RESENHA - Ex-Heróis (Peter Clines)

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: CLINES, Peter. Ex-Heróis. 1ª edição. Barueri, Novo Século Editora, 2013. Tradução por Caco Ishaki. 344 páginas.
Gênero: Ficção Fantástica.
Temas: Zumbis, Apocalipse, Super-Heróis.
Categoria: Literatura Estrangeira; Literatura Norte-Americana.
Ano de lançamento: 2010 nos Estados Unidos; 2013 no Brasil.
Série: Ex-Heróis (Livro 1); Ex-Patriotas (Livro 2); Ex-Comunhão (Livro 3); Ex-Purgatório (Livro 4).












“Os ex-humanos não paravam de aparecer fazia doze semanas. Três meses desde a primeira aparição conhecida. Eles foram capturados, estudados e mortos. Há cartazes de advertência, pronunciamentos das autoridades públicas e reportagens. No entanto, as pessoas ainda se apegam à impossibilidade da existência de mortos-vivos, enquanto eles se avultam sobre suas cabeças, atacam suas casas e devoram seus vizinhos. Soldados, policiais e cidadãos se obrigando a acreditar que os ex’s estão apenas infectados com alguma doença curável, apesar de todas as evidências, ao invés de tomar medidas necessárias. Eles não aceitam a verdade.
O surto não pode ser contido. É tarde demais.
O mundo, como nós o conhecemos, acabou.”
*Ex-Heróis (pág. 127).

               
Super-Heróis.
Stealth. Gorgon. Regenerator. Cerberus. Zzzap. Mighty Dragon.
Eles eram heróis que usavam seus poderes sobre-humanos para fazer de Los Angeles uma cidade melhor e mais segura.
Então, veio o apocalipse.
Uma doença mortal se espalhou rapidamente pelo mundo. Bilhões de pessoas morreram. Os heróis não foram capazes de deter o vírus. Mas ao invés de morrerem, as pessoas se levantavam e atacavam os vivos. Hordas de infectados marchavam, promovendo destruição e morte, levando a civilização à ruína.
Um ano depois, Mighty Dragon e outros heróis construíram um refúgio para os sobreviventes. O Monte, como foi apelidado, era um estúdio de cinema que foi transformado em uma fortaleza e serve de abrigo para os refugiados. Assustados e traumatizados com todas as perdas sofridas na guerra contra os ex’s, os heróis combatem os vorazes e infindáveis exércitos de ex-humanos nos portões, lideram equipes para procurar suprimentos e lutam para serem verdadeiros símbolos de força e esperança.
No entanto, perto dali, outro grupo cresce e ameaça a já fraca estabilidade do refúgio criado pelos heróis. Forças poderosas ocultam-se nas ruínas da cidade, apenas esperando pelo momento certo para atacar, liderados por um inimigo com a habilidade mais aterrorizante de todas...
O que o Superman, Batman, Homem de Ferro, Homem-Aranha e companhia fariam ante a ameaça de um vírus altamente contagioso que transforma pessoas em zumbis? Foi o primeiro pensamento que me veio à cabeça quando pus as mãos em Ex-Heróis. O livro conta a história de um grupo de heróis liderados pela misteriosa Stealth e pelo altruísta St. George (antigamente Mighty Dragon), que junto a outros heróis tentam sobreviver em uma fortaleza chamada “o Monte”. Após uma saída de exploração, um grupo liderado por Mighty Dragon é emboscado pelos Seventeens, uma ex-gangue de arruaceiros que haviam sobrevivido ao apocalipse e criado sua própria versão do Monte em outro ponto da cidade. Uma guerra entre as duas facções estava para eclodir e no meio deles estavam os mortos, ávidos por uma chance de invadir os territórios dominados pelos humanos.
O livro é fantástico. Confesso que senti um pouco de receio ao começar a ler, pois o sucesso de The Walking Dead tem sido responsável por uma avalanche de obras com a temática zumbis, grande parte das quais não passam de decepcionantes “mais do mesmo”. Felizmente esse não é o caso de Ex-Heróis. Para começo de conversa temos os Super-Heróis, os protagonistas da trama. Cada qual com o seu superpoder e seu histórico de batalhas contra as hordas de ex’s. E por falar em zumbis, na obra de Peter Clines, os mortos que andam são chamados de ex’s (ou ex-humanos). Essa é uma característica curiosa da obra. Muita coisa tem “ex”: ex-humanos, ex-heróis, ex-vírus... etc. Ninguém usa o termo zumbi para se referir aos mortos que andam. Semelhante ao que acontece em The Walking Dead, onde os zumbis são chamados de “errantes” (“Walkers”, em inglês). O próprio vírus zumbi é diferente do “comum”. Sem spoilers, mas foi surpreendente a abordagem usada para explicar as peculiaridades do vírus. Outra coisa muito curiosa e divertida do livro é o uso de gírias e palavrões. Estou um pouco acostumado a ver um certo tipo de comedimento na hora de traduzir certas expressões e xingamentos para o português e tiro o chapéu para o pessoal de tradução que não apenas traduziu as palavras, como também as adaptaram para a realidade brasileira.

“A expressão de Seventeen mudou ao escutar o nome, e ele escancarou um sorriso. – Cê não tá ligado?
- No que?
- Porra, mano, Rodney levou o farelo. Tá no hospital. Provavelmente já deve estar morto.
- Quem fez isso?
O motorista sacudiu a cabeça. – Não tinha ninguém lá, só uma sequelada. Ela pulou em cima dele do lado de fora do cinema na sexta à noite. Ficou mordendo e o caralho. Ela rasgou o pescoço dele, mastigou uma das orelhas. O Tommy Loco disse que ela engoliu até.
- O que aconteceu com ela?
- O que cê acha que aconteceu, cara? – Uma mão mofina limpou o excesso de sangue nos olhos. – Atiraram na vagaba sem dó nem piedade. Dizem que ela tava tão ligada que levou uns vinte pipoco.”
Ex-Heróis (pág. 54 e 55)

Mighty Dragon. Um pouco diferente do que eu imaginava :)
Os heróis são muito, mas muito legais e alguns fogem um pouco dos estereótipos que encontramos por aí. Não vou dar muitos detalhes, mas imaginem um herói que é cadeirante (logo, tem dificuldade de locomoção), mas que quando ativa seus poderes pode voar em Mach 5 (cinco vezes a velocidade do som). Cada um deles desempenha um papel importante dentro do universo criado pelo autor e a cada capítulo de fashback podemos conhecer um pouco mais sobre a extensão de seus poderes. E por falar em superpoderes, alguns de vocês, leitores, já devem estar se perguntando: o que acontece quando um herói vira um ex?
Claro que nem tudo é “tiro, porrada e bomba”. Nem tudo é sair por aí soltando raio pelos olhos ou quebrando ossos com superforça. O livro explora muitos aspectos profundos da raça humana, como sofrimento e esperança. E explora também o lado humano dos heróis, pois para as pessoas normais eles são mais que isso. São ícones. Às vezes, deuses. As pessoas veem neles a esperança de que tudo volte ao normal, outros já os enxergam como ditadores, opressores que usam seus poderes para subjugar os sobreviventes. Algo que é pouco explorado na obra (creio que o autor falará disso nos próximos volumes) é a respeito da origem dos poderes de cada herói. Apenas o poder de um deles é revelado de onde veio, mas ainda assim, é muito vago.
Não posso esquecer de mencionar aqui as referências. São toneladas de menções que o autor joga na nossa cara no decorrer da trama. Filmes, quadrinhos, seriados... tudo ali, só esperando alguém reconhecer e dizer: 

Outro ponto legal de se comentar é referente às disputas que os sobreviventes faziam entre eles para ver quem matava a pessoa mais famosa. Estando em Los Angeles, a cidade dos sonhos, que abriga Hollywood e boa parte da indústria cinematográfica dos EUA, as chances de encontrar uma celebridade são altas. Afinal, quem não gostaria de meter uma bala na testa daquele ator/cantor/diretor que você odeia?

- Mas então... você chegou a reconhecer algum dos ex’s que já matou?
Cerberus suspirou. Foi um ruído áspero dos alto-falantes. – Algumas pessoas da televisão – ela disse. – Eu não me lembro de nenhum dos nomes deles. O ator principal de House. Aparentemente ele era famoso. Assim como aquela mulher do filme de assassinos.
- Qual deles?
- Eu não sei. Aquele com o marido e a mulher. Os dois são assassinos, mas eles não sabem disso. Os Smiths?
- Sr. Sra. Smi... puta merda! Você pegou a Angelina Jolie?
- Isso, ela mesma.
Ex-Heróis (pág. 141)

A obra é dividida entre o narrador em terceira pessoa e o narrador em primeira pessoa. Os capítulos são separados entre o “Agora”, que são as partes narradas em terceira pessoa que descrevem os acontecimentos do presente; e o “Antes”, que são as partes narradas por um herói em primeira pessoa. Nessas trechos, ficamos sabendo um pouco sobre o passado de cada herói que aparece na trama. Os personagens são bem construídos, mas como se trata de uma obra que foca nos super-heróis, os personagens secundários “normais” quase não tem vez e são pouco explorados pelo autor. A fluidez da narrativa é tranquila, salvo algumas descrições de combates que, mesmo para mim, acostumado a ler histórias fantásticas, ficaram um pouco difíceis de colocar na imaginação. E um mapa. Ficou faltando um mapa. É um tanto difícil imaginar alguns cenários e localizações sem um mapa. Ainda mais para quem nunca viu uma fotografia sequer de estúdios de Hollywood. A narrativa como um todo é bem dinâmica. A ação acontece a quase todo o momento, fazendo o leitor devorar rapidamente as páginas. A revisão é boa, peca algumas vezes em concordância das palavras e erros gramaticais, principalmente na parte final do livro, mas nada muito grave. A formatação está ótima. As letras têm um bom espaçamento e as páginas são amareladas, ótimas para leitura. Cada capítulo apresenta o “Agora” ou “Antes” em uma tarja preta (imagem acima). Ao final do livro, temos os agradecimentos do autor. E por fim, a capa chama muita atenção, os letreiros fazem uma alusão ao letreiro de Hollywood.
Peter Clines cresceu em Rei Stephen, zona de precipitação de Maine, e começou a escrever ficção científica e histórias fantásticas aos oito anos, com seu primeiro “romance épico”, Lizard Men from the Center of the Earth. Aos dezessete, vendeu seu primeiro texto para um jornal local; deste então, trabalhou como ghostwriter em dois livros, publicou um punhado de contos, e o primeiro roteiro que escreveu acabou abrindo uma porta para sugerir suas ideias às histórias de Star Trek: Deep Space Nine e Voyager. Depois de trabalhar na indústria do cinema e da televisão por quase 15 anos, escreveu inúmeros artigos e resenhas para a Creative Screenwriting Magazine e para sua newsletter on-line gratuita, CS Weekly, em que entrevistou dezenas dos maiores roteiristas de Hollywood e estrelas em ascensão. Atualmente, vive e escreve em algum lugar de Los Angeles.
Ex-Heróis é uma obra que explora com muita genialidade grande parte dos aspectos de histórias de super-heróis e histórias de apocalipse zumbi. Os fãs de ambos os gêneros vão se sentir em casa lendo essa obra e quem sabe até podem trocar figurinhas usando elementos do livro. Recomendo também para os curiosos que desejam saber como seria se seu herói favorito fosse para um mundo dominado pelos mortos que andam. Fãs de cinema vão se divertir bastante encontrando as referências que o autor usa. Inclusive, uma delas eu só fui notar nas últimas páginas. Em sua trama inusitada e empolgante, Ex-Heróis tem tudo o que os fãs de cultura pop gostam e um pouco mais.



Bibliografia de PETER CLINES (ordem cronológica):

Livros publicados no Brasil:
  • Ex-Heróis – Editora Novo Século (2013).
  • Ex-Patriotas – Editora Novo Século (2014).
  • Ex-Comunhão – Editora Novo Século (2014).
  • Ex-Purgatório – Editora Novo Século (2015).


Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
11 Comentários

11 comentários :

  1. Olá Luciano!
    Zumbis x Super-Heróis?! Minha cabeça explodiu! Sério, parece algo que não daria certo, mas pelo modo que você aborda na sua resenha fiquei louca para ler. Parece ser divertido ver como duas coisas tão opostas se encontram. Não sou fã de estórias de zumbis, apesar de acompanhar a série The Walking Dead, não me considero conhecedora dessa gênero e nunca tinha visto um livro sobre apocalipse zumbi que me chamasse tanta a atenção. Ri alto com o trecho falando da Angelina Jolie rs. Parabéns pela resenha!

    Luz e literatura!
    Beijos

    cantaremverso.com

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  2. Nunca li nada de zumbis, então não saberia dizer se é mais do mesmo, mas a forma como você iniciou sua opinião salientando que é diferente do que você esperava me deu certa esperança com o livro, parece ser uma narrativa intrigante essa mistura dos super heróis tbm é bastante legal. Não sou uma geek aficionada então acho que perderia algumas das referências que vc disse, mas o que não parece que vai me agrada é essa falta de informação sobre a origem doas heróis, parece que o autor se perde um pouco na própria salada que criou. Não sei se leria, mas parece uma obra bem interessante apesar de também dar a impressão que contém muita informação e pouca explicação

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  3. Olá, tudo bem?

    Achei a capa muito bacana, mas não sei se esse é um livro para mim. Assim como você, logo de cara já fiquei com um pé atrás justamente por todo esse BAM de TWD e todo muno decidindo escrever livros com algum tipo de zumbi ou mudanças nessa mitologia, mas o meu maior receio foi misturar super-heróis com os zumbis, saca? Gostei de saber que os heróis são legais e fogem aos esteriótipos, mas não o suficiente par comprar o livro e ler por agora, talvez mais para frente.

    Abraços,
    Matheus Braga
    Vida de Leitor - http://vidadeleitor.blogspot.com.br/

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  4. Oi Lu, tudo bem?
    Essa parte dos super-heróis super me chamou a atenção e a questão de ter um pouco de distopia, mas ai coloca zumbis e eu fico com um pouquinho de medo. Zumbis sempre me assustam, mesmo não tendo problemas com terror.
    Gostei de saber que o autor explora essa parte da raça humana e que os personagens são bem construídos. Só ainda não sei se leio por causa do zumbi, mas se mudar de ideia pego emprestado com você hahahahaha. Parabéns pela resenha.

    Beijos
    Leitora Sempre

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  5. Olá Luciano, eu não conhecia o livro, mas gostei da premissa de ter o super heróis que tentam ajudar a população a sobreviver aos zumbis, e gostei também de saber que não é mais do mesmo e tem sua dose de originalidade *--* Espero poder lê-lo em breve.

    Visite "Meu Mundo, Meu Estilo"

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  6. Oi Luciano, tudo bem
    Engraçado, era só falar em zumbis que eu me recusava a ver ou ler, achava bobinho, risos... Até que vi dois filmes, mas vi só por causa dos atores, e amei!!!!! E depois de tanta indicação de uma blogueira que eu gosto muito, acabei me rendendo. Não conhecia esse livro, mas foi bem ousado por parte do autor colocar Super-Heróis com zumbis. Parece um pouco estranho, fora do contexto e ao mesmo tempo ficou perfeito!!! Espero poder ler em breve. Sua resenha ficou ótima!!!!
    beijinhos.
    cila.
    http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/

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  7. Oi Luciano, tudo bem?

    Gostei muito da sua resenha, mas não curto muito super herói e nunca li nada sobre zumbis, e achei um pouco confusa a premissa do livro, um apocalipse zumbi, guerra de gangue e tudo o mais. Entretanto, gostei da tradução ter sido coerente com o livro original e com os personagens, apesar de que muitas gírias as veze se torna um pouco cansativo e gostei das referências, adoro referências nos livros.

    Beijinhos,

    Rafaella Lima // Vamos Falar de Livros?

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  8. Oiie tudo bem?

    Nossa, acho que o livro não ia funcionar comigo. Achei complexo até de entender a premissa. Não sou muito ligada à essa idéia de super heróis, muito menos zumbis. Então acho que tô fora mesmo huahjahja

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  9. Olá,
    A estória parece ser bem legal, mas no quesito super-herói eu prefiro filmes ahahaha
    Não sei porque, mas livros assim não me conquistam...
    Vou indicar para os amiguinhos ;D

    Beijinhos ;*
    http://www.guardiadebibliotecas.com.br/

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  10. Mundo pós apocalíptico, heróis e uma doença mortal são características
    suficientes pra me atraiar pra uma leitura, mas o fato de ter zumbis no enredo me desanima, não gosto desses seres, assustadores demais.
    Achei a proposta desse livro com um grande diferencial, mas com certeza não serve pra mim.

    Beijos.
    Leituras da Paty

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  11. Pra que enfiar zumbi no meio de tudo, minha gente? A premissa seria até legal se não fosse por esse inconveniente. Acho que o povo quer seguir a modinha e fica inventando coisas desnecessárias. Se fosse só com super-heróis, eu leria de boa.
    Beijinhos!
    Giulia - www.prazermechamolivro.com

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