RESENHA - Cemitério de Dragões: Legado Ranger 1 (Raphael Draccon)

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: DRACCON, Raphael. Cemitério de Dragões – Legado Ranger. 1ª edição. Rio de Janeiro, Fantástica Rocco, 2014. 350 páginas.
Gênero: Fantasia
Temas: Dragões, mundos fantásticos, demônios,
Categoria: Literatura Nacional
Ano de lançamento: 2014
Série: Cemitério de Dragões (Legado Ranger 1)














“Aquele punho fechado aguardando o toque dele não era apenas um cumprimento, era uma mensagem. Era uma maneira de aquele garoto lhe dar a outra face. Era uma forma de dizer, sem julgá-lo, que o perdoava por arrastá-lo até ali.
E por isso era difícil.
E assim eles permaneceram. Dois jovens comuns, sentados diante de um mundo extraordinário. Entre lágrimas, peso e autoflagelação, Romain encostou o próprio punho fechado no de Daniel, aceitando tudo o que vinha no gesto. Era pequeno, mas era um começo. E já era mais do que qualquer um havia feito por ele em muito tempo.
Afinal, para o que ele precisava fazer, era preciso estar leve.
E, em um mundo rodeado de demônios, perdoar a si próprio era o primeiro passo no caminho para a redenção.”
*Cemitério de Dragões (pág. 183).

               
Um soldado de elite do exército americano, uma garçonete irlandesa praticante de artes marciais no melhor estilo Street Fighter, uma africana guerrilheira nascida em meio aos conflitos de seu país, um dublê francês mestre em Parkour e um hacker brasileiro descendente de orientais.
Cinco pessoas. Cinco origens completamente diferentes. Apenas uma coisa em comum: eles não estavam mais na terra.
Um fenômeno misterioso faz essas cinco pessoas acordarem em diferentes regiões de uma realidade devastada por um poderoso império de reptilianos. Seus habitantes escravizados. Suas cidades destruídas. A esperança por um fio.
Os cinco iniciam uma jornada em busca de respostas para sobreviver em um mundo hostil e desconhecido, repleto de morte e guerras, dor e sofrimento, onde seres fantásticos que só deveriam existir na ficção e na mente de loucos, travam batalhas terríveis contra lordes demônios dispostos a invocar seres vindos dos nove círculos do inferno para servirem aos seus propósitos. No entanto, uma entidade cria um plano para entrelaçar o destino dos cinco humanos e armá-los com uma tecnologia construída à base de metal-vivo, magia e sangue de dragões. Uma tecnologia que deixaria tudo o que conhecemos em nosso mundo parecer obsoleto, capaz de gerar heróis de metal. Estarão eles prontos para aceitarem o novo mundo? Estarão eles aptos a sobreviver no Cemitério?
              Raphael Draccon, um dos maiores e mais influentes nomes da literatura contemporânea brasileira, apresenta ao público sua nova e ambiciosa obra fantástica. “Cemitério de Dragões – Legado Ranger I” é o início de uma épica aventura que envolve magia, dragões, demônios, outras dimensões e reinos, onde seres fantásticos lutam pela sobrevivência contra tirânicos demônios e seus exércitos de seres inferiores.
               O livro começa tenso. Derek acorda em um mundo desconhecido, cercado por criaturas que não deveriam existir. Feito escravo por monstruosos seres humanoides que detinham características de dragões e demônios. Junto a ele, outros escravos: humanos, anões, gigantes, humanoides de pele acinzentada. Entre os seus algozes estavam os dracônicos e uma raça esquisita de humanoides anfíbios. Todos os dias, os prisioneiros eram forçados a trabalhar. Muitos morriam e muitos outros eram trazidos para preencher as “vagas”. Derek analisava o comportamento de seus algozes e começou a formular um plano de fuga.
               Muito longe dali, no Templo do Leão, a jovem Ashanti treinava com pessoas que ela nunca vira na vida, de uma cultura cujo combate era a única coisa familiar. Encontrada por caçadores locais, a jovem tonou-se um fenômeno da noite para o dia, graças a sua inteligência fora do comum e habilidade eidética. Em poucos dias, já sabia o idioma local, a cultura e boa parte da história do Reino chamado Tameru.
               Em outro ponto da história somos apresentados à cidade de Tegrim, um local semelhante à nossa era medieval, com normas de conduta bem primitivas. Lá conhecemos o hilário francês Romain. Ele havia acordado nu naquele lugar e foi apanhado no flagra enquanto roubava duas galinhas. Em meio ao seu julgamento, ele conhece Daniel, um garoto brasileiro descendente de asiáticos que por eventos da trama, acaba sendo acusado de bruxaria e também vai a julgamento.
              E assim o livro segue. A cada capítulo, somos apresentados à história de um (ou mais de um) dos cinco personagens da trama.
             Quando li a sinopse e descobri que o livro seria uma homenagem as antigas séries de TV Tokusatsu (para saberem o que é cliquem aqui), já sabia que o “cara das referências” iria atacar novamente. Quem acompanha o trabalho do Draccon sabe que suas obras são bombardeadas de referências culturais (algumas são sutis, outras faltam pular na nossa cara). Histórias infanto-juvenis em “Dragões de Éther”, as lendas urbanas em “Espíritos de Gelo”, as mitologias em “Fios de Prata”. E nesse ele não deixa por menos. Mais uma vez ele mostra aos leitores o porquê dele ser um dos mais talentosos escritores de fantasia do Brasil.
Falando em referências, elas são muitas. Desde os Super Sentais até Darth Vader. O mais interessante é que elas não são forçadas e fluem perfeitamente com a narrativa. Raphael Draccon é muito conhecido por explorar outras histórias, a fim de criar em seu próprio universo uma salada mista de homenagens a outras obras. Quer um exemplo? Cinco jovens são tirados de seu mundo e acabam caindo em um local estranho e tudo o que eles mais querem é ir pra casa. Outro: Uma entidade ancestral convoca um deles e lhe concede uma armadura feita de metal-vivo que lhe confere poderes sobre-humanos. Aí ele reúne outros quatro e juntos formam um esquadrão. Essas são as referências mais evidentes na obra: Caverna do Dragão e Power Rangers. Vale uma observação curiosa: Draccon criou uma excelente resposta para a pergunta que todos se faziam: De onde diabos os Rangers tiram suas armas? Vocês tem de ler, não vou dar essa resposta.

Em caso de explosão, faça pose. Sempre!


- Magia... dragões... demônios... armaduras tecnológicas... cara... isso aqui é... isso é... isso é Etérnia! Isso é Thundera! – De repente, ele abriu os braços e gritou: - Eu vim parar em uma Matrix programada pela Square! – pág 292

Todos os personagens são excepcionais e bem complexos, mas dois se destacam pelo modo como se conheceram e como a amizade entre os dois ficou forte. O que falar da dupla Romain e Daniel? Um cara é flagrado nu com duas galinhas na mão e o outro é acusado de ser um bruxo em uma cidade tão medieval que relembra os períodos da Inquisição. No que isso poderia dar? Confusão, claro. Os dois são mestres em se meter em encrenca e cada um lida com a situação da sua forma. Romain com seu humor ácido e Daniel com sua inteligência apurada. As melhores referências estão nas falas desses dois.

- Ei, Naruto! Pare de fingir que não me vê e olhe para cá! – gritou ele em inglês, sentido-se mal. A alcunha gerou o reflexo. Foi um movimento involuntário, mas o rapaz no centro da multidão focalizou seu olhar Nele. E aquilo mudou tudo. – Ah, essa porra dessa língua você consegue entender, né? Pág 55

              Enquanto lia a obra, não pude deixar de comparar alguns personagens com os heróis de Caverna do Dragão. Quem leu Cemitério de Dragões pode refletir comigo: Derek é o líder do grupo, de raciocínio rápido e ótima pontaria, boa parte do tempo (em momentos de batalha) ele passa distribuindo headshots atirando nos outros com um rifle automático de outra dimensão. Troque o rifle por um arco e você tem o Hank; Ashanti é uma exímia lutadora africana e realiza saltos para atacar seus adversários, em seu treinamento em Tameru ela usa um bastão, mencionei que ela é negra? Temos a Diana; Daniel é um garoto meio indefeso, meio tímido que foi confundindo com um bruxo e que no começo de tudo fazia pequenos truques para tentar sobreviver. Olha aí o Presto; Amber tinha (ou tem?) um irmão com quem ela se importava muito, Sheila! E por último, Romain, mestre em correr, mestre em falar demais, mestre do sarcasmo, mestre em reclamar e mestre em atrair confusão. Só faltou pôr um escudo nele e pronto, temos nosso amado Eric. Consciência ou não, eu adorei.
         
Seria Asteroth o "Vingador"? Veremos o Bob no próximo livro? Não percam o próximo episódio!
  
- Ai, cacete! Porra! Sai, sai! Que porra é... PUTA MERDA, aquilo quase me acertou! Ai, desgraçado de uma figa! Peraí, aquele japonês arrancou mesmo as mãos daquele bicho na espada? Eu não acredito que aqueles aldeãos  burros me deixaram desarmado em uma cela com esse psicopata! É sério que eu estou correndo na direção de homens-leões?
- Dragão verde, eu ainda posso escutar você – comentou Derek entre um tiro e outro do rifle de assalto, embora não o compreendesse por completo.
- Eu tenho uma sugestão, chefe: SAI DA DROGA DA MINHA CABEÇA ENTÃO, PORRA!
Pág 316.

                Só tenho uma crítica a fazer a respeito dessa obra: o final. Sabe quando você está com pressa, faz tudo correndo e vê que o resultado não ficou tão bom quanto você gostaria? Pois é. Foi assim que me senti lendo as pouco mais de cinquenta páginas finais. Tudo foi muito rápido. O autor criou um mundo, línguas novas, criaturas fantásticas, heróis com histórias incríveis, um vilão singular para apertar o botão de acelerar x5 na reta final. A partir do encontro dos cinco, tudo na obra avançou rápido demais. A aguardada Noite da Serpente, a aparição do monstro, a transformação dos heróis em Rangers, a batalha contra a besta alada, o encontro com Ravenna, as revelações de Asteroph, o destino dos Rangers... tudo isso em pouco mais de cinquenta páginas. Não é algo natural do autor, que costuma estender e trabalhar cada aspecto a fim de detalhar ao máximo o que escreve. Só lendo para entender o quão rápido esse desfecho foi escrito. Eu tenho minhas teorias a respeito do porquê, mas prefiro me manter neutro. Apenas digo que, em minha opinião, seriam necessárias mais umas cinquenta páginas no mínimo para que o desfecho do livro transcorresse na mesma medida do resto da obra. Apesar da pequena correria, o final é muito bom, com um gancho fenomenal para o segundo livro que eu acredito que explorara ainda mais o potencial da história. Tanto que aquela última página deixou em mim uma vontade enorme de roubar o DeLorean (foi mal Doc.), ir para o futuro e ler logo a continuação dessa excelente obra.  
            O livro é narrado em terceira pessoa. A narrativa se concentra na história dos cinco personagens principais, vez ou outra mostrando as ações dos antagonistas da trama. Podemos acompanhar o passado de alguns personagens à medida que a história avança, com eles próprios contando um pouco sobre suas vidas antes de serem levados até aquela realidade. A relação temporal é toda linear, sem cortes temporais. Porém, a cada capítulo são alterados os personagens focados, o que pode causar uma confusão no leitor menos atento, já que às vezes, o leitor tem de lembrar de um trecho que aconteceu muitas páginas atrás para se ambientar novamente (se você leu Crônicas de Gelo e Fogo, isso não será um problema). Esse é um recurso necessário, já que os personagens centrais da trama encontram-se separados em quase toda a história. Por conta das descrições de algumas criaturas (o autor chega a usar termos de anatomia) e locais, o leitor pode acabar travando a leitura para tentar imaginar a cena ou ao se deparar com palavras mais rebuscadas, mas nada que possa comprometer a leitura ou fazer o leitor desistir da obra. A revisão está quase impecável, um erro ou outro. A diagramação também está ótima. Como alguns personagens são de outros mundos e falam outros idiomas, algumas falas não estão com a fonte padrão empregada no livro, exatamente para ilustrar que ali está sendo usado outro dialeto. Cada novo capítulo apresenta a imagem de um dragão juntamente com uma numeração (foto acima), indicando em qual capítulo o leitor se encontra. A capa é uma obra a parte, mostrando o horizonte, onde dragões planam e mais próximo um capacete de visor vermelho com um símbolo gravado no topo que faz referência direta a uma passagem da obra. Esse é um livro que ganharia fácil a atenção dos leitores ao ser exposto em uma vitrine.    
                Raphael Draccon é romancista, roteirista e editor. Com a marca de 200 mil exemplares, é o autor mais jovem a assinar com os braços nacionais de duas das maiores holdings editoriais do mundo. Além de integrante do RapaduraCast, é roteirista premiado pela American Screenwriter Association e chegou ao quarto lugar dos mais vendidos no México pela Random House. Responsável pela indicação da obra de George R.R. Martin, "Crônicas de Gelo & Fogo", é hoje autor da editora Rocco, estreando o novo selo de fantasia da empresa. O autor é um dos escritores mais influentes do mercado literário brasileiro e já conquistou uma verdadeira legião de leitores dentro e fora do país. Algumas de suas obras já foram publicadas em Portugal e no México, onde entrou para a lista dos mais vendidos.
           Cemitério de Dragões é a grande aposta do autor para alavancar ainda mais as obras fantásticas nacionais. Se você, leitor, gosta desse gênero, esse é o livro certo para você. Agora, se fantasia não é a sua praia, talvez a leitura não seja tão agradável pelos motivos que eu expliquei acima. Se você tem algum problema com violência explícita (as descrições de mortes são um tanto pesadas para um livro fantástico), também não recomendo. Para aqueles que, assim como eu, curtem cultura pop, cresceram assistindo Power Rangers, Caverna do Dragão, e demais desenhos da década de 80/90, sintam-se em casa lendo esse livro.  Para aqueles que sonham em serem tragados para outra dimensão e viverem aventuras incríveis ao lado de seres fantásticos, esse livro é obrigatório. E para aqueles que acreditam que a literatura nacional pode se igualar aos mais famosos Best Sellers do mundo, esse livro é para todos nós, brasileiros.




Bibliografia de RAPHAEL DRACCON (ordem cronológica):

Livros:

  • Dragões de Éter: Caçadores de Bruxas - Editora Planeta (2007);
  • Dragões de Éter: Corações de Neve - Editora Leya Brasil (2009);
  • Dragões de Éter: Círculos de Chuva - Editora Leya Brasil (2010);;
  • Espíritos de Gelo - Editora Leya Brasil (2011);
  • Fios de Prata: Reconstruindo Sandman - Editora Leya Brasil (2012);
  • Cemitério de Dragões: Legado Ranger 1 (2014).


Contos:

  • Crônicas de Tormenta - Jambô Editora (2011);
  • Geração SubZero - Editora Record (2012);
  • Caminhos Fantásticos - Jambô Editora (2012). 
Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
2 Comentários

2 comentários :

  1. Gostei! Adoro répteis!
    hahahahahahha
    Continue divulgando esses trabalhos legais!!! ^^

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  2. Esse livro é muito bom mesmo, provavelmente um dos melhores que li ano passado. O Draccon sabe muito bem como prender o leitor à história, o que faz com que a leitura seja bem agradável. E o final é realmente muito abrupto, tudo acontece muito rápido, sem pausas, e algumas coisas acabam ficando confusas (acho que sei quais são as suas teorias sobre o porquê disso kkkk).

    P. S.: No décimo parágrafo, quando você fala sobre tokusatsu, não tem o link.

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