Mês do terror: Eliza (parte 3)


Título: Eliza
Classificação: +14
Gênero: Terror/Suspense
Sinopse: Todos conhecemos alguém como Eliza, uma pessoa que costuma ficar quieta em um canto, fazendo suas próprias coisas, como se estivesse à parte do mundo. Normalmente, pessoas assim são as vítimas preferidas dos valentões (e valentonas) na escola, mas também de quem menos se sabe a respeito. Algumas dessas histórias somem com o tempo, já outras, criam marcas que nunca serão esquecidas. Essa é a história de Eliza e você decide em que categoria ela se encaixa.


Leia antes a parte 1 e a parte 2

3

“Eliza havia perdido a noção do tempo, mas acreditava ter se passado horas desde que entrou naquela sala sem a menor ventilação com um oficial que só se levantara da cadeira para andar irritado de um lado para o outro. Ela conseguiu perceber a surpresa dos policiais quando descobriram que Eliza era menor de idade e, devido à ausência de flagrante, o procedimento era bem diferente do que eles estavam preparados.
Devido ainda estar em pânico pelo ocorrido, os policiais decidiram algemá-la, porém, no caminho para delegacia, a garota teve bastante tempo para processar o que estava acontecendo. No exato momento em que pisou na DP, foi levada para a sala onde eram realizados os interrogatórios, porém já havia se recomposto o suficiente para responder às perguntas com clareza. Contudo, a polícia não estavam acostumados com pessoas como Eliza em situações como aquela, e a garota percebeu aquilo. Após anos de agressão de todos os tipos, tendo que evitar reações pelas quais ela seria punida, Eliza aprendeu a deixar todas as suas angústias longe dos olhos externos.
Por isso, enquanto seus pensamentos davam voltas em busca de tentar entender como aquela situação havia se construído, por fora, Eliza era o perfeito exemplo de autocontrole. Isso só deixava o oficial que a investigava mais irritado, pois nenhuma das estratégias normalmente utilizadas trazia resultados com a jovem. Ele tentou amedrontá-la com o que aconteceria se ela mentisse, ameaçá-la de prisão, detalhando tudo o que acontecia nas cadeias femininas, tentando arrancar o nome de algum outro suspeito, mentir dizendo que os pais dela já estavam delatando seus crimes em outra sala e Eliza só repetia a mesma informação.
Isso porque era tudo que a garota sabia. Ela havia sido violentada, fizera uma denúncia e desde então permaneceu em casa. Sobre o quadrinho, Eliza contou que havia programado um totalmente diferente para postagem e, sem que ela soubesse como, ele foi trocado entre o momento que ela programou e a postagem. Cansada de apresentar todos os argumentos e fatos possíveis, Eliza pensou em dizer que a única forma dela contar uma versão diferente seria se começasse a mentir, porém, temendo um desacato, apenas se calou, e foi quando o policial se levantou irritado.
Ele decidiu deixá-la “de molho” e ver como estavam as outras investigações. Eliza usou o seu tempo sozinha para tentar pensar em como aquilo poderia ter acontecido. Retraçou, mentalmente, todos os seus passos nos últimos dois dias para tentar descobrir quem poderia ter feito aquilo, mas tudo o que vinha a mente era seus pesadelos mais recentes, onde enxergava o homem mascarado de perto e se via frente a frente com seu agressor com o peito aberto. Lembrou de alguns blackouts que teve, sem lembrar de ter guardado o desenho ou se deitado na cama. Teriam sido mesmo blackouts? Ela não tinha certeza de mais nada e, por algum motivo, sentia culpa.
Eliza fechou os olhos e só conseguiu mentalizar o homem com o machado, foi então que lembrou de todos os desenhos desaparecidos. Eles eram a peça perdida, a resposta para o que havia acontecido. A jovem lembrou de todas as atrocidades que havia desenhado e como o homem mascarado sempre voltava para fazer mais e pior. Lembrou de como a morte daquele homem havia sido exatamente como ela desenhara e que, por um lado, só ela conhecia cada pessoa dos desenhos, mas por outro, havia apresentado a ele cada uma delas.
Por fim, um calafrio lhe subiu a espinha quando lembrou uma frase que sua avó dizia ‘quando desejamos muito uma coisa ela se torna realidade’. Eliza sempre imaginara que essa era uma frase qualquer que era dita para as pessoas não desistirem dos seus sonhos, mas sabia que seu maior desejo era o sofrimento de todas as pessoas que lhe faziam sofrer. E agora uma delas, a pior delas, não só estava morta como Eliza estava sendo culpada por isso e, no fundo, era como ela se sentia.
Se desejos realmente se realizassem, um assassino cruel e impiedoso poderia estar à solta e a morte do médico teria sido apenas a primeira. Ela começou a pensar em todos os desenhos que acumulou no decorrer de 8 anos e foi então que um, em especial, inundou sua mente. Eliza se desesperou novamente, ela precisava sair dali. Quando abriu os olhos, as luzes da sala estavam apagadas e, ao olhar ao redor, notou que havia alguém no canto da sala. Ao observar com mais atenção, viu que era o homem com o machado e começou a gritar.
Foi então que acordou assustada e ofegante. Percebeu que estava no seu quarto e ainda era de manhã. Respirou fundo e imaginou que tudo havia sido um pesadelo, ainda que diferente de qualquer outro que já tivera. Levantou e, ao encarar o computador, decidiu ligá-lo. Nesse momento, ela viu a notícia: um médico havia sido morto naquela madrugada. O seu agressor havia sido encontrado morto e esfolado. Ela abriu o seu perfil de desenhos e o quadrinho do homem do machado havia sido postado há poucas horas. Eliza, já desesperada, correu para sua caixa de desenhos e viu o papel ensanguentado.
As imagens do sonho começaram a voltar em sua cabeça então, desesperada, ela pulou pela janela do seu quarto, que ficava no primeiro andar. Era uma altura de um pouco mais de um metro, mas ainda foi o suficiente para ela cair de mal jeito e deslocar o ombro, chamando a atenção de algumas pessoas que passavam ali com seus cães ou fazendo caminhada. Ela viu um carro de polícia entrando na sua rua e indo para a parte da frente do seu prédio, então começou a correr na direção oposta.
Eliza estava perdida e desesperada. Mais do que nunca, não sabia o que fazer ou aonde ir. Não tinha ninguém que poderia confiar. Como sempre, ela estava sendo perseguida por algo que não havia feito. Como sempre ela não sabia como provar sua inocência. Todavia, a situação era pior do que antes. Ela tinha consciência de que havia um maníaco a solta. Um que conhecia suas fraquezas melhor que qualquer outra pessoa. Um que iria procurá-la e, ela tinha certeza, iria encontrá-la.
Por isso ela sentia urgência em correr, fugir, sumir. Só não sabia como faria isso. Estava sem dinheiro, de pijama, com o ombro machucado e nunca fora uma atleta. O desespero crescia cada vez mais dentro de Eliza, enquanto ela só conseguia focar no caminho a frente. Continuou assim por alguns metros e, de repente, tudo ficou escuro.”



    Continua na parte 4...


Autora: Bruna Gonçalves

Idade: 23 anos

Localidade: Brasília


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