RESENHA - A Fortaleza: Colonização (Day Fernandes)




Ficha técnica:
Referência bibliográfica: FERNANDES, Day. A fortaleza: colonização. 1ª edição. Brasília, Edição do autor, 2019. 324 páginas.
Gênero: Distopia; Ficção científica.
Temas: Colonização; Tecnologia; Sobrevivência.
Categoria: Nacional
Ano de lançamento: 2019
Série: A fortaleza

“A carcaça de metal da embarcação começou a se desprender. Ela tentou manter os olhos abertos, mas um clarão intenso e ofuscante atingiu sua íris sensíveis. Em seguida, tudo se apagou.”
*A Fortaleza: Mundo Sombrio (pág. 292)

Após os diversos acontecimentos em A Fortaleza: Mundo Sombrio, a população da Fortaleza nº 7, liderara por Camille, está seguindo para Tellus, o novo planeta que será povoado após a destruição das possibilidades de se viver na Terra. Todavia, as dificuldades que eles irão encontrar nesse novo ambiente começa na aterrissagem. Devido aos danos que a nave sofreu, ela se fragmentou e o grupo acabou pousando em locais diferentes nesse planeta totalmente desconhecido. Agora, além de aprenderem a sobreviver no novo ambiente, precisarão achar meios para se reencontrarem, e com isso, ainda irão descobrir que Tellus está longe de ser a terra prometida, escondendo não apenas perigos naturais, como também segredos que se perpetuam desde as fortalezas.




No início do segundo livro, nos deparamos com diversos acontecimentos, além da informação de que existem habitantes em Tellus que estes estão bastante familiarizados com o planeta. Eles são os primeiros que veem a chegada da nave e acabam resgatando Camille, que acabou sozinha na praia devido ao acidente na aterrissagem. A princípio, não sabemos quem são essas pessoas ou se são aliadas ou inimigas. Portanto, estamos tão confusos com o que está acontecendo quanto a nossa Capitã.

Além disso, devido a separação do grupo, iremos acompanhar eventos simultâneos por meio de capítulos alternado, assim, também acompanhamos Sarah, Eleonor e Adam, em uma parte da floresta, e Will, Hans e Cyrus, em outra parte dela. Desse modo, logo no começo da história já é possível desconfiar que tem algo muito estranho ocorrendo em Tellus e isso envolve a chegada dos personagens.

A fim de evitar spoilers, eu vou, resumidamente, falar que são diversos os acontecimentos em A Fortaleza: Colonização, a ponto que este se tornou um livro completo, podendo ser lido antes ou até mesmo separado de Mundo sombrio. Há uma continuidade, claro, pois os eventos ocorrem depois do primeiro livro e estão conectados a ele, mas ainda é possível acompanhar a história de Colonização mesmo sem ler ou reler Mundo sombrio, uma vez que há um novo enredo, novos personagens e novos desafios para o grupo que já conhecemos.

Mesmo os eventos relevantes que aconteceram durante o primeiro livro, ou que fazem referência a esse período da história, são relembrados de forma nada repetitiva e bem encaixadas no que está acontecendo. Portanto, lendo ou não o vol. 1, é possível ter acesso a essas informações relevantes.

Essa estratégia de escrever livros de uma série de modo a serem lidos de forma independente é até comum em romances de época, mas é a primeira vez que vejo em uma distopia. Contudo, eu gostei bastante do trabalho e achei uma tática bastante assertiva, uma vez que Colonização foi lançado dois anos depois de Mundo Sombrio. Portanto, se você esperou todo esse tempo pelo segundo livro, mas não começou a ler ainda por achar que precisa reler o primeiro, não hesite mais e leia o segundo volume de A Fortaleza hoje mesmo.

“Você pode escapar de todas as sombras do mundo, mas jamais conseguirá fugir da sua própria”
*A Fortaleza: Colonização (pág. 222)

Ler este livro durante uma Leitura Coletiva, ainda mais sendo a primeira da qual participei, foi uma experiência a parte. A autora criou um grupo no qual ela adicionou todos os participantes e postou durante todo o período de leitura uma série de curiosidades sobre o processo criativo da história e de onde ela tirou a inspiração para diversos elementos da narrativa. Além disso, foi muito bom compartilhar opiniões e impressões, além de interagir com outros leitores. E se tratando disso, uma opinião que vi muitas pessoas compartilhando foi: por mais que Colonização seja muito bom, ainda há um grande amor pelo Mundo Sombrio.

Eu preciso informar, contudo, que penso um pouco diferente e vou explicar o motivo. No primeiro livro temos uma história bastante eletrizante que te leva a tentar descobrir o que está acontecendo e termina de modo completamente inesperado e impressionante. Há, contudo, diversas perguntas que ficam sem resposta e, ao final da narrativa, ainda permaneci com diversos questionamentos. No segundo livro, a sensação que eu tive é que a história segue mais devagar, pois as ações são mais cautelosas. Isso porque todos estão em terreno desconhecidos com inimigos extremamente habilidosos, logo, tudo ao seu redor pode ser letal.

Outra coisa que achei muito interessante nessa continuação é o protagonismo feminino. Desde o primeiro livro temos bastante ação das mulheres, mas neste segundo livro parece que elas são as únicas responsáveis por mover a história. É claro que há ação dos personagens masculinos, inclusive ações vitais, mas a sensação deixada é que há um destaque maior para as ações femininas, o que é de uma relevância enorme no período em que vivemos. Além das personagens terem uma pluralidade no que tange suas personalidades, cada uma, a seu modo, realizam feitos impressionantes, e isso aparecer em uma história de ficção científica, espaço ainda predominantemente masculino, é de um peso gigante.

Todavia, nem tudo são flores. É importante destacar que Adam e Camille não vão ter muitas cenas juntos nesse livro, por eventos diversos que levam à separação dos dois, o que faz com que muitas ações da Capitã sejam voltadas para se reunir com Adam, não só por saudades, mas temendo pela vida dele. Não achei, contudo, que chega a ser algo chato, como acontece em algumas histórias, em que a protagonista só pensa nisso. Pelo contrário, o maior conflito de Camille, nessa história, é sair um pouco do papel de Capitã, que se preocupa com o bem-estar de todos, e se permitir sofrer um pouco a dor dessa separação, que só temos maiores conhecimentos graças ao tipo de narrativa.

Além disso, até quase metade do livro, fiquei com uma forte sensação que surgiram mais perguntas do que respostas para o que estava acontecendo. Felizmente, tudo é respondido de forma bastante plausível, na minha opinião, até o final do livro e temos um epílogo muito emocionante.

Mesmo eu reafirmando que eles podem ser lidos de forma separada, acredito que Colonização responde muitas perguntas de Mundo Sombrio e, na minha atual fase de “quero coerência e um destino digno para os personagens”, ele atendeu completamente minhas expectativas. Por isso, eu não consigo concordar com a frase “Colonização é um livro muito bom, mas...”, porque achei Colonização um livro muito bom, ponto. Ambos os livros da duologia têm um espaço especial no meu coração por suas particularidades.

A narrativa do livro é feita em terceira pessoa por um narrador onisciente que acompanha personagens diferentes em cenas diferentes, o que nos permite acompanhar os personagens ainda quando estão separados, como mencionei anteriormente. Nesse livro também há alguns flashbacks, porém em quantidade bem menor que o primeiro. O livro encontra-se em versão digital, na Amazon, e física, que pode ser adquirida com a própria autora, sendo que a versão física ainda traz diversas páginas especiais com informações bônus.

Cabe lembrar que livro 1 também passou por um novo projeto gráfico que apresenta uma diagramação e identidade visual parecida com o livro 2. O segundo livro, junto com a nova edição do primeiro, foi publicado através de uma campanha no Catarse, com direito a edições numeradas para os apoiadores. E é impossível não mencionar a foto sensacional da autora na orelha do livro, um clique do Luciano Vellasco que, além de blogueiro, é fotógrafo e tem pacotes especiais para autores. Se tiver interessem você pode conferir mais sobre o trabalho dele no Instragram do Academia Literária e no perfil de fotografia o @vellascofotografia.


Day Fernandes é uma autora brasiliense formada em Psicologia que começou sua jornada de escritora no mundo dos livros digitais, mas já realizou publicações independentes e, recentemente, teve sucesso em sua primeira campanha de financiamento coletivo para o lançamento do segundo volume da duologia A Fortaleza. Entre livros, contos e antologias, a autora se destaca por suas obras de fantasia e ficção científica. Além disso, esteve na Bienal do Livro de 2018 junto com André Vianco, através da Hardcover, com “Uma ilha no Atlântico”.

E para aqueles que se interessarem, recomendo a leitura não só de Colonização, como da duologia A Fortaleza para todos que gostam de distopias, principalmente com um debate político e enredos intrigantes. Além disso, essas são obras que representam bem a qualidade da literatura nacional e, principalmente, da literatura feita por mulheres, mostrando que o que define uma literatura de ficção de qualidade não é a identidade de gênero.


Bibliografia de DAY FERNANDES:

Livros:

·                     A Fortaleza - Mundo Sombrio – Edição do autor (2017).
·                     Uma ilha no Atlântico – Edição do autor (2018).
·                     A Fortaleza – Colonização – Edição do autor (2019)

Contos:

·                     Sob a Minha Pele – Edição do autor (2017).
·                     Os Opostos Se Distraem – Editora Sekhmet (2017).
·                     Visões Noturnas – Edição do autor (2017).
·                     A Segunda Face do Espelho – Darda Editora (2016). 

Antologias

·                     O Hospício de Muskov – Editora Wish (2017).
·                     Valquíria – Editora Darda (2016).
·                     Abduções e outros contos – Editora Young (2017).
·                     Romances de época – The books (2018)
·                     Rebele-se – Qualis (2019)
·                     Antologia romântica – Lura (2019)


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