RESENHA - Cartas para um pai (Janaina Rico)

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: RICO, Janaina. Cartas para um pai. Campo Grande, Modo Editora, 2013. 1ª edição, 206 páginas.
Gênero: Chick Lit.
Temas: Gravidez.
Categoria: Literatura nacional.
Ano de lançamento: 2013.












“Fiquei algumas horas, deitada na minha cama olhando para o teto. A ideia de abortar me parecia tentadora. Simplesmente não tinha como criar uma criança. Eu nem sei o que elas comiam, para ser muito sincera.
Entretanto, acredito em energia. E, como num passe de mágica me dei conta que tinha um ser vivo dentro da minha barriga, e que estava naquele momento trocando energia comigo. Era muito injusto da minha parte que ele se sentisse rejeitado, e uma paz tomou conta do meu ser. Levei minha mão até meu umbigo, e falei em voz alta:
_ Oi, pequeno alien. Eu sou sua mãe.”
*Cartas para um pai (pág. 13).



                Juliana é uma universitária brasiliense que, prestes a entrar no seu último semestre de curso e as portas da monografia, junta todas as economias conquistadas com seu suado emprego como secretária e resolve dar-se de presente umas agradáveis férias nas praias de João Pessoa. Os planos incluíam sol, mar, areia, barzinhos, bebidas e muita curtição. Entretanto, logo na primeira tarde ela conhece Anderson, um universitário lindo e com um charmoso sotaque local. A atração é imediata e por todos os 30 dias seguintes eles se curtem e exploram os mais diferentes cenários em suas aventuras sexuais. Fim das férias, de volta para casa (uma pequena quitinete alugada), para o trabalho e para a faculdade, Juliana descobre que trouxe da viagem bem mais que um bronzeado e lembranças picantes. Trouxe também um bebê em seu ventre. Grávida, a jovem de 23 anos vê-se envolta a questões nunca imaginadas (sequer sabia com alimentar um bebê) e vê seu mundo se transformar aos poucos, à medida que seu “pequeno alien” se desenvolve dentro de si. Como forma de manter a mente sã frente a tantas novidades; como um meio de se expressar e extravasar as dúvidas, os medos e as descobertas; e como maneira de manter o elo entre si e Anderson, Juliana escreve e envia cartas para o pai de seu bebê.
                “Cartas para um pai” é uma narrativa das descobertas e das sensações de uma gravidez. Juliana, uma mulher jovem e despreocupada, vê-se de repente uma mãe solteira, enfrentado sozinha os mistérios da maternidade não planejada. Sozinha porque o pai de seu filho está longe, a muitos quilômetros de distância. E sozinha porque ela, num primeiro momento de surpresa e desespero, não encontra coragem para compartilhar a novidade com mais ninguém, nem mesmo com sua família (pai, mãe e as duas irmãs). A protagonista relata através das cartas que envia a Anderson as mudanças no seu corpo e em sua rotina; as sensações que a gravidez desperta; seu estado emocional; a insegurança sobre sua capacidade de criar, sustentar e educar uma criança; suas dúvidas e expectativas em relação ao filho; a ansiedade pela revelação do sexo do rebento; suas descobertas do mundo materno e infantil; o impacto da chegada de uma criança em sua vida financeira; os preparativos para o nascimento do bebê; a mudança em sua percepção de mundo e no seu relacionamento com sua mãe; suas decisões a cerca da relação entre o filho e o pai dele.
                Narrado em primeira pessoa, o livro tem como foco a própria Juliana e suas descobertas (algumas dolorosas, algumas assustadoras, algumas encantadoras) desse mundo novo, a maternidade. As demais personagens – os pais e as irmãs de Juliana, o chefe dela, as colegas de trabalho, as colegas e a professora do curso para grávidas, o médico ginecologista – são meramente coadjuvantes nesse processo. Até mesmo Anderson, o pai do bebê e o destinatário das cartas que intitulam e dão forma ao livro tem papel secundário. Nas páginas que se desenrolam, nenhum deles tem voz, a não ser pela interpretação da própria Juliana. O modo como a narrativa foi construída transmite uma mensagem clara, tenha sido ela intencional ou não: a maternidade é um momento único e, ainda que muitas pessoas estejam direta ou indiretamente conectadas com essa nova ser que se forma, somente a mulher que carrega em seu ventre uma vida pode compreender sua plenitude.
                O livro é estruturado no formato das cartas endereçadas a Anderson entremeadas por pequenos trechos autobiográficos. Não há falas. Não há descrições pormenorizadas de pessoas ou situações. Não há nada além das impressões e sensações de Juliana. Mesmo as respostas que Anderson envia por e-mail somente são apresentas através dos revides que Juliana faz em suas cartas ou nos relatos que ela tece nos pequenos textos, como se o fizesse em um diário. Umas das coisas mais curiosas e simultaneamente mais reveladoras é a maneira carinhosa como Juliana se refere ao seu bebê: meu pequeno alien. A narrativa é curta e concisa, com linguagem coloquial e objetiva. Apesar da seriedade do tema e das inúmeras questões levantadas pela protagonista-narradora, a leitura é leve e tranquila e pode ser facilmente desfrutada em uma tarde agradável. A linda diagramação do livro é algo digno de nota.
Cartas para um pai” é a mais nova obra da escritora brasilense – e agora moradora do Rio de Janeiro – Janaina Rico. Autora consagrada no gênero Chick Lit, Janaina é também editora da revista “Mulheres que comandam” além de escrever e produzir peças teatrais. Extrovertida e espontânea, transporta para suas histórias um pouco de seu jeito de ser. A história de “Cartas para um pai” tem conexão como outra obra da autora através do mesmo núcleo familiar: Juliana é irmã de Clara, personagem título do livro “Ser Clara”. A terceira irmã, segundo relatos da própria autora, também será protagonista de uma obra futura (é esperar para apreciar). Mas, apesar da conexão, os livros não são uma série e podem ser lidos de forma independente e sem ordem estabelecida. Fica a dica: se gostou de Juliana, conheça um pouco mais de Clara; se gostou de Clara, conheça um pouco mais de Juliana. E espere por Rachel.




Bibliografia de Janaina Rico (ordem cronológica):

Livros:
  • Ser Clara – Editora Underworld (2009); relançado em 2012.
  • O maravilhoso livro de desenhos da menina que não sabia desenhar – Pedro & João Editores (2011).
  • Apimentando – Pedro & João Editores (2012).
  • Cartas para um pai – Modo Editora (2013).


Helkem Araujo

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca
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Comentários
8 Comentários

8 comentários :

  1. Janaina Rico é mesmo uma autora e tanto!
    Sua escrita é leve e fácil. Ainda não li esse livro, mas me emociono só com a capa!
    Bela resenha!

    Beijos
    http://www.plantaoonline.blogspot.com.br/

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  2. Obrigada, Paola.
    A Janaina é uma fofa. E sempre procuro fazer as resenhas da melhor maneira possível.
    Bjus

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  3. Que lindo! Só com a resenha já dá vontade de ler o livro! rs

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  4. Olá, queridas Janaina e Vivi.
    Que bom que gostaram da resenha. Fico muito feliz. E a ideia das resenhas é realmente deixar as pessoas com vontade de ler os livros. Então, cai matando Vivi!!!!!!
    E podem esperar que (se nada der errado) toda terça terá resenha nova.
    Bjus

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  5. Eu tenho uma grande curiosidade com esse livro, ele esta na minha lista de leitura faz meses já.

    http://livrosecores.blogspot.com.br/

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  6. Oie,
    Cheguei até aqui seguindo alguns caminhos, primeiro pela Modo que a cada dia tem capas mais belas, e essa me encantou de cara, depois fui pesquisar sobre o que era a obra e cai no skoob, mas decidi que o melhor caminho era ver a página do livro no facebook...e eis que lá notei sua resenha e vim correndo ler. Gostei do que disse e só posso concluir que amaria ler o livro e descobrir tudo que Juliana passou.

    Beijokas Elis - http://amagiareal.blogspot.com.br/

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  7. Oi Elis (posso chamar assim?)
    Leia sim. É um livro muito esclarecedor, principalmente para mulheres que como eu ainda não tem filhos.
    Que bom que gostou da resenha. Leia as outras. Quem sabe não descobre um livro para entrar na fila de prioridades? hihihi

    Bjus

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