RESENHA - Vozes do Joelma (vários autores)

Resenha da obra que reúne grandes nomes da literatura de terror nacional publicado pela Faro Editorial




Ficha técnica:
Referência bibliográfica: DE BRITO, BARCELOS, DE OLIVEIRA, BONINI, Marcos, Marcus, Rodrigo, Victor. Vozes do Joelma. 0ª edição. Cidade, Editora, Ano. 00 páginas.
Gênero: Terror.
Temas: assassinatos, assombração, tragédia.
Categoria: Literatura Nacional.
Ano de lançamento: 2019.


    A próxima narrativa trata de uma mulher cega pela ambição - que trouxe uma pequena fração do inferno à Terra e enviou quase duas centenas de almas ao meu encontro -, mas, antes disso, presta bem atenção no que dir-te-ei: certas histórias são inventadas e todo mundo acaba acreditando.
*Vozes do Joelma (pág. 64).
  
    Edifício Joelma. 
    Um nome que até nos dias atuais ecoa como um dos principais desastres da história brasileira. Em 1974 o prédio pegou fogo, deixando quase 200 pessoas mortas e mais de 300 feridos. Esse acontecimento ganhou as manchetes na época e o local ganhou uma aura de maldição.
A partir desse tema, quatro grandes nomes do terror/suspense nacional se reuniram para narrar histórias macabras e perturbadoras a respeito dos mistérios que envolvem a região onde ocorreu o incêndio do edifício. 


O incêndio no Edifício Joelma foi uma tragédia ocorrida em 1° de fevereiro de 1974 no Edifício Praça da Bandeira, na região central de São Paulo, Brasil, que provocou a morte de 187 pessoas e deixou mais de 300 feridos.



    Vozes do Joelma - Os gritos que não foram ouvidos, é uma obra um tanto peculiar. Isso porque ela é a junção das mentes criativas (e perturbadas, devo acrescentar) de quatro autores da Faro Editorial: Marcos deBrito, Marcus Barcelos, Rodrigo de Oliveira e Victor Bonini, carinhosamente chamados por mim de “Os quatro cavaleiros do apocalipse” haha. 
    Foi com muito entusiasmo que recebi a notícia de que os autores da Faro Editorial, encabeçados pelo Pedro Almeida, o “Chefe”, estavam planejando um livro que teria a participação de quatro nomes do terror/suspense nacional e ainda contaria com a participação especial de Tiago Toy, outro grande expoente do terror nacional. E não é segredo para ninguém que sou amante de obras de terror, não é?
    Pois bem, este é um livro que apresenta quatro contos centrados no acontecimento real do Edifício Joelma. Eu vou tentar ser breve e apresentar a vocês todos os quatro, falar sobre a história de cada e por fim a opinião geral. Então, vamos lá:



Marcos deBrito
    Marcos deBrito abre os trabalhos com o conto “Os mortos não perdoam”, que conta a história de Pablo, um jovem estudante universitário que era infernizado por sua mãe e suas irmãs mais novas. Certo dia ele decidiu que iria matá-las e é a partir daí que o autor vai e volta no tempo para contar a história macabra de assassinato. 
    O Marcos é conhecido por ser sanguinário em seus textos. E se eu não tivesse lido antes o “A Casa Dos Pesadelos” teria estranhado essa abordagem, pois aqui o autor brinca com o sobrenatural de uma forma a torná-lo um ser intangível que mais agride a alma do que o corpo de suas vítimas, assim como ele fez com o personagem Tiago em “A Casa dos Pesadelos”. Fora isso, o texto dele segue a linha de “momentos de calmaria antes da tsunami”. Então prepare-se para ficar apreensivo a cada página. 
Para dissolver os cadáveres, Pablo precisaria de uma quantidade considerável de produtos dificilmente encontrados em farmácias de bairro e, como perdera a chance de contrabandeá-los do laboratório, restou-lhe uma única opção: assumir que o terreno seria uma necrópole sem lápides.
*Vozes do Joelma (pág. 43-44).



Rodrigo de Oliveira
    O próximo é o Rodrigo de Oliveira que escreve o conto “Nos deixem queimar”. Nele acompanhamos a personagem Samara, uma mulher que trabalhava no Edifício Joelma e por conta de alguns acontecimentos da trama, acabou tornando-se o epicentro da tragédia que deixou dezenas de mortos. 
    Quem já leu “as Crônicas dos mortos” sabe que o Rodrigo tem aquele tom de urgência em seus textos, além do tom frenético com que trata o clímax de suas histórias. E aqui não é diferente, o autor é implacável em suas cenas de morte visceral que fazem os nervos fracos embrulharem o estômago com a riqueza de detalhes. Aviso dado. 

          Sarama observava aquela cena dantesca com os olhos esbugalhados e marejados. Ofegando, não conseguia acreditar no que via, pois era exatamente como imaginava o Inferno: várias pessoas implorando para serem salvas de um buraco onde eram incineradas vivas.
*Vozes do Joelma (pág. 103).



Marcus Barcelos
    Marcus Barcelos apresenta o conto “Os treze”, que narra a história de um homem chamado Amilton, um homem solitário que abriu mão de sua vida social para cuidar da mãe adoentada. A vida fez com que Amilton fosse um homem que aprendeu desde cedo a se virar e a pensar que só o dele importava, os outros que se virassem com seus problemas. Tudo muda após sua mãe falecer e, por conta de alguns eventos, ele ir trabalhar em um cemitério. Uma mudança que, diga-se de passagem, mudaria a forma que ele enxerga a vida.
    Eu não cheguei a ler os livros do Marcus (foi minha namorada que leu), então, o que posso dizer é que o autor não tem muita pressa de dizer o que quer dizer. Ele vai contando a história devagar, como se fizesse questão de ambientar o leitor antes de surpreendê-lo com algo inesperado. E uma curiosidade: é o único dos contos que tem um final minimamente feliz.

Assustado, tentei falar, gritar, mexer os braços; mas nada aconteceu. Então, vários vultos negros e deformados apareceram acima de mim. O calor e o dor acre de carne queimada que senti foram instantâneos.
Eles choravam e se lamentavam, alguns sem cabeça, outros com quase metade do corpo faltando. Um deles, o mais próximo, tocou a minha testa com a sua mão carbonizada, provocando uma horrível sensação de queimadura. Mais uma vez, tentei gritar.
*Vozes do Joelma (pág. 165).



Victor Bonini
Victor Bonini fecha com o conto “O homem na escada”, que narra a história de Solange, uma sem teto que, como muitos, usou o esqueleto do Edifício Joelma como moradia. Ela vivia com sua filha Eugênia, grávida de um homem que a abusava física e mentalmente.  Certo dia o homem apareceu morto em sua própria casa e a partir dali seu pesadelo pessoal tem início.
    Victor brinca com o leitor, quase como que dizendo “adivinhe o que vai acontecer em seguida”. O terror se mescla muito com o suspense, pois na narrativa a protagonista se vê muitas vezes encurralada em uma investigação pelo paradeiro do defunto, com pistas sendo descobertas a cada nova página. Um agrado para os fãs do autor que é famoso pelos seus livros investigativos. 
   
A ansiedade, o horror (você não faz ideia. Se fosse você no meu lugar, com um cadáver no seu apartamento, o cadáver de alguém que merecia morrer, o que você faria? Sairia de casa com o morto numa mala – minha cabeça, tão alterada, chegou a pensar em cortar o corpo todinho –, desceria de elevador, pegaria o carro e sumiria com ele pela cidade, certo? Só que aqui, meu amigo, ninguém é dono de carro e a ocupação não tem elevador. A gente usa as escadas no escuro mesmo. Se vira nos trinta).
*Vozes do Joelma (pág. 205).



Tiago Toy
    O autor foi responsável pelos textos de apresentação de cada conto e para mim foi a cereja que faltava para o bolo ficar completo. Não darei spoilers para não estragar a imersão, mas devo comentar o quanto o Tiago Toy me surpreendeu. Não li ainda as obras do autor, então não posso comentar sobre seus livros anteriores, mas nesse livro seu texto está fenomenal. 
A forma como ele linka os contos e fala sobre seus acontecimentos dentro das tramas é simplesmente sensacional. Eu não me surpreenderia se dentro em breve o autor fosse convidado pela editora a compor o time de autores do suspense e terror no catálogo da Faro. 






Fazendo um apanhado geral: o livro é sensacional. Como era de se esperar para quem acompanha a editora, essa não é apenas um apanhado de contos aleatórios de terror. Não teve essa de “temos um tema, cada qual escreve o seu”. Não. É possível notar que tudo foi muito bem conversado entre os autores, com direito até a menções de um conto em outro. Não que os contos sejam conectados diretamente iguais aos filmes da Marvel, não é isso. Eles são conectados pela temática da tragédia do joelma, e podem conversar entre si por meio desse ponto central, tendo uma citação ou outra que faz referência a outro conto. E eu acho esses pequenos easter eggs muito legais de notar.
Outro ponto forte dos contos é que eles não necessariamente são ficções baseados em um fato real (o incêndio). Ela fala sobre situações e pessoas reais, pessoas que poderiam ter feito as coisas que fizeram e sofrido o que os personagens sofreram. Isso se mostra bem evidente no conto do Victor, que de todos, ao meu ver, tem a história mais comum, que é a de uma mulher pobre que teve de lutar muito para criar sozinha a filha e por obra de sua situação social vê a filha trilhar quase os mesmos passos. Trechos da obra são como socos em nosso estômago de tão reais. 

Falando da diagramação da obra: a faro sabe como entregar um livro bem feito para seus fãs. A começar pela arte sensacional da capa e projeto gráfico assinado pelo Osmane Garcia Filho. A narrativa dos contos varia entre primeira e terceira pessoa. A revisão está excelente, encontrei dois errinhos bobos, nada demais. As Ilustrações que compõem as narrativas da entidade são sinistras e foi muito bem acertada colocar trocar por preto a cor da folha para diferenciar sua narrativa das demais. O livro é dividido em quatro grandes contos, intercalados pelas narrativas da entidade.
Como são muitos autores, não irei colocar aqui o texto de identificação de cada um. Ao invés disso vou deixar o link do Skoob para eventuais pesquisas que queiram fazer. A mesma coisa vale para a biografia de cada um. Estará tudo nos links abaixo.
    Recomendo demais esse livro para qualquer um que já tenha lido algum dos livros destes autores. Sério, se você conhece algum deles e gosta da sua escrita, vai gostar desse livro e de quebra irá conhecer o trabalho dos outros autores. Você é fã de histórias de terror? Prato cheio. Você conhece a história do Joelma? Da uma olhada na visão dos autores sobre o tema. E você apoia nacionais? Chega mais que aqui está cheio de autor foda que merece um espaço na sua estante. 

Bibliografia dos autores:








Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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