Resenha - Dom Casmurro (Machado de Assis)

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Volume 1. Nova Aguilar: Rio de Janeiro, 1994.
Gênero: Romance.
Temas: Século 19.
Categoria: Literatura brasileira.
Ano de lançamento: 1899.









Tinha-me lembrado a definição que José Dias dera deles, ‘olhos de cigana oblíqua e dissimulada.’ Eu não sabia o que era oblíqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas. A demora da contemplação creio que lhe deu outra ideia do meu intento; imaginou que era um pretexto para mirá-los mais de perto, com os meus olhos longos, constantes, enfiados neles, e a isto atribuo que entrassem a ficar crescidos, crescidos e sombrios, com tal expressão que...”
*Dom Casmurro.

Dom Casmurro nem sempre foi casmurro, assim como o apelido o define. Ele foi Bentinho – o doce e inocente adolescente. Nesta obra, Dom Casmurro revisita o passado, quando, jovem, a mãe dele pensava em cumprir a promessa feita antes do nascimento: se sobrevivesse, seria padre. O menino, porém, se vê apaixonado pela vizinha e não quer saber da vida no seminário.
Os olhos de Bentinho são todos para Capitu. O amor dos dois se vê ameaçado diante dessa possibilidade de mudança, mas ambos prometem sobreviver às peças que o destino lhes pregará. Eles conseguirão?
Essa obra não é sobre o amor de Bentinho e Capitu, mas sobre a vida de Dom Casmurro. Apesar disso, toda a trama do livro gira em torno da paixão dele, tanto que, no início, o autor apresenta o exato momento em que Bentinho se descobriu amando. O leitor passa, então, a acompanhar as batalhas que Bentinho e Capitu enfrentam para ficarem juntos.  
As cenas criadas por Machado de Assis para este livro são hilárias. Muito detalhista, o autor não deixa passar nenhum pormenor das personagens, desde as que aparecem mais – como Bentinho, Capitu, Glória, tio Cosme e José Dias – até as secundárias. O livro é do século 19, contemporâneo ao autor e, por isso, carrega os costumes da época.
O engraçado é que as pessoas retratadas são fofoqueiras e interesseiras, assim como atualmente, mas aquelas se escondiam atrás de palavras rebuscadas, roupas pesadas e gestos cordiais. Machado de Assis é, claramente, crítico à sociedade e mostra isso muito bem por meio dos cenários e situações desta obra.
Nesse enredo, o leitor pode ser surpreender com a mudança de Bentinho. Na primeira parte de “Dom Casmurro”, o autor apresenta o jovem destemido e apaixonado que faz tudo para ficar ao lado de Capitu. Depois, quando ambos estão juntos, ele se transforma em um homem que vive com ciúmes dos atributos da mulher – os mesmos pelos quais, inclusive, ele se apaixonou.
Machado de Assis leva o leitor a sentir diferentes emoções – vão desde a alegria e a esperança em acompanhar o primeiro amor até a agonia de observar os pensamentos doentios de Bentinho adulto. Diferente do protagonista, porém, Capitu percorre toda a trama com a mesma personalidade. Ela sofre com a mudança do companheiro, e o leitor não fica imune disso.
Muita gente conhece essa obra pelo dilema: Capitu traiu ou não Bentinho? Não há resposta clara. Essa dúvida surge porque o protagonista enxerga uma suspeita aproximação entre o melhor amigo Escobar e Capitu. O que a trama mostra, no entanto, são as características de um homem ciumento que Bentinho adquire com o tempo.
A história de “Dom Casmurro” é contada em primeira pessoa pelo protagonista da trama, Bentinho, o próprio Dom Casmurro. A linguagem é rebuscada, uma vez que o livro é antigo. Para os amantes de português essa é uma boa experiência, pois podem conhecer palavras e construções antigas, que caíram em desuso, e algumas mais atuais do que nunca.
Machado de Assis é considerado um dos maiores autores brasileiros. Ele publicou o primeiro trabalho literário em 1854, quando tinha 15 anos. Machado de Assis é autor de obras emblemáticas, como “Memórias póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”. Ele foi jornalista, cronista, romancista e poeta. O escritor nasceu e morreu no Rio de Janeiro. Em vida, ainda fez parte da Academia Brasileira de Letras.
Todos deveriam conhecer ao menos uma obra de Machado de Assis. Como brasileiros, temos o dever se descobrir – ou ao menos tentar – por qual motivo ele é considerado um grande escritor. Com razão, “Dom Casmurro” ganhou fama por conta da história envolvente de Bentinho e Capitu. Os amantes de romance, acima dos outros, devem se encantar com essa obra.


Bibliografia de Machado de Assis (ordem cronológica):
Por conta da gama de obras do autor, decidimos deixar aqui uma lista com os livros disponíveis em PDF. O Ministério da Educação é o responsável pelo site: http://machado.mec.gov.br/obra-completa-mainmenu-123.

Comentários
2 Comentários

2 comentários :

  1. Isadora!
    Nossa! Li esse livro há mais de 35 anos atrás e bom ver que alguém tão hovem quanto você, lê clássicos e o melhor, que gostou de Machado de Assis com toda sua escrita rebuscada e com um entendimento mais profundo do tema.
    Parabéns!
    Desejo uma ótima semana produtiva!
    “Saber quando se deve esperar é o grande segredo do sucesso.” (Xavier Maistre)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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  2. Machado é um gênio da literatura brasileira. Adoro o modo nada sutil que ele expôs a realidade na cara da sociedade que se recusava a ver o óbvio. Nao é por acaso que Realismo é a minha escola literária favorita desde sempre. Também admiro essa questão que o autor deixou e que ainda vai perdurar por anos e mais anos, hehueh.

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