar, havia postado na Internet. Ao se recuperar do choque, ela correu até seu guarda-roupas e procurou a caixa com suas produções escondida, se deparando com algo que a fez gritar e se afastar de pavor. Todos os demais quadrinhos haviam sumido e só restava o do seu agressor, que estava manchado de sangue e, embaixo dele, havia um coração humano.
Sua mãe abriu a porta de modo abrupto após o grito e foi até Eliza que estava encolhida em cima da cama. Nesse momento, batidas fortes soaram da porta da frente e a polícia anunciou sua presença. Quando o pai de Eliza abriu a porta, eles anunciaram o mandado de prisão preventiva de Eliza por suspeita de homicídio do médico local, encontrado morto naquela manhã. Todas as provas estavam apontando para ela e, naquele momento, Eliza percebeu que não saberia como poderia se defender, pois nem ela sabia se era inocente.
Continua na parte 3...
Autora: Bruna Gonçalves
Idade: 23 anos
Localidade: Brasília
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