RESENHA - A Batalha dos Mortos (Rodrigo de Oliveira)

Referência bibliográfica: DE OLIVEIRA, Rodrigo. A Batalha dos Mortos. 1ª edição. São Paulo, Faro Editorial, 2014. 310 páginas.
Gênero: Terror Fantástico
Temas: Apocalipse, Zumbis.
Categoria: Literatura Nacional
Ano de lançamento: 2014
Série: O Vale dos Mortos (Livro 1), Elevador 16 (Spin Off), A Batalha dos Mortos (Livro 2).















“Os homens de Emmanuel o agarraram e o arrastaram para cima do caminhão que estava próximo do portão, usando uma escada que trouxeram havia pouco. Puxaram para cima da carroceria do baú o infeliz, que se debatia e gritava de dor, medo e ódio.
- Eu vou matar você, Emmanuel! Maldito Seja! Eu vou voltar do inferno apenas para arrancar seu coração, seu filho da puta! – Tadeu esbravejava diante da massa de zumbis sedentos por carne, que agora estavam completamente enlouquecidos junto ao portão, observando o homem sendo segurado na beira do caminhão.
E assim, sem maiores cerimônias, os capangas de Emmanuel soltaram as algemas e empurraram o infeliz de cima do caminhão. Tadeu voou sobre a cerca e caiu no meio dos zumbis alvoroçados.
Impossibilitado de correr, o pobre homem tentou lutar com as criaturas, em vão. Empurrou o primeiro que se aproximou. Na sequência, esmurrou o seguinte. Tentou até derrubar um terceiro atacante, mas em seguida uma das criaturas o atacou por trás, agarrando-o pelos cabelos e mordendo com violência sua jugular. Puxou com tanta força que a pele esticou demais, até se romper fazendo o sangue jorrar..”
*A Batalha dos Mortos (pág. 26).




                2018.
             Pessoas do mundo inteiro prepararam-se para um espetáculo astronômico, mas o evento transformou-se num pesadelo. Um dia após a aproximação do planeta, um imenso calor sobrevém e 2/3 de todas as pessoas do mundo se transformam em zumbis.
                Em São José dos Campos, um grupo cria um centro de refugiados para milhares de pessoas não infectadas. Eles reuniram condições de sobrevivência com água, alimentos e criaram uma grande fortaleza. Agora se dedicam a encontrar outros focos de resistência e ajudar peregrinos do grande apocalipse. Eles não sabem, mas essa pode ser a maior comunidade de vivos na face da Terra.
                No entanto, próximo a eles, outra resistência – perversa e potente – também cresce. Um grande Comando do Exército é tomado por criminosos da prisão de segurança máxima de Taubaté. Eles resistiram aos zumbis, escravizaram outros humanos e, fortemente armados, transformaram-se em uma ameaça letal à comunidade vizinha.
                Uma batalha está para acontecer. Um cerco para salvar vidas. E em meio a isso, inúmeras histórias de pessoas vivendo em situações-limite, muito além da imaginação.
                A batalha dos mortos está para começar.
                Segundo livro da série As Crônicas dos Mortos, “A Batalha dos Mortos” aparece com a missão de ser tão bom ou melhor que seu antecessor, “O Vale dos Mortos” (resenha).
                A história começa introduzindo uma nova personagem importante da trama: Isabel. Ela estava sob o controle de criminosos que haviam tomado um grande comando do exército em Taubaté. Feita escrava por seus opressores, armou um plano de fuga com a ajuda de mais algumas pessoas e depois de trágicos eventos na trama, conseguiu fugir, mas a um preço muito alto. Completamente sozinha e perdida, ela passou os dias seguintes procurando um local seguro. Em meio a sua fuga, ela também estava à procura de um equipamento que lhe era familiar: um rádio de comunicação. Após finalmente conseguir fazer o equipamento funcionar, ela fez contato com o Condomínio Colinas, lar de Ivan, Estela e todos os outros personagens vistos em “O Vale dos Mortos”. Alguns dias se passaram e ela foi resgatada pelo grupo de soldados de Ivan e contou a eles sua história de vida.
               Isabel tinha uma irmã, Jezebel e ambas compartilhavam dons especiais. Não vou me aprofundar nessa parte, pois a história das duas é longa, mas importantíssima para o desenrolar da trama. Paralelamente a isso, na base do exército, tomado por criminosos em Taubaté, um homem chamado Emmanuel domina com mão de ferro o local, fazendo de escravas as pessoas que lá residiam, trabalhando para os bandidos de maneira desumana. Pior ainda eram as mulheres que eram obrigadas a oferecer o próprio corpo para satisfazer os desejos dos criminosos. A única pedra em seu sapato surge na figura de Canino, outro presidiário, o único homem que encara Emmanuel de frente. Isabel é o elo que iria desencadear uma batalha sanguinolenta entre as duas comunidades.

Os zumbis estão vindo...

A Batalha dos Mortos” é um livro mais maduro que seu antecessor. Claro, havia mortes em “O Vale dos Mortos”, batalhas, sangue e até mesmo uma mini-investigação em um determinado momento da obra, mas era “só”. Tudo se resumia a sobreviver aos zumbis e assim foi por quase toda a história. Porém, neste segundo livro a coisa é um pouco diferente. Se eu pudesse escolher um subtítulo, esse seria: “O Inimigo agora é outro”. A ameaça liderada por Emmanuel se mostra muito mais perigosa que as hordas de infectados. O autor desenvolveu uma trama mais “realista” no sentido de "o que os humanos estão dispostos a fazer para sobreviver?” Matar nossos semelhantes é uma dessas coisas que somos levados a fazer quando chegamos ao limite e “A Batalha dos Mortos” explora isso com mais intensidade que o primeiro volume.
Os personagens estão muito bem trabalhados. A inserção de pessoas más na trama (os criminosos) deu um “up” psicológico espetacular na história, pois armas mentais como chantagens, intrigas, violência e ameaças no geral não surtem efeito nos infectados, mas funcionam de modo duas vezes pior nos sobreviventes. Há uma mudança significativa no comportamento e na índole de Ivan, o protagonista da trama. O que começou ao fim do primeiro volume, tomou proporções maiores no segundo. Aos poucos ele se mostra mais frio, calculista e tirano. Compreensível, pois a carga de responsabilidade que está sobre suas costas, mas preocupante na visão das pessoas que confiam nele como líder. Principalmente para sua mulher, Estela, que enxerga a transformação de seu marido e luta com a mesma força com que luta contra os zumbis para não ver o marido se transformar em uma pessoa de coração ruim. Por conta da inclusão de novos personagens, alguns ficaram menos ativos (como Zac, Gisele e Silas), mas isso é natural e até necessário. Em meio a todo o caos, o autor ainda consegue colocar na trama um romance e isso tem certa influencia na história.
Alerta de Spoiler, clique para ver!
Em toda boa história de Apocalipse, sempre surge a figura do cientista que tenta explicar a zona toda que os zumbis causaram no mundo. Em “A Batalha dos Mortos” aparece a figura do Doutor Oscar que desempenhou um papel importante na trama ao teorizar sobre a relação que Absinto (o planeta gigante) tinha com o dia em que os zumbis surgiram. E é nesse ponto que confirma um suposição que fiz em minha resenha do “O Vale dos Mortos” : “o autor ainda tem muito a mostrar e o Vale dos Mortos foi uma amostra do que ainda está por vir”. De fato, estava certo. O autor novamente fez uma boa pesquisa para ambientar questões cientificas em sua obra, como no caso das irmãs com dons especiais e a diferença entre os “desalmados” e os “infectados” (sim, são dois tipos de infectados).
E o que dizer da Senhora dos Mortos? Que mal chegou e já ganhou meu respeito? Foi necessário apenas um capítulo para que os leitores percebessem que ela provavelmente será a maior ameaça dentro do universo criado pelo autor (não consigo imaginar nada mais letal). As páginas finais foram de total desespero, pois sabia que a história iria acabar com um gancho enorme para a inserção da vilã na trama, que só mostrará a que veio no próximo volume que leva sua alcunha: “A Senhora dos Mortos”. A ideia por trás da ameaça que ela representa foi sensacional.
Sumário da obra
          A obra é escrita em terceira pessoa. O foco, que no primeiro livro era quase que totalmente centrado em Ivan, Estela e os demais sobreviventes do primeiro livro, agora se divide com os acontecimentos da nova personagem central Isabel, de sua irmã gêmea Jezebel e os criminosos da prisão de Taubaté. A fluidez narrativa é bem tranquila. Embora tenha aumentado o nível técnico da narrativa, ele manteve a escrita simples e de fácil entendimento. Neste volume, a linha do tempo é mais truncada mostrando o histórico de alguns personagens como Isabel e sua irmã, Canino e Emmanuel. A obra é bem revisada, mas não escapa de alguns pequenos erros de pontuação e ortografia, nada que possa prejudicar a leitura. Mais uma vez, a Faro Editorial está de parabéns pela capa maravilhosamente bem detalhada. A diagramação interna também está bem legal. A primeira página e a última são negras. Cada capítulo tem o desenho de um buraco de bala no que parece ser uma janela. Novamente a editora usa uma folha mais grossa que o normal, dando ao livro a impressão de ser maior do que ele realmente é. Há um sumário com marcas de mãos no início do livro e os agradecimentos ao fim do livro.
Rodrigo de Oliveira é Gestor de TI e um grande fã de ficção científica, dos clássicos do terror, em especial da obra do mestre George Romero. Casado, com dois filhos, nasceu em São Paulo e vive entre a capital e o Vale do Paraíba. Também é autor de “Elevador 16” (um spin-off dessa série) e acaba de lançar o terceiro volume da série intitulado “A Senhora dos Mortos”.
A Batalha dos Mortos” faz parte de uma série intitulada As Crônicas dos Mortos e recomendo-a fortemente para os entusiastas do terror fantástico, pois considero o autor Rodrigo de Oliveira como um dos maiores representantes do gênero da atual literatura nacional. Obviamente, para os fãs de um bom Apocalipse Zumbi, esse livro é quase que obrigatório na estante. Não só pelos zumbis, mas por toda a mitologia que o autor criou para desenvolver a trama (e por ter colocado um Nêmeses de saia como vilão). Para os que apreciam histórias com o Brasil como cenário, esse livro é uma boa pedida, principalmente para os residentes de São José dos Campos e vizinhanças. Infelizmente (ou felizmente, depende do ponto de vista) essa não é uma história para qualquer um. O nível de violência é alto e a obra mexe com alguns assuntos delicados, como estupro e religião. Portanto, pessoas que tenham problemas ao se deparar com esse tipo de abordagem devem pensar duas vezes antes de pegar nessa obra. Por fim, indico a obra para todos os fãs da literatura nacional, pois Rodrigo de Oliveira, assim como tantos outros, merecem destaque pelo trabalho e dedicação espetaculares à frente da nossa literatura contemporânea.
               
                Estejam preparados, pois a Senhora dos Mortos está mais próxima do que imaginamos...

Rodrigo de Oliveira

Bibliografia de Rodrigo de Oliveira (ordem cronológica):

Livros:

  • O Vale dos Mortos – Editora Baraúna (2013); Relançado pela Faro Editorial (2014).
  • Elevador 16 – Faro Editorial (2013)
  • A Batalha dos Mortos – Faro Editorial (2014)
  • A Senhora dos Mortos – Faro Editorial (2015)


Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
5 Comentários

5 comentários :

  1. Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus,
    um livro de zumbis de um autor Brasileiro, sério? que demais, amoooo zumbis e é legal ver um escritor nacional dando "vida" a eles (sem trocadilho rsrs)
    adorei a resenha e fiquei muito curiosa e vou ler, por isso nem li a parte que você sinalizou como spoiler viu.
    beijos e sucesso ao autor.

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    1. Sério! Fica esperta pois esse é o segundo volume e ele esta para lançar o terceiro!
      Que show vc curtir zumbis. Fica ligada que tem surpresa chegando no blog. Beijos.

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  2. Eu AMO filmes com zumbi, nunca li nada de zumbi :(, mas eu acho engraçado se passar em São Paulo essa historia, como sou de lá, fica fácil de imaginar tudo acontecendo, não engraçado, mas divertido hahaha

    Abraço!
    SeteCoisas.com

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  3. ssa resenha só deu aquela vontade ENORME de ler. Eu acho que nunca li um livro com a temática zumbi e acho que tenho que começar por essa série. Ficou sem spoiler e ainda sim me atiçou demais. Anotada a dica. Ainda mais para mim, que sou apaixonada por zumbis :D

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