RESENHA – A Hora do Lobisomem (Stephen King)

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: KING, Stephen. A Hora do Lobisomem. 1ª edição. Rio de Janeiro, Editora Suma de Letras, 2017. Tradução: Regiane Winarski, 149 páginas.
Gênero: Terror
Temas: Lobisomem, assassinatos.
Categoria: Literatura Estrangeira; Literatura Norte Americana.
Ano de lançamento: 2017








“Uma criatura chegou a Tarker’s Mills, tão sorrateira quanto a lua cheia presidindo o céu noturno. É o lobisomem, e não há mais motivo para o surgimento dele do que haveria para a chegada de um câncer ou de um psicótico com intenções assassinas ou de um tornado devastador. A hora dele é agora, o lugar dele é aqui, nesta pequena cidade do Maine, onde jantares de caridade na igreja são um evento semana, onde garotinhos e garotinhas ainda levam maças para as professoras, onde as Excursões na Natureza do Clube dos Cidadãos Idosos são religiosamente relatadas no jornal semanal. Semana que vem, haverá notícias de natureza mais sombria. ”
*A hora do lobisomem (pág. 17).
       
                O primeiro grito veio de um trabalhador ferroviário isolado pela neve, enquanto as presas do monstro dilaceram sua garganta. No mês seguinte, um grito de êxtase e agonia escapa de uma mulher atacada no próprio quarto.
                Agora, toda vez que a lua cheia brilha sobre a cidade de Tarker’s Mill, acontecem novas cenas de terror inimagináveis. Quem será a próxima vítima?
                Quando a lua sobe no céu, os moradores da cidade são tomados por um medo paralisante. Uivos quase humanos ecoam no vento. E há pegadas por todos os lados de um monstro cuja fome nunca é saciada.
                A hora do lobisomem chegou.
                Antes de mais nada, preciso dizer que essa foi a minha primeira experiência literária com o mestre do terror Stephen King. Sim, eu gosto muito de terror. Como pode eu nunca ter lido nada, não é? Nem eu sei. Mas eu li e quero mais. Porém, em doses leves, pois preciso terminar meu TCC (rsrs).
                A história se passa em uma cidade chamada Tarker’s Mill. Um lugar pacato para se viver, até que uma série de violentos assassinatos começam a acontecer. Muitas teorias são levantadas pelos habitantes locais, porém, apenas um pensava em algo diferente. Apenas um habitante pensava que o autor das brutais mortes era uma criatura que em teoria, povoava apenas o imaginário daqueles loucos o suficiente para imaginarem sua existência. Apenas ele acreditava no lobisomem.
(imagem)

                Como disse antes, essa foi minha primeira experiência com o King e devo dizer que embora o livro não tenha me prendido tanto assim, gostei da premissa. No entanto, é inegável a qualidade de escrita do autor. A maneira como ele conduz a história passa a sensação de que estamos ali pertinho dos personagens, sofrendo junto com eles.
  O livro é dividido em doze capítulos. Cada capítulo se passa no dia de lua cheia. A cada novo mês o lobisomem ataca e deixa a cidade cada vez mais intrigada e com medo do novo ciclo da lua cheia. No início a narrativa parece desencontrada, com relatos aparentemente isolados, quase como se fossem contos. Porém, as coisas começam a se encaixar após o terceiro assassinato, onde o autor mostra porque é o mestre do terror, descrevendo não apenas ataques atrozes da criatura, mas também elucidando o medo crescente na população da cidade.

“As noites em Tarker’s Mills - conforme a lua vai enchendo pela terceira vez naquele ano - estão se tornando momentos de desconforto… Os dias são melhores. Na praça da cidade, o céu fica lotado de pipas durante as tardes. ”
*A Hora do Lobisomem (pág. 39).

            Um fato curioso: não há qualquer explicação dentro da obra para a aparição do lobisomem. Ele simplesmente está lá, assim como o Sol está no horizonte todas as manhãs. A criatura aparece, mata e some sem deixar pistas sobre sua localização. Então não esperem algum tipo de “revelação” sobre a origem do lobisomem.

“Lá fora, as pegadas da criatura são cobertas pela neve, e o uivo do vento parece selvagem de prazer. Não tem nada de Divino ou de Luz naquele som insensível; só há o inverno sombrio e o gelo escuro.
O ciclo do Lobisomem começou”
*A Hora do Lobisomem (pág. 18).
(imagem)
               Também é interessante notar que num primeiro momento não existe um personagem central. Pelo menos não um que apareça sempre e seja o foco de toda a narrativa. O autor concentra a trama nas noites dos ataques. Apenas no decorrer da história conhecemos aquele que é a chave para o mistério em torno das aparições do monstro. Aquele que desvenda o segredo por trás das mortes. E é legal a brincadeira que o autor faz com os personagens, já que a figura do lobisomem representa o que há de mais poderoso em oposição a figura frágil do personagem que descobre sua real identidade. Já devem ter notado que dar “nome aos bois” é spoiler, né?

“A mão livre do lobisomem agarra o cabelo recém-cortado de Neary e o puxa parcialmente para fora da cabine da picape. Uiva uma vez em triunfo e afunda o focinho no pescoço do policial. Alimenta-se enquanto a cerveja gorgoleja para fora da garrafa e faz espuma no chão, ao lado dos pedais do freio e da embreagem.
Adeus psicologia.
Adeus, bom trabalho policial. ”
*A Hora do Lobisomem (pág. 18).

                O livro é bom. Bem curto, você pode ler em apenas uma tarde (ou noite, se a coragem deixar), mas não é aquele tipo de obra que te impacta e te deixa sem dormir dias a fio (pelo menos para mim não foi). Espero em breve ter novas experiências com a escrita do mestre.
  A obra é narrada em terceira pessoa. A fluidez da narrativa é tranquila. O autor sabe como manipular as palavras para que o leitor se sinta mais tentado a devorar rápido as páginas. E ajuda o fato de que nenhum capítulo tem mais de 10 páginas. Aqui não há foco no desenvolvimento dos personagens. Sabemos nomes e algumas poucas características de alguns (a maioria, das futuras vítimas) e só. A única exceção, em partes, é a do personagem que descobre a identidade do lobo.
A relação temporal é toda linear. Cada capítulo se passa em um mês do ano (imagem abaixo), logo após uma ilustração em preto e branco e quase no fim de cada capítulo uma imagem (cada uma mais sensacional que a outra) colorida que mostra alguma passagem do capítulo. A revisão está ótima, assim como a formatação do texto. Nada a reclamar.
O trabalho de diagramação está sensacional. O livro foi relançado pela Suma de Letras, fazendo parte de uma coletânea chamada “Biblioteca do Stephen King”, que já conta com três livros lindos de morrer e talvez esse seja o grande chamariz para que o leitor possa se envolver ainda mais com a obra. Começando pela capa dura e relevo no título do livro. As imagens apresentadas ao longo da narrativa são assinadas pelo ilustrador Bernie Wrightson. Algo que achei legal da parte da editora foi convidar ilustradores brasileiros para deixar ilustrações que representassem sua cena preferida no livro. Todas estão logo após o posfácio.
(imagem)
                Stephen King era um leitor fanático dos quadrinhos EC's horror comics incluindo Tales from the crypt, que estimulou seu amor pelo terror. Na escola, ele escrevia histórias baseadas nos filmes que assistia e as copiava com a ajuda de seu irmão David. King as vendia aos amigos, mas seus professores desaprovaram e o forçaram a parar.
De 1966 a 1971, Stephen estudou Inglês na Universidade do Maine em Orono, onde ele escrevia uma coluna intitulada "King's Garbage Truck" para o jornal estudantil, o Maine Campus. Ele conheceu Tabitha Spruce lá e se casaram em 1971. O período que passou no campus influenciou muito em suas histórias, e os trabalhos que ele aceitava para poder pagar pelos seus estudos inspiraram histórias como "The Mangler" e o romance "Roadwork" (como Richard Bachman).
Stephen King é autor de mais de cinquenta livros best-sellers no mundo. Os romances recentes incluem Mr. Mercedes (vencedor do Edgar Award de melhor romance, em 2015), Achados e perdidos, Último turno, Revival, Escuridão total sem estrelas (vencedor dos prêmios Bram Stoker e British Fantasy), Doutor Sono, Sob a redoma (que virou série) e Novembro de 63.
            Recomendo para os fãs do autor. Não que precise, pois quem já leu algo do King, certamente vai procurar outras obras, como eu farei em breve. Por ser uma história curta, recomendo para aqueles que estão em busca de uma história rápida. Quem gosta do mito do lobisomem também pode curtir a obra. Nem preciso dizer que é um livro de terror, né? Então os que têm coração mais fraco, pense em ler com a luz acesa.
A hora do lobisomem é um livro curto que te ganha pela narrativa veloz e livre de enrolação, entregando ao leitor o que ele veio buscar: medo e morte.


Bibliografia de STEPHEN KING (ordem cronológica):

Livros:
Como o autor tem muitos livros, disponibilizamos o link para a página do skoob.


Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
4 Comentários

4 comentários :

  1. Luciano!
    Não tem como um livro do King não ser bom, né?
    Adoro história com lobisomens e se tem mesmo tanta carnificina como diz, deve escorrer sangue pelas páginas, do jeitinho que gosto.
    Quero descobrir quem é esse danado que anda aterrorizando a pequena cidade.
    Desejo um maravilhoso e florido final de semana!
    “Para saber uma verdade qualquer a meu respeito, é preciso que eu passe pelo outro.” (Jean-Paul Sartre)
    Cheirinhos
    Rudy
    TOP COMENTARISTA DE OUTUBRO 3 livros, 3 ganhadores, participem.

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    1. Pois é! Muito bom mesmo. Espero que curta a leitura, Rudy.
      Beijos!

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  2. Oi Luciano,
    É mais um livro do mestre do terror que não conhecia , mas que chamou muito a minha atenção. Acredito que a proposta de King para este enredo está em mexer com a mente do leitor através de possibilidades e sondar os mistérios por trás de uma pequena cidade, fazendo desta a protagonista ao invés dos vários personagens presentes. Um ponto a favor da trama está nas ilustrações, pois contribui para o envolvimento do leitor na história. Como histórias que envolvem lendas urbanas sempre mexem mais com a minha imaginação é certo que A hora do Lobisomem é um livro que vou querer ler.

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    1. Interessante sua análise, Gislaine! Não tinha pensado por esse lado da cidade ser o protagonista. Faz sentido. Obrigado pela contribuição!
      Beijossss

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