RESENHA - A playlist de Hayden (Michelle Falkoff)

Michelle Falkoff
Ficha técnica:
Referência bibliográfica: FALKOFF, Michelle. A playlist de Hayden. 1ª edição. Ribeirão Preto, Novo Conceito Editora, 2015. Tradução: Amanda Orlando. 285 páginas.
Gênero: Drama; ficção.
Temas: Suicídio; amizade; bullying; romance adolescente.
Categoria: Literatura Estrangeira; Literatura Norte-Americana.
Ano de lançamento: 2015 nos Estados Unidos; 2015 no Brasil.











“Parei de me arrumar por um minuto e comecei a prestar atenção na música que saía pelas caixas de som. Não me surpreendeu que ele tivesse colocado ‘How to Disappear Completely’ em sua lista, já que era sua música preferida (...). Tentei não pensar muito na letra, em Hayden ali sentado fazendo essa seleção de músicas antes de tomar sua decisão final. Eu odiava imaginá-lo querendo desaparecer dessa forma.
Fechei os punhos, afundando as unhas nas palmas das mãos, e tentei me acalmar. Eu havia passado os últimos dias alternando o ódio por Hayden com a saudade, me sentindo culpado e deprimido, sem saber como deveria me sentir, mas desejando me sentir, de alguma forma, diferente. Ele me deixou sozinho e eu jamais tinha feito isso com ele, não importava o quanto estivesse com raiva. Tudo isso impedia que eu dormisse, por isso, mais do que todo o resto, eu estava exausto. Exausto e morrendo de ódio. Uma excelente combinação.
Sentir raiva só reiniciava o ciclo, um ciclo que já se tornava familiar. Ficar com raiva. Culpar Hayden. Sentir culpa. Ficar com saudades do meu amigo. Sentir raiva de novo. Tudo isso ocasionalmente pontuado por um desejo quase incontrolável de gritar e destruir coisas, apesar de eu não ser capaz de fazer nada disso.”
*A playlist de Hayden (pág. 16).


                Uma festa. Uma briga entre amigos. Uma tentativa de reconciliação. Um suicídio. Um pendrive com um bilhete sucinto: “Para Sam. Ouça. Você vai entender”.
                 Quando Sam encontrou Hayden em seu quarto enrolado nos seus lençóis do Star Wars que tanto amava, pensou que seria como sempre fora: ele teria que acordar o amigo e então pedir desculpas pela briga da noite anterior. Mas não foi assim. Não desta vez. Hayden não estava roncando; Hayden não estava dormindo. Hayden estava morto. E havia deixado uma mensagem para Sam. E então, em meio a dor, o sofrimento e a culpa pela perda do melhor amigo, Sam embarca numa jornada pessoal na tentativa de encontrar pistas nas letras das músicas deixadas por Hayden e entender a razão que o levou à tão drástica decisão de tirar a própria vida. E ele vai descobrir que havia muita coisa sobre Hayden que ele não sabia.
                O que pode levar um adolescente de 16 anos a cometer suicídio? Desentendimentos familiares? Desajuste social? Bullying? Problemas amorosos? Depressão? Mesmo julgando conhecer seu melhor e único amigo tão bem quanto poderia ser possível, e compartilhando com ele vários desses problemas, Sam não consegue entender porque Hayden concluiu que a morte era sua única opção. Sim, Hayden tinha problemas com os pais frios, exigentes e nem um pouco amorosos. Sim, ele também sofria com a provocação e a perseguição do irmão mais velho, que fazia questão de humilha-lo sempre que podia. Sim, Sam e Hayden não se encaixavam em nenhum grupo na escola e sofriam bullying pela turminha encabeçada por Ryan, irmão de Hayden. E sim, ambos tinham sérias dificuldades em se aproximar de garotas. Mas eram amigos, gostavam das mesmas coisas (música, vídeo game, RPG, HQs, ficção cientifica, nerdices e afins), se divertiam juntos, estavam estudando na mesma escola pela primeira vez e tinham um ao outro com quem contar. E – Sam pensava ter certeza sobre isso  Hayden não estava deprimido.  Mas houve uma festa e uma briga entre os dois e no dia seguinte Hayden estava morto. Obviamente, Sam não conhecia Hayden tão bem quanto pensava. E, mesmo sofrendo pela saudade do melhor amigo e pela culpa que julgava ter na decisão dele, Sam precisava descobrir o que quer que Hayden quisesse que ele descobrisse ao deixar aquele pendrive com aquela playlist. No processo, duas coisas estranhas acontecem: alguém usando o nickname e o perfil de Hayden no RPG online que eles jogavam se diz disposto ajudar Sam a decifrar a playlist; e uma exótica garota que Sam nunca vira na vida se aproxima dele alegando conhecer Hayden.
                “A playlist de Hayden” é um drama leve e sensível. Mostra um garoto sofrendo pela morte do amigo de toda uma vida, perdido na tentativa de entender o que aconteceu. A história como um todo é crível e sincera. Passeia pelos dramas da adolescência e aborda de maneira delicada todo um leque de assuntos: problemas familiares, inseguranças com o corpo e a imagem, estereótipos, aceitação social, bullying, relacionamentos (amizades, paixões e amores), homossexualismo. O suicídio, uma das maiores causas de morte entre adolescentes segundo especialistas, é o estopim para o desenrolar da trama. E a última forma de comunicação que Hayden escolheu para ter com Sam foi através da playlist. As músicas que a compõem – todos os capítulos começam com uma das faixas – vão dando o tom da narrativa. Como uma preparação para as descobertas de Sam e as conclusões a que ele chega ao longo da história, as letras das músicas fornecem algumas pequenas pistas. É super-recomendável ouvir as músicas na ordem em que aparecem e, caso não seja fluente em inglês, conferir a tradução das letras na internet, para só então prosseguir na leitura. Os pequenos mistérios que cercam a decisão de Hayden pelo suicídio prendem a atenção do leitor desde o início da trama. Aos poucos, Sam descobre coisas que não sabia e nem imaginava sobre o amigo, coisas que o fazem se questionar o quanto ele realmente o conhecia. Pessoalmente, minha curiosidade ia aumentando exponencialmente a cada detalhe revelado. Tanto que li o livro inteiro em apenas um dia! Mas tenho que confessar: os desfechos parciais de cada pequeno mistério e a conclusão do livro me deixaram um tanto decepcionada. Talvez a culpa tenha sido minha, pois criei uma enorme expectativa com esse livro. Mas achei que a história prometeu mais do que entregou. Houve ainda uma questão específica que me desapontou, mas dizer qual foi seria um gigantesco spoiler. Então, só lendo pra saber qual é.
                O livro é narrado em primeira pessoa, sob a perspectiva de Sam. Essa foi uma escolha muito acertada da autora. O garoto externa em sua narrativa toda a sua frustração por ter sido abandonado por seu amigo (assim ele encara o suicídio de Hayden: um abandono), seu remorso por não ter percebido antes que tal coisa pudesse acontecer, sua culpa pela briga que tiveram na última noite de vida de Hayden. Ele também relata como era a vida de Hayden a partir daquilo que observava e pelo que ele julgava conhecer do garoto. Apesar do título dar a entender que o foco seja Hayden, na realidade, o foco é Sam. O livro esmiúça os sentimentos de Sam, em várias instâncias. A linguagem adotada é bem próxima ao que um adolescente usaria, tanto no texto quanto na transcrição das falas. Não há erros ortográficos perceptíveis e a programação visual do livro é simples e bem pensada. Um belo exemplo de “menos é mais”. Vale lembrar que a editora se esmerou na produção desse livro, tendo inclusive criado uma página para reunir as músicas que compõem a playlist. Para ouvir, clique aqui.



                “A playlist de Hayden” é a obra de estreia de Michelle Falkoff. Graduada pela Iowa Writer´s Workshop e hoje é a Diretora de Comunicação e Lógica Jurídica da Northwestern University School of Law. Em seu primeiro livro, a autora trata com delicadeza das questões que aflige os adolescentes. Ela se apropria de um tema tão denso e perturbador como o suicídio para construir um drama singelo e humano, na medida certa para o leitor que deseja ver representadas nas páginas de um livro pessoas tão reais quanto a ficção pode construir.





Bibliografia de MICHELLE FALKOFF (ordem cronológica):

Livros:

  • A playlist de Hayden  – Novo Conceito Editora (2015).
Helkem Araujo

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca
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Comentários
17 Comentários

17 comentários :

  1. Ola lindona eu confesso que li o livro com altas expectativas mas me decepcionei com o final ficou uma sensação de injustiça, não gostei do excesso de violência de uma personagem. Uma pena pois o tema abordado é de suma importância. beijos
    Joyce
    www.livrosencantos.com

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    1. Oie Joyce
      Isso tbm me surpreendeu. Mas o que não gostei mesmo foi o desfechos dos enigmas serem tão aquém do que parecia ser. Enfim...

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  2. Oi Helkem, tudo bem?
    Eu tenho esse livro e vou ler em breve. Mesmo sabendo que você e a Brenda desanimaram total com o final eu quero ler, porque adoro livros com temas fortes. Mas vou ler sem expectativas para não me desapontar legal. Depois que ler te digo o que achei.
    Parabéns pela resenha, flor.

    Beijos
    Leitora Sempre

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    1. Oie Jéssica
      Então, tbm gosto muito de livros com temas fortes. Por isso fiquei tão empolgada com o livro. Mas é bom ler mesmo sem muitas expectativas. Dói menos. :P

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  3. Olá, eu li esse livro faz algum tempo e também esperava mais do final, mas mesmo assim foi um leitura muito boa e a autora soube trazer de uma forma bem legal o tema e os sentimentos do protagonista *--*

    Visite "Meu Mundo, Meu Estilo"

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    1. Oie Jéssica
      Então, tbm gostei do desenvolvimento do livro. Tanto que li de uma tacada só, em um único dia. Só o final que realmente decepcionante.

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  4. Olá, tudo bem? Eu não gostei tanto assim desse livro quanto gostaria, acho que na verdade eu estava esperando uma historia bem mais pesada e triste, mas eu acabei achando as coisas um pouco superficiais ao longo da história... Achei Sam um narrador bem chatinho e tudo mais. Não posso negar a tematica é muito boa e isso que acaba prendendo oleitor. Beijos.
    Blog Cantar Em Verso

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    1. Oie Silviane
      Sério que vc achou o Sam um narrador chatinho? Eu gostei da narração dele. Não gostei foi da "resolução" dos ministérios....

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  5. Oi Helkem, tudo bem? Talvez por ter lido o livro com poucas expectativas, eu me surpreendi muito com a história... foi uma das melhores que li com o tema de bullying e suicídio. Achei o Sam um personagem complexo e bem desenvolvido, cheio de sentimentos, culpa pelo que aconteceu, raiva por ter sido abandonada, confusão por descobrir que não conhecia o Hayden tão bem assim e por algumas situações que descobriram, e muito mais coisa. A narrativa da autora é envolvente, e apesar do tema ser algo forte, ela conseguiu deixar uma coisa leve de ler.

    Acho que não conhecia a letra de nenhuma das músicas, e talvez por isso a playlist não tenha feito tanto sentido para mim, mas a ideia geral foi muito boa.

    Beijinhos,

    Rafaella Lima // Vamos Falar de Livros?

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    1. Oie Rafaella
      Como respondi ali encima, gostei bastante do desenvolvimento do livro. Tanto que li super rápido. As músicas faziam muito sentido em cada capítulo e se encaixavam direitinho na história. Faz uma enorme diferença ouvir as músicas na ordem e ver a tradução das letras, pra quem não é fluente em inglês como eu. Pena o final não ter ficado a altura do resto do livro.

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  6. Oi Hel, sua resenha está otima.
    Você conseguiu dizer tudo que sentimos durante a leitura.
    Pena que o final foi aquele...

    Bjin da B
    Mundo B - Paixão, Amor e Outros Vícios
    http://www.brendalandim.blogspot.com/

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    1. Oie Brenda
      Pois num é? O final foi tão fraquinho comparado com o resto do livro. Pena mesmo.

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  7. Esse livro vem sendo muito comentado, mas bullying é um assunto pelo qual estou passando batido. Ou melhor, todos os sick lits. São histórias bonitas, mas me deprimem sabe...
    mas concordo com você, a diagramação está impecável.

    Beiijos, Andressa
    Mais que Livros | Curtindo a Vida a Dois

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    1. Oie Dreeh
      Eu acho muito interessante quando um autor adorda assunto polêmicos como bullying e suicídio. É uma forma muito válida de gerar discussão. E acho que, apesar do fianal um tanto sem graça, a autora trabalhou essas questões muito bem nesse livro.

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  8. Oi Helkem, sua linda, tudo bem?
    Nossa, seu texto está muito bem escrito, gostei muito da sua resenha. Você não foi a única que se sentiu dessa forma, já li algumas resenhas com essa mesma conclusão. Uma pena. Mesmo assim, acredito que o livro tenha cumprido o seu papel social de denunciar um problema que atinge a muitos jovens e que precisa ser solucionado.
    Beijinhos.
    Cila.

    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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    1. Oie Cila
      Primeiramente, obrigada pelo elogio.
      Comentei isso em resposta ali encima: acho super válido quando um autor aborda assuntos assim. E mesmo que o final não tenha sido tão bom quanto poderia, acho que o desenvolvimento do livro foi bem pensado e muito sensível. Nisso a autora está de parabéns.

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    2. Oie Cila
      Primeiramente, obrigada pelo elogio.
      Comentei isso em resposta ali encima: acho super válido quando um autor aborda assuntos assim. E mesmo que o final não tenha sido tão bom quanto poderia, acho que o desenvolvimento do livro foi bem pensado e muito sensível. Nisso a autora está de parabéns.

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