Ficha técnica:
Referência bibliográfica: GOLDEN,
Arthur. Memórias de uma gueixa. 1ª edição. São Paulo, Arqueiro, 2015. Tradução:
Lya Luft. 446 páginas.
Gênero: Ficção histórica.
Temas: Gueixas, tradição, Japão.
Categoria: Literatura
Estrangeira; Literatura Norte-Americana.
Ano de lançamento: 1997 nos
Estados Unidos; 2005 no Brasil (pela Editora Imago).
“Ouvi dizer que a semana em que uma jovem se prepara para debutar como
gueixa aprendiz é como quando uma lagarta se transforma em borboleta. É uma
analogia encantadora, mas não consigo imaginar o porquê dela. Uma lagarta só
precisa tecer seu casulo e cochilar algum tempo e, no meu caso, sei que nunca
tive uma semana mais cansativa. O primeiro passo foi mandar arrumar meu cabelo
como o de uma gueixa aprendiz, no estilo ‘pêssego partido’ que já mencionei
antes."
Uma pequena garotinha morava
numa humilde casinha torta de madeira - ou casinha bêbada, como ela a apelidara
- em uma imunda e provinciana aldeia de pescadores de nome Yoroido. Ali vivia
com seu pai idoso, sua mãe doente e sua irmã seis anos mais velha. Chiyo era o seu nome e seus olhos eram de um
cinza translúcido, muito raros num país onde todos tinham olhos negros como a
noite. Quando a doença de sua mãe piorou e o médico disse já não lhe restar
muito tempo, um encontro com um rico e instruído comerciante de peixes mudou
sua vida para sempre. Encantado com a beleza da pequena Chiyo, o comerciante
convenceu seu velho pai que o melhor seria enviar as meninas para Kioto para
tornarem-se gueixas. E então elas foram vendidas, arrancadas de seu lar e de
sua família e enviadas para uma vida
diferente de tudo que conheciam. E foi assim que a pequena Sakamoto Chiyo
iniciou sua árdua e sofrida trajetória para se tornar Nitta Sayuri, uma das
mais belas e famosas gueixas de Gion.
Engana-se quem pensa que a vida
de uma gueixa se resume a saquê, cerimônias do chá, danças, festas e beleza. A vida de uma gueixa é cercada de mistérios, rituais
e superstições que elas não costumam confiar nem mesmo aos seus maiores
benfeitores. Sobretudo, a vida de uma garota até se tornar verdadeiramente uma
gueixa é muito, muito rígida, dura e sofrida. E a vida da pequena Chiyo não foi
nada fácil.
Arrancada de seu lar aos nove
anos, confusa e assustada, logo ao chegar em Gion foi separada de sua irmã e
vendida à Okiya Nitta. E logo em seu primeiro instante em seu novo lar,
conquistou, sem que desse motivos para tanto, o ódio de Hatsumomo, a gueixa
daquela okiya que viu na pequena garota uma rival em potencial. Daquele dia em
diante, a vida de Chiyo foi ainda mais sofrida do que já tinha sido. Como toda
garota comprada para ser uma gueixa, ela teria que pagar um dia pelas despesas
reverentes a sua aquisição, alimentação, vestuário, aulas, eventuais despesas
médicas e tudo o mais que a dona da okiya viesse a investir em sua criação e
formação. E o primeiro pagamento seria através de seu trabalho braçal. E então à
pequena Chiyo foram relegadas as duras condições de vida de uma criada e, pelo
que dependesse da vontade e do esforço de Hatsumomo, teria continuado assim por
toda a vida. Mas, contra todas as agruras e todo o pesar por seu destino imposto,
algo aconteceu e novamente mudou o rumo de sua vida: ainda adolescente, na casa
dos 12 anos, ao ser tratada com bondade e delicadeza por um homem na rua
enquanto chorava de amargura, Chiyo conheceu o amor. E por amor a esse
desconhecido e desejando poder ser digna de novamente receber a atenção daquele
homem, pela primeira vez na vida ela desejou tornar-se uma gueixa. E então, e
somente então, ela se esforçou ao máximo, agarrou-se firmemente a todas as
oportunidades que surgiram depois e fez
tudo o que estava ao seu alcance para ser uma gueixa e poder um dia reencontrar
o homem que arrebatara seu coração.
"Naquele breve encontro com o presidente,
eu passara de uma menina perdida, enfrentando uma vida vazia, para uma menina
com um objetivo. Pode parecer estranho que um encontro casual na rua tivesse
provocado tal modificação. Mas a vida às
vezes é assim, não é?"
*Memórias de uma gueixa, pág. 123
Memórias de uma gueixa é
um relato fascinante de um tradição cultural japonesa ainda muito obscura aos
olhos ocidentais. Tidas pelo Ocidente como prostitutas de luxo, as gueixas
estavam muito longe disso. Todos os aspectos da vida dessas mulheres –
maquiagem, penteados, vestimentas, gestos – eram pautados por rígidas regras. A
trajetória da pequena Chiyo até se tornar Sayuri serve como pano de fundo para
esquadrinhar essa antiga tradição. O
livro descreve as várias etapas da vida e do treinamento de uma gueixa (criada,
noviça, gueixa aprendiz, gueixa veterana); suas inúmeras superstições; os vários
rituais (a ligação com uma "irmã mais velha", a troca de nome, o
mizuage, a ligação com um danna); as muitas artes que elas dominam e executam
com beleza e leveza singular. Através da história de Sayuri , o leitor é
apresentado ao peculiar modo de vida das gueixas e também a um considerável trecho
da História Japonesa. É mostrado, por exemplo, o gradual agravamento da crise
antes da 2ª Guerra Mundial e o severo racionamento durante o conflito, algo que
causou um grande impacto na vida de todos os japoneses.
Narrado em primeira pessoa, o
livro é uma espécie de autobiografia contada pela própria Sayuri e transcrita
pelo autor, o mesmo artifício usado por Anne Rice em seu "Entrevista com o vampiro". Embora
pareça tratar-se da biografia de uma pessoa real, o livro é, na realidade, uma
obra ficcional, detalhe esse que somente fica indubitavelmente esclarecido ao
final do livro, nos agradecimentos. Sayuri, a personagem-narradora, foi
inspirada numa gueixa real chamada Mineko Iwasaki. O autor se valeu dos relatos
da própria Mineko bem como de uma extensa pesquisa para construir seu romance.
Obviamente, pela postura sigilosa acerca de seus costumes comumente adotada pelas gueixas, é possível e bastante provável que haja ainda alguma incongruência
nas descrições de sua cultura. Mas isso é algo que somente um profundo
conhecedor do assunto poderia apontar.
Golden se esmerou na criação de
sua protagonista. Ao tomá-la como narradora de sua própria história, ele tentou
traduzir em suas palavras um pouco da sutileza e do encanto das gueixas. E o
fez com maestria. O livro é deliciosamente agradável de ler. Tem uma prosa
serena e singela, temperada com a sutileza filosófica tão própria dos
orientais. Os termos em japonês (okiya = casa onde vivem as gueixas; mizuage =
primeira relação sexual de uma moça; etc.) são devidamente explicados ao longo
do texto deixando confortável mesmo o leitor menos habituado à cultura
japonesa. A revisão está impecável e a formatação simples e precisa. A capa é
de uma beleza extraordinária, daquelas que prendem os olhos e os mantém cativos por um bom tempo. Um único porém: sendo de um preto fosco, seu
acabamento aveludado é agradabilíssimo ao toque, mas mancha com imensa
facilidade, sendo impossível evitar as marcas de dedos ao menor manuseio.
Arthur Golden nasceu no Tennessee,
EUA, e se formou em História da Arte, com especialização em Arte Japonesa, em
Havard. Fez mestrado em História Japonesa na Universidade de Columbia, onde
também aprendeu mandarim. Após um verão na Universidade de Pequim, decidiu ir
trabalhar em Tóquio. Atualmente, vive em Brookline, Massachusetts, com a mulher
e os filhos. Com seu livro Memórias de uma gueixa, Golden
encantou milhares de leitores por todo o mundo. A adaptação para o cinema
trouxe ainda mais admiradores para sua obra.
Este é um livro para quem nutre
curiosidade pelas tão peculiares tradições japonesas. Sobretudo quem
admira essa cultura irá encontrar nesse livro muitos conceitos e práticas
familiares e muitas ainda inusitadas. Para os entusiastas de ficções-históricas, essa obra irá
satisfazê-los sem sombra de dúvidas. E para quem se delicia com uma história
bem construída e bem contada, essa é uma aposta certeira.
Bibliografia de ARTHUR GOLDEN (ordem
cronológica):
Livros:
- Memorias de uma gueixa – Imago (2005), relançado com a capa do filme (2006); e Arqueiro (2015).
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Resenhas
O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca
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Não tenho interesse pela cultura japonesa. Claro que não fico totalmente fechada a isso, já que gosto de conhecer coisas novas, mas o livro também não me interessou, acho que seria bem chato pra mim e eu acabaria abandonando.
ResponderExcluirOlá Giovana
ExcluirSério? Acho a cultura japonesa tão exótica e intrigante que sou apaixonada por ela desde criança! Gosto demais e quando vi esse livro me inteinteressei no ato. E gostei bastante! Não só pela Cultura em si, mas pela forma que o autor escreve, entende? Ele tem um lirismo na forma de escrever que me encantou.
Mas tenho que concordar contigo. Quando uma coisa não nos interessa, não adianda a melhor prosa do mundo.
Olá
ResponderExcluirEu gosto de historias assim de gueixa, Já li varias, e essa me impressionou pelo fato que ela é narrada, acho que é um livro que eu arriscaria, e que traria bastante emoção para me. Sua resenha está ótima, entendi perfeitamente o que o livro quer dizer a cada fala falada que os personagens obtém.
http://garotinhaadolescentea.blogspot.com.br/
Olá Kátia
ExcluirSe não leu ainda, leia. Aposto que vc vai gostar. Tem muita coisa que eu não sabia sobre o universo das gueixas. Só tenho uma palavra: fascinante!
Oii
ResponderExcluirAdorei a resenha! Já me indicaram esse livro e no começo deixei pra lá, mas faz um tempo que dei uma pesquisada melhor nele e percebi que preciso ler.
Coração Leitor
Oi, Jessica.
ExcluirVc super precisa ler. E super precisa me contar o que achou!
Olá!!
ResponderExcluirEu amos saber sobre outras culturas, sempre que vejo livros que nos leva a vivenciar e conhecer uma cultura diferente eu não dispenso a leitura, e as gueixas e a cultura japonesa sempre me despertou grande curiosidade quero muito ler esse.
Bjocas!!
Olá Rose,
ExcluirComo eu disse pra Giovana ali encima, sou apaixonada pela cultura japonesa desde criança. Coisas exóticas exercem um fascínio natural em mim. É irresistível!
Olá!
ResponderExcluirQuero muito ler esse livro. Eu o emprestei da minha cunhada, mas não pude me dedicar à leitura dele naquela época. Eu aprecio muito a cultura japonesa e já li uma obra, de gênero sobrenatural terror, que trazia um pouco a realidade das gueixas. Uma triste realidade. Já ouviu falar de Kaori - Perfume de Vampira? Vale a pena nesse sentido... A autora é brasileira, mas por ser japonesa possui informações privilegiadas que enriqueceram o enredo. Enfim, gostei de você mencionar que a obra tem uma narrativa que te faz acreditar ser uma biografia. Dá para notar que é um livro bastante envolvente.
Beijos!
http://www.myqueenside.blogspot.com
Oi Francine.
ExcluirAcredita que passei o livro inteiro pensando que era uma biografia? Só descobri que não era no final. O autor foi muito convincente.
Quanto ao Kaor, eu conheço sim. Até já estive cara a cara com a autora. Mas ainda não li. E olha que junta duas coisas que amo: Japão e vampiros!
Oi Helkem, tudo bem? Eu recebi esse livro mas foi a Brenda que leu e ela adorou. Acho a cultura japonesa muito bonita. Acho que depois vou pedir emprestado pra Brenda.
ResponderExcluirSei que tem o filme desse livro. Já assistiu? Parabéns pela resenha.
Beijos
Leitora sempre
OIe, tudo bem!?
ResponderExcluirPoxa, que resenha linda, parabéns!
Eu amo demais esse livro e amo o filme também, mesmo o livro tendo mais detalhes que o filme, eu não tenho como escolher um ou outro! É uma história fascinante, amo demais todos os elementos do livro e ter a oportunidade de reler nessa edição linda da Arqueiro foi demais!
Beijos
LuMartinho | Face | Sorteio de Natal
Oi Amiga Helkem. Adorei o seu blog. Esses livros não me enchem os olhos. Mais eu amo ler, amo romance. Sou uma leitora compulsiva. Não consigo ficar sem ler. Parabéns pelo blog, vou divulgar no meu grupo de leitoras que tenho. Parabéns.
ResponderExcluirEu já assisti três vezes o filme e sempre quando vejo tem algo que havia deixado passar. A vida de uma gueixa é chocante para nossa cultura, mas também desperta muito curiosidade. Eu ainda não li o livro, mas pretendo ler em breve. A cultura japonese tam vários aspectos que despertam minha curiosidade. Desde as lanternas, a comida, as artes marciais, a literatura...
ResponderExcluirBeijos!
Achei muito linda a capa do livro, porém já lendo a resenha o livro não me conquistou, não leria o livro agora talvez em outra oportunidade.
ResponderExcluirOi, Helkem. Eu não me interessei a principio pelo livro por ser uma espécie de autobiografia. Mas, fui surpreendido com o teor dele. Certamente, este livro nos apresenta uma vasta rede de conhecimentos, repleto de curiosidades e fatos verídicos sobre a cultura japonesa e outros tipos de conhecimento, Memórias de Uma Gueixa foi curioso. Mas, o ponto forte do livro mesmo é o relato sobre as gueixas, cativante.
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