Considerações: 2° Encontro de blogueiros e jovens escritores




Olá, queridos leitores da Academia, como estão? No último final de semana (24 e 25/05) aconteceu o 2° Encontro de Blogueiros e Jovens Escritores na Feira do Livro de Brasília e hoje vou dar minhas impressões sobre o evento.Convido a todos e todas a para se sentirem à vontade para dar as impressões de vocês também. A casa é nossa! Vou adorar falar com vocês nos comentários.


Obs: vou me focar no encontro, pois não tive a oportunidade de ver outras palestras e debates ao longo dos dias em que a Feira foi realizada. E obviamente, darei minha visão de blogueiro literário, pois é isso que eu sou. ;)


A Ideia
Alguns de vocês podem não saber, mas o Encontro de Blogueiros e Jovens Escritores foi uma ideia antiga minha em parceria com o jornalista e escritor Marcos Linhares, lá em 2015. Porém, nada foi feito na época pois não dispunhamos de recursos financeiros para tal empreitada. No ano passado (2016), o Marcos foi convidado a integrar a Organização Geral da Feira do Livro e conseguiu abrir as portas para que a ideia saísse do papel. Eu e a autora Marina Oliveira fomos convidados para tocar o evento e assim foi realizado o 1º Encontro de Blogueiros e Jovens Escritores. Este ano o bastão foi passado para outra pessoa: a autora e blogueira Bárbara Morais e, junto a outros colaboradores, ela colocou na grade da Feira o 2° Encontro de Blogueiros e Jovens Escritores.


O espaço


Arena Jovem - Palco Cultural Lateral. Esse foi o nome proposto pela Feira para alocar os eventos da programação de literatura jovem. Onde nomes como FML Pepper, Thalita Rebouças, Pam Gonçalves, Eric Novello, M.S. Fayes, Day Fernandes e outros iriam conversar com o público. A Arena Jovem também seria o local onde aconteceria a cerimônia de abertura do evento, no qual escritores seriam homenageados. Um lugar que, em teoria, deveria ser projetado para receber um grande número de jovens e deveria ter a cara deles, como é comum ver em grandes eventos como a Bienal do Livro do Rio e São Paulo.
Mas não foi isso que vimos lá. O que vimos foi um palco (ou tablado, como alguns o chamaram), montado quase que de qualquer jeito e pior: totalmente aberto, sem nenhuma proteção para os convidados. Como você espera receber autores e blogueiros locais e de outros estados sem um mínimo de estrutura? Eu falo que fiquei decepcionado com essa falta de zelo da organização. Ninguém se ligou que estávamos na época mais fria do ano? Que haveria debates noturnos, onde o frio seria ainda maior? Será que não havia recursos para colocar um toldo que fosse para proteger as pessoas? Não poderia ter feito um espaço como foi o Café Tropicália: fechado, protegido das rajadas de vento. Isso é algo a se pensar para o ano que vem, caso a Feira seja realizada no Pátio Brasil novamente. O som também estava péssimo. Quem estava sentado nas últimas fileiras mal conseguia ouvir o que era falado no palco, apesar das caixas de som (estas posicionadas somente na frente. Qualquer pessoa que entenda um pouquinho de sonorização sabe que são necessárias, além das caixas da frente, também caixas atrás para que o som seja ouvido claramente por todo o “ambiente”).
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O espaço montando para servir de palco para os debates da Arena Jovem.
Foi quase como se tivessem deixado o que “sobrou” para o encontro (coloco aspas aqui porque nessa Feira fiz parte apenas do público e não tenho ideia do que ocorreu nos bastidores). Havia o Pátio Eventos (aquela salinha no 3º Piso). Porque não colocaram algumas palestras, principalmente as noturnas, lá? Me pergunto se a organização da Feira tentou negociar com o shopping alguns horários na agenda de eventos desse espaço para locar algumas das palestras noturnas por lá. O interessante é que uma delas, inclusive, chegou a ser divulgado que seria lá, mas quando chegamos fomos “expulsos” de volta para a Arena por motivos que até o momento desconheço e que acredito não terem sido passados para os participantes do evento.
Aquilo que eles chamaram de palco foi sim uma vergonha.
Estavam sem verba? Estavam. Fiquei sabendo que houveram muitos cortes por parte do poder público para a realização desta Feira. Cortes maiores, inclusive, que no ano passado. Porém, para um local onde foi realizado a cerimônia de abertura, poderiam ter tratado desta questão com mais cuidado e planejamento.
Uma curiosidade: na quinta-feira foi montado toda uma estrutura para o show da Luciana Mello (acho que era ela, se não for, podem me corrigir nos comentários). Fico imaginando o quanto teria sido bom para os frequentadores da Arena se o espaço montado (foto abaixo) tivesse sido usado para todos os dias do evento e não apenas para um dia específico.

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Palco montado para o show. Que diferença, não acham?


O evento


Houve mudanças em relação a programação do ano passado. Ao invés de dividir o evento em dois finais de semana Encontro de Blogueiros em um e Encontro de Jovens Escritores no outro a curadoria decidiu colocar os dois no mesmo final de semana e com a programação mesclada. Ou seja, tudo junto e misturado. A programação sugerida (imagem abaixo) colocou os autores e blogueiros no mesmo lugar.
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Poderia ser um momento de troca de experiências, mas não foi bem assim. Qual foi o erro na minha opinião: por mais que você tente juntar, blogueiros são uma coisa e autores são outra. Mesmo que um blogueiro seja um autor, ou vice-versa, as profissões são diferentes e é complicado tratá-las com propriedade na mesma roda de assunto. Inevitavelmente o foco vai cair mais para um que para o outro a depender de quem está falando.
Faltou delimitar o que era para blogueiro e o que era para escritor. Para vocês terem uma ideia, senti mais representatividade para os blogueiros no painel Novas Plataformas de divulgação e publicação, onde as autoras convidadas falaram super bem sobre a importância do blogueiro na divulgação de jovens escritores do que no painel A Internet é feita para que?, onde os convidados focaram, na minha visão, muito mais nos projetos pessoais deles do que no trabalho de um blogueiro. O que não é ruim, claro. Eles são inspiração para muita gente e se tem algo que temos de ter é respeito e admiração pelo trabalho maravilhoso que fazem. O próprio tema e algumas perguntas feitas acabaram por levá-los por esse caminho (de falar sobre projetos pessoais). Talvez se o tema fosse menos abrangente, eles poderiam explorar melhor a respeito do trabalho dos blogueiros e ainda poderiam falar um pouco sobre seus projetos.
Na minha opinião, cada dia deveria ser inteiramente dedicado a cada uma das profissões. Assim poderiam dar o poder de escolha para blogueiros e autores participarem do que mais poderia interessá-los. E mais ainda: focar os debates, que por mais que na proposta pudessem favorecer ambos os lados, o evento foi muito mais focado para quem quer ser um autor do que para quem quer ser um blogueiro.
A proposta do encontro era para que os blogueiros pudessem se encontrar e trocar experiências e para isso, a organização convidou os Booktubers Pam Gonçalves e Pedrugo para o painel de abertura A Internet é feita para que?. O painel era um debate sobre as experiências desses blogueiros na internet, mas se a maioria dos blogueiros é daqui, porque nenhum blogueiro local foi convidado a conversar junto com os três sobre a realidade local? Seria o momento ideal para alavancar a blogosfera e produção literária regional. E não apenas nesse debate, mas no encontro como um todo. A sensação que ficou foi que os blogueiros do DF foram meros espectadores do seu próprio encontro.
Entendam que foi bom trazer pessoas que são bem sucedidas no meio, que possam inspirar novatos a trilhar o mesmo caminho, mas eles não são nossa realidade (localmente falando). Eles moram no Sul. Lá os eventos, os leitores, as livrarias, e tudo o mais que remete à literatura é de um jeito. Aqui é outro. Faltou representatividade. Faltou um nome local para dizer: em Brasília é feito assim, falta isso e temos isso.

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Pessoas essas que são inspiração para muita gente! 😍
Alguém pode até argumentar que a Raphaela, do Equalize da Leitura, blogueira aqui do DF, estava representando os blogueiros do Centro-Oeste, mas ela estava lá como mediadora. E como meu amigo Paulo Souza, do blog Ponto para Ler, falou muito bem no seu texto (link) sobre a atuação do mediador: “quem media apenas conduz os debates e só quem é convidado tem o papel de falar e expor suas opiniões no diálogo. Claro que o mediador pode hora ou outra expor sua opinião, mas o foco da conversa é dentro das experiências dos convidados”. Ou seja, por mais que a Raphaela tenha conduzido muito bem o debate, seu papel ali era apenas esse.
Felizmente tivemos a Anne Caroline Quiangala, do blog Preta, Nerd e Burning Hell  representando os blogueiros de Brasília no bloco Fantasia, Scifi e Diversidade. Infelizmente não consegui assistir o painel inteiro para expressar uma opinião sobre. Mas fica aqui o registro da participação dela. Também não cheguei a tempo de assistir ao bloco Meu reino por esse ship" - Fãs e suas manifestações culturais. Mas não é preciso fazer muita matemática para ver que tivemos pouca representatividade local.
Acredito que a falta de identificação foi outro problema. Os inscritos deveriam ter recebido um crachá. Imagem a situação: conheci um blogueiro X hoje. Ele me disse seu nome e o nome do blog, que não é um nome fácil de gravar. A feira ocorre normalmente, aí no dia seguinte encontro esse blogueiro e esqueço o nome do blog ou pior, o nome dele. Não fica uma situação chata? Para os novatos então nem se fala. Para um encontro desses, no qual você pode conhecer dezenas de pessoas, o crachá é um item mais do que básico que fez muita falta. Não ficou claro quem era blogueiro e quem não era. Estavam todos no mesmo lugar. Houve uma tentativa de identificação através de pulseiras no sábado mas que acabou por não ajudar em nada, pois foram usadas apenas para identificar as prioridades na hora dos autógrafos, e somente no sábado. Nem isso teve no domingo.
E por último: o encerramento. Após o encontro com as autoras FML Pepper, M. S. Fayes e Day Fernandes, ficamos “a deus dará”. Estávamos na sessão de autógrafos com as autoras e começaram a retirar os equipamentos da Arena. E nos informaram que tudo havia acabado. E o encerramento? Havia sido dito no dia anterior que haveria interação e sorteios no fim. Ninguém da organização foi à frente dizer que não haveria encerramento. Pelo menos eu não vi ou ouvi. Soube que a Bárbara ficou doente (muitos outros ficaram por conta do local do evento), mas e os outros que não ficaram sabendo de nada? Muitos ficaram perdidos sem saber se iria acontecer o encerramento e não ter ninguém da organização para passar informações foi um erro até grosseiro, eu diria.

Mas Luciano, então você não curtiu o Encontro?

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Isso faz valer a pena 💗
Costumo dizer para alguns amigos que são as pessoas e não os lugares, que realmente fazem os momentos serem bons. Então o que tiro de maravilhoso do encontro foi as pessoas que lá encontrei. Os amigos que marquei de encontrar, os que reencontrei depois de algum tempo sem os ver, os que conheci “ao vivo”. Por essas pessoas valeu a pena passar frio, valeu a pena sair doente da Feira. Eventos como esse são oportunidades interessantes para quem quer fazer network e novas amizades. Então, mesmo que o Encontro não tenha sido as mil maravilhas, tivemos sim bons momentos. Os fãs encontrando a Pam, o casal Pedrugo, o Vitor, a Pepper e fazendo a festa na hora dos autógrafos. Os blogueiros encontrando leitores e colegas de profissão, fazendo novas amizades no meio. Jovens autores fechando parcerias e aprendendo um pouco mais sobre o mundo da literatura. Debates sobre o mercado editorial, sobre formas de se promover. Teve tudo isso e um pouco mais.
Temos a oportunidade de conhecer pessoas maravilhosas pelo caminho.


Conclusão


O evento teve muitos problemas. Isso é fato. Problemas esses que precisam ser sanados pela organização geral no próximo ano.
Mesmo que a Feira tenha aberto espaço para que o público conheça o trabalho dos blogueiros e jovens escritores, acredito que estão fazendo o mínimo do mínimo que deveriam fazer para apoiar a literatura jovem local. Dizem querer incentivar os jovens a ler, mas não dão o apoio necessário para os jovens que querem incentivar outros jovens. Esses que estão na linha de frente abrindo o caminho a duras penas.

Torço para que a Feira melhore. Que apareçam pessoas visionárias o suficiente para ver que os jovens precisam ser ouvidos e merecem mais espaço e apoio na hora de divulgar seu trabalho. Infelizmente, o cenário é ainda pior para os blogueiros, que ainda são colocados de escanteio nos grandes eventos e lamentavelmente não consigo ver mudanças a curto prazo.

No fim das contas, falando da minha visão de blogueiro, o Encontro de Blogueiros e Jovens Escritores serviu mais como um encontro de amigos e fãs do que um encontro de profissionais da área. E enquanto essa visão não mudar, não seremos reconhecidos pelo trabalho que realizamos pela literatura.

E que venha a Feira do Livro 2018.



E você querido leitor? Foi a Feira? O que achou? Concorda? Discorda? Quer levantar alguma questão que não abordei no texto? Vamos conversar nos comentários ;)

Ah, tem fotinhas no nosso Facebook! ;)




Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
6 Comentários

6 comentários :

  1. Sobre o local, concordo com o que foi pontuado. Quando cheguei lá no sábado fiquei super perdida porque não sabia onde era exatamente a tal arena. Podiam ter identificado melhor o local mas foi super legal ter esse contato com outros blogueiros <3
    www.belapsicose.com

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    1. Oie Ana! Foi muito bom ver o pessoal. Acho que Brasília está precisando de mais encontros como este. Espero vê-la em outros eventos!
      Beijos ;)

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  2. LUCIANO!
    Infelizmente não fui a feira, por ser muito longe, mas gostei muito de sua análise sobre tudo, sobre a organização, os problemas que encontrou, sobre os amigos que reencontrou... por esse lado, deve ter sido bom.
    Fato é que os eventos geralmente tem algum problema ou imprevisto, é inevitável, por mais organizado que seja, por mais empenho dos organizadores, sempre terá algo falho.
    O bom é que tem blogueiros como você que podem pontuar os erros para que não aconteçam uma próxima vez.
    Tomara que os organizadores possam ler seu relato.
    “Será que você vai saber o quanto penso em você com o meu coração?” (Renato Russo)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE JUNHO 3 livros, 3 ganhadores, participem.
    http://rudynalva-alegriadevivereamaroquebom.blogspot.com.br/

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  3. É por essas e outras que eu amo o Academia: sinceridade! Concordo muito com o texto inteiro. Senti muita falta de um espaço mais organizado no Arena Jovem, tampado do vento e do frio. Sei que é complicada a questão da verba, mas de repente então seria interessante voltar o evento para o mês de Abril, junto ao aniversário da cidade, como já aconteceu em outros anos. Assim não tá tão frio rsrsrs. Outra questão que senti falta também foram os crachás, e não só nossos, mas também dos colaboradores da feira. Foi dificil encontrar alguém para dar uma informação ou algo assim.
    Penso que as falhas acontecem em todas as situações e o evento teve muuuuitas coisas boas tbm. Na próxima é reavaliar algumas questões e buscar melhorar sempre mais esse evento lindo que representa a literatura do centro-oeste!
    Acabei deixando textão tbm kkkkkkkkkkkkkk

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    1. Obrigado, Dayanne <3 Acreditamos que temos sim de apontar as falhas para que o evento evolua nas edições seguintes. Muito obrigado pela sua contribuição aqui no blog. Beijossss

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