CONTO - O Regurgitar das Almas


Título: O Regurgitar das Almas
Classificação: Livre
Gênero: Mistério
Sinopse: Histórias sobre uma floresta amaldiçoada ecoam pela região. Seus visitantes têm suas almas sugadas misteriosamente por uma energia maligna. Seria de verdade? Dizem que a maldição da floresta é realmente mortal, mas como fazer quando é extremamente necessário atravessá-la?




                                                     O Regurgitar das Almas

Aproximei-me de uma floresta encantada. Encantada no mal sentido, digo. Chegando lá, encarei-a com a seriedade de um homem de verdade que não sente medo de nada. Histórias são sempre histórias. No início eram boatos, no entanto a situação foi ganhando tanta força diante do número crescente de adeptos, vítimas dessa maldição da floresta. Suas famílias choravam por aí e o número só aumentava. Uma história pior do que a outra. Havia algo ali. E ninguém iria se aventurar a fim de descobrir o que era.
Tenebroso, misterioso e nada misericordioso. Quem adentrar em suas matas morre. Ou, dependendo do ponto de vista, é regurgitado para o inferno. Há quem diga que aqueles que se aventuram nessa natureza do diabo têm suas almas perdidas. Elas saem de seu corpo à força, aos poucos, doendo, adoecendo suas vítimas. No final o que já fora um corpo com vitalidade exacerbada transforma-se numa massa marrom, queimada, sem alma, com uma expressão sofrida e gritante. É a carcaça do corpo humano pútrido e sem vida.
E, enfim, lá estava eu, de frente para ela. De frente para a floresta. De frente para a morte. Para não acharem que sou louco, precisava mesmo atravessá-la. Mamãe estava doente e piorava cada dia mais. A erva medicinal de que precisava era rara e encontrava-se somente do outro lado das árvores. Não poderia ficar parado. Iria curar sua enfermidade, custe o que custar.
Sentia a alma dela regurgitando também, mas aos poucos, de modo muito sofrido, tanto para ela quanto para mim. E iria sim fazer alguma coisa. Portanto adentrei. Seja o que deus quiser. As matas na penumbra. Bonitas, cheirosas, perfeitas. Uma bela visão de naturalidade que não presenciava há anos.
Meia hora de caminhada. Era tudo que eu precisava. Andava penetrando fortemente em suas folhagens e, logo, veio-me um desespero que havia entrado no lugar do medo, enchendo-me de coragem, pois a minha mãe deveria e iria ser salva.
Estava fácil. Nada acontece de inicio.  Então, de repente, um lobo passa por mim correndo e sumindo ao horizonte lá na frente. Assustei-me de inicio, mas me esforcei para permanecer calmo. Acho que ele nem reparou em mim.
Chegando mais à frente uma alcateia me aguardava. Tremi. Eram muitos e cercavam-me pelo medo. Fiquei observando esses animais belos, porém perigosos. Estava parado, inconsolável, esperando os piores acontecimentos.
Eis que um homem da floresta, vestido de folhagens, aparece. Nunca havia visto um tipo igual àquele. Deu-me as boas vindas e pergunta o que eu fazia ali. Eu disse a situação real em que me encontrava. Falei de minha mãe doente. Ele assentiu com a cabeça. Estava me entendendo. Sabia o que estava passando em meu interior e do risco que corria ao estar realizando tudo isso.
Ele me deu os parabéns por chegar até ali com vida. Fiquei confuso e perguntei quem era. O homem da floresta sorriu forte. Disse que era um amigo e que iria me salvar. Estendeu a mão e lá estava a erva medicinal rara que tanto queria. Parecia saber por que eu estaria ali e que estava procurando aquilo. Bem suspeito, mas como ele me ajudou nem me preocupei. Aliviei-me de modo supremo. Provavelmente estaria a salvo assim como a minha mãe. Só precisava voltar o caminho pela floresta. O coração palpita muito forte o tempo todo desde que entrei nesse ambiente misteriosamente hostil. O bom é que nem precisei atravessá-lo por completo.
Corri. A erva salvadora estava em mãos.  Voltava o caminho passando pelas folhagens com a velocidade de uma lebre em desespero. Quem olhasse de longe só veria um vulto. Na metade do caminho senti uma tonteira e tropecei. Doeu a queda. Soltei um grito de dor aliada à minha vociferação feroz dos palavrões. Permaneci deitado ali, olhando o fim das árvores lá em cima. Que bonita era essa visão. A tonteira continuava e por algum motivo senti um rápido calafrio forte. Provavelmente um receio do que poderia vir a acontecer. Porém, em seguida, veio-me uma sensação de pleno sossego. Lugar bonito mesmo. Na realidade estive tranquilo a partir daquele momento em que fiquei deitado. Meu coração, inclusive, parou de bater em desespero. Estava mesmo sentindo-me bem. Nada ali estava parecendo perigoso. Minha mãe nem imagina a sorte de ter um filho desses, especial. Não fui abatido pela maldição.
Depois de uns 5 minutos admirando, deitado, a paisagem e com aquele bem estar, levantei e continuei minha caminhada. Estava só andando agora, pois não estava mais desesperado. Essa floresta é comum. Nada acontece. Agora, além de poder curar mamãe, estava pronto para informar ao povo que a maldição dessas matas não existe. Desvendei o mistério e iria ser famoso por isso. O homem estranho que ali habitava era bom, o que me faz crer que deveremos respeitar e valorizar essa floresta, e não temê-la.
Saí de lá e cheguei ao povoado. Que felicidade. Corri novamente, mas de alegria e ansiosidade, até minha casa. A porta já estava aberta e entrei com a erva em mãos gritando pela minha mãe, emocionado por ter mesmo sobrevivido e encontrado a cura. Chorava de felicidade e imaginei seu póstumo choro de alegria ao ouvir isso. Mas ela nem me ouviu. Estava deitada. Devia estar dormindo e eu fui acordá-la. Deveria medicá-la imediatamente.
Chegando perto, ela estava mesmo embrenhada com força no mundo dos sonhos. Ainda havia aquela expressão de dor e sofrimento, de enferma. Gritei por ela. Não me ouviu de novo. Que estranho. Meu deus, será que ela morreu? Iniciou-me uma interior sensação de desespero, que logo dissipou-se quando o meu irmão pequeno aparece chamando mamãe e ela acorda. Eu fiquei aliviado e dei um olá feliz informando a eles novamente sobre a cura. Os dois não me ouviram, depois reparei que sequer me viram.
A sensação horrível de desespero voltou. Ai, deus, o que aconteceu comigo? Demorei para entender a verdade.
Agora compreendo todo esse sofrimento das almas regurgitadas, pois havia virado uma.




Autor: Felipe Drummond

Idade: 25 anos

Localidade: Rio de Janeiro

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Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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