Mês do Terror: Eliza (Parte 1)






Título: Eliza
Classificação: +14
Gênero: Terror/Suspense
Sinopse: Todos conhecemos alguém como Eliza, uma pessoa que costuma ficar quieta em um canto, fazendo suas próprias coisas, como se estivesse à parte do mundo. Normalmente, pessoas assim são as vítimas preferidas dos valentões (e valentonas) na escola, mas também de quem menos se sabe a respeito. Algumas dessas histórias somem com o tempo, já outras, criam marcas que nunca serão esquecidas. Essa é a história de Eliza e você decide em que categoria ela se encaixa.

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“É engraçado como estamos sempre acostumados a ouvir e contar histórias. Quando somos pequenos, elas costumam começar com “Era uma vez” e envolver um mundo antigo e cheio de fantasia, mas então crescemos e, vendo que o mundo real não é tão mágico, essas histórias param de fazer sentido. Porém, quando menos esperamos, a realidade também nos surpreende com acontecimentos sem sentido. Alguns deles são bons, contudo, na maioria das vezes, são coisas que mostram um lado do ser humano que preferimos fingir que não existe. Talvez fosse por conhecer esse lado que Eliza não gostava de interagir com pessoas.
Parece uma informação banal, mas essa é a informação mais importante de sua história, é o motivo pelo qual não a entendiam. A garota não conseguia se lembrar de um único momento em que estar em meio aos outros foi um motivo de prazer ou alegria. Pelo contrário, lembrava-se apenas de sempre achar todos ao seu redor irritantes demais. Ela achava as relações interpessoais um espetáculo no qual os participantes pareciam estar sempre querendo chamar a atenção da plateia. Um espetáculo que ela se recusava a querer participar.
Seus pais a levaram para milhares de psicólogos e psiquiatras, mas Eliza entrava e saía de cada um com a mesma opinião. Apelaram para vários líderes de diferentes religiões e, mesmo assim, não houve nenhum tipo de exorcismo ou reza que mudou o jeito da garota. Eliza estava convencida de que não precisava interagir com ninguém, mesmo porque se via capaz de criar conversas muito mais interessantes em suas histórias. Ela era desenhista e, desde seus oito anos, via seus desenhos como a única interação que precisava.
Todavia, desde o começo suas histórias eram... Polêmicas. A primeira delas surgiu de um desenho sobre uma garota da sua sala que tentava impor sua vontade aos demais. Vendo todos seus colegas a seguirem cegamente e achando a menina desagradável, Eliza, certo dia, se recusou a brincar com ela. Durante a aula, fez um desenho de um grupo de crianças com cabeças de balão de festa e a uma única criança “normal” segurava os cordões que estavam presos aos balões. Quando explicou o seu desenho para professora, a criatividade de Eliza se tornou uma preocupação que foi levada para a diretoria, onde pais da garota foram chamados. Após esse dia, iniciou-se a saga pelos terapeutas.
As coisas pioraram algumas semanas depois, quando a mesma garota mandona, a quem Eliza se recusava a obedecer, começou a implicar diretamente com ela. Enganam-se as pessoas que acham que crianças são incapazes de fazer maldades. A princípio as provocações eram pequenas, derrubando os materiais de Eliza, dando pequenos empurrões ou colocando o pé na frente dela para vê-la tropeçar. Porém, com o tempo, as agressões começaram a aumentar, desde piadas maldosas até beliscões e puxões de cabelo quando ninguém mais parecia ver.
As outras crianças, que sempre tentavam agradar essa garota, começaram a imitar seus comportamentos e, em pouco tempo todos da turma estavam maltratando Eliza. Quanto a professora, que dizia monitorar os “comportamentos estranhos” de Eliza, parecia estar alheia a tudo isso, pois nunca fez nada a respeito. Eliza tentou ignorar e manter silêncio sobre a situação, mas até mesmo ela tinha seus limites e, um dia, sua tolerância chegou ao fim.
Nesse dia, a professora havia saído por alguns minutos e a tal garota mandona estava sentada atrás de Eliza. No momento em que as crianças ficaram sozinhas, essa garota apenas se levantou e tirou da mesa o desenho que Eliza estava fazendo, rasgando a folha ao meio sem nenhum aviso. Ao ver seu desenho destruído cair no chão, a primeira reação de Eliza foi querer chorar, mas, vendo isso, a garota começou a ridicularizá-la enquanto as demais crianças riam. Nesse momento, Eliza derrubou a garota no chão e começou a brigar com ela. E então a professora chegou.
Devido aos comportamentos anteriores, a professora nem ao menos quis ouvir a versão de Eliza, que foi expulsa das aulas pelo resto da semana e colocada de castigo pelos pais. Naquela noite ela começou algo que se tornaria um hábito para suportar situações como aquela. Em uma folha em branco, Eliza desenhou uma história em quadrinhos contando o que a garota tinha feito com ela, mas ao invés de ela atacar a garota, como aconteceu, um homem com uma máscara tribal e um machado grande entrava na sala e dividia a cabeça da garota ao meio, exatamente como ela fez com o desenho de Eliza.
No momento de raiva, Eliza não se preocupou em fazer aquele desenho, porém, ao vê-lo finalizado, ficou dividida entre os sentimentos de culpa e alívio. Decidiu, então, escondê-lo  no fundo do guarda-roupa, onde acreditava que ninguém o acharia, pois sabia que se encontrassem aquele desenho, sua situação só iria piorar. Naquela noite, quando a Eliza dormiu, sonhou que estava novamente na sala de aula e, dessa vez, o homem mascarado aparecia. Quando ele ia atacar a garota que rasgou seu desenho, ela acordou assustada. Desde então, todas as noites Eliza recebia a visita daquele homem em seus pesadelos.
Os anos se passaram e a situação não mudou muito. Mesmo tendo trocado de escola algumas vezes e passado por diversos profissionais de saúde mental, Eliza continuava sempre isolada do resto do mundo, desenhando na maior parte do tempo. Seus traços foram aprimorados junto com suas histórias, que eram cheias de sarcasmos e críticas sociais. Ainda que Eliza não fosse à favorita de ninguém, qualquer um que via seus quadrinhos passava a apreciá-los. E assim, graças a um trabalho escolar que fez aos 16 anos, seu professor de artes descobriu todo o brilhantismo de Eliza, incentivando que ela publicasse seus os quadrinhos em uma plataforma online, e a ajudando com isso.
Em pouco tempo, os trabalhos da garota alcançaram diversos fãs e, finalmente, aqueles que estavam perto dela começaram a vê-la de forma diferente e também admirar seu trabalho. Isso, porém, não mudou a forma que Eliza via as pessoas. Entendia que seus quadrinhos que eram queridos pelos demais, sendo eles o único motivo para as pessoas quererem se aproximar, mas nunca chegando perto o suficiente para realmente conhecê-la. No fundo, ela preferia assim. Se pudesse ser uma autora fantasma, que ninguém sabe quem é, ficaria satisfeita, mesmo se orgulhando por apreciarem seu trabalho.
Antes isso fosse o suficiente para deixarem de implicar com ela. Pelo contrário, as pessoas começaram a pensar que o distanciamento de Eliza fosse por estrelismo, vaidade, orgulho... Por isso, passaram a ser ainda mais cruéis. Mesmo que nessa época houvesse uma política anti-bullying mais forte na escola, as pessoas a seguiam pelas ruas para agredi-la física, verbal e moralmente. Desde xingamentos até colocarem animais mortos em suas coisas, seus colegas eram capazes de tudo para tornar sua vida um verdadeiro inferno. E para lidar com todas essas situações, histórias e mais histórias que terminavam com um ataque do homem mascarado eram produzidas, sempre trazendo o mesmo alívio e a mesma culpa que a faziam esconder a pilha de quadrinhos, mas nunca se livrar dela.
Todas as produções ficavam em uma caixa embaixo de vários brinquedos da sua infância, no fundo de um armário. Lá não havia o perigo de ninguém encontrar, pois era um local que somente ela mexia. Dessa forma, Eliza seguia a sua vida da melhor maneira possível, evitando ou ignorando as pessoas com atitudes destrutiva e se dedicando a criação e publicação de seus quadrinhos online. Tentava fazer da sua única preocupação descobrir como poderia trabalhar com desenhos após se formar no ensino médio, mas o mundo nos ensina que nada é tão ruim que não possa piorar.
Um dia, Eliza resolveu passar a tarde desenhando na biblioteca da escola, um dos poucos lugares no qual tinha paz. Quando começou a anoitecer e chegou o horário da escola fechar, Eliza foi embora, caminhando sozinha para casa. Já era o começo da noite quando ela estava passando por uma rua mal iluminada que ficava próxima ao seu prédio, e foi quando começou a ouvir passos a seguindo. Era muito cedo para as pessoas que trabalhavam longe passarem por ali àquela hora, mas tarde demais para aqueles que moravam perto estarem circulando, então Eliza estava sozinha. Ela respirou fundo sem olhar para trás, preparando-se para mais uma possível agressão de algum de seus colegas, mas não estava pronta para o que viria.
Quando os passos chegaram perto, alguém tapou a boca de Eliza com um pano de cheiro forte, que envolveu sua boca e nariz. Ela começou a ficar zonza com o cheiro, mas ainda foi capaz de sentir algo pontiagudo encostando em suas costas e uma voz masculina mandando-a ficar quieta e fazer o que ele mandasse. Após isso, ela perdeu a consciência.”

Continua na parte 2...



Autora: Bruna Gonçalves

Idade: 23 anos

Localidade: Brasília


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