RESENHA - O pequeno príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)

         Aviso: O livro “O pequeno príncipe” é, sempre foi e sempre será meu livro favorito. Essa história sempre tocou fundo meu coração, desde a primeira vez que a li. Por ser um livro tão especial para mim, com um valor simbólico e sentimental tão grande, me permiti ser um pouquinho egoísta e egocêntrica e postar essa resenha somente hoje, dia 09 de novembro, meu aniversário. Este é meu presente de aniversário, de Helkem para Helkem, que compartilho com vocês. Espero que apreciem a leitura e se deixem cativar por essa tão emocionante história, assim como fui cativada tantos anos atrás. - Helkem Araújo

Ficha técnica:
Referência bibliográfica: SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. Rio de Janeiro, Editora Agir, 2009. Aquarelas do autor. 48ª edição / 49ª reimpressão. Tradução por Dom Marcos Barbosa.  93 páginas.
Gênero: Infantil; Fábula.
Temas: Amizade, amor, valores pessoais.
Categoria: Literatura estrangeira; literatura francesa.
Ano de lançamento: 1943 nos Estudos Unidos e 1945 na França.












Assim, se alguém lhes disser: ‘A prova de que o principezinho existia é que ele era encantador, que ele ria, e que queria um carneiro. Quando alguém quer um carneiro, é porque existe’, elas pouco se importarão, e nos chamarão de crianças! Mas se dissermos: ‘O planeta de onde ele vinha é o asteroide B 612’, ficarão inteiramente satisfeitas e não nos amolarão com perguntas. Elas são assim mesmo. É preciso não lhes querer mal por isso. As crianças tem que ter um muita paciência com as pessoas grandes.
            Mas, com certeza para nós, que compreendemos o significado da vida, os números não têm tanta importância! Gostaria de ter começado esta história como nos contos de fada. Gostaria de ter começado assim:
            ‘Era uma vez um pequeno príncipe que habitava um planeta um pouco maior que ele, e que precisava de um amigo...’
            Para aqueles que compreendem a vida, isso pareceria, sem dúvida, muito mais verdadeiro. Não gosto que leiam meu livro superficialmente. Dá-me tanta tristeza narrar estas lembranças! Já faz seis anos que meu amigo se foi com seu carneiro. Se tento descrevê-lo aqui, é justamente porque não quero esquecê-lo. É triste esquecer um amigo. Nem todo mundo tem um amigo. E eu corro o risco de ficar como as pessoas grandes, que só se interessam por números. Foi por isso que comprei um estojo de aquarelas e alguns lápis. É difícil voltar a desenhar na minha idade, principalmente quando não se fez outra tentativa além de jiboias fechadas e abertas, aos seis anos! Experimentarei, é claro, fazer os desenhos mais fieis que puder. Mas não tenho muita certeza de conseguir. Um desenho parece passável; outro já é inteiramente diferente. Engano-me também no tamanho. Ora o principezinho está muito grande, ora pequeno demais. Hesito também quanto à cor de suas roupas. Vou arriscando, então, aqui e ali. Provavelmente esquecerei detalhes dos mais importantes. Peço que me perdoem. Meu amigo nunca dava explicações. Julgava-me talvez semelhante a ele. Mas, infelizmente, não sei ver carneiros através de caixas. Talvez eu seja um pouco como as pessoas grandes. Devo ter envelhecido.”
*O pequeno príncipe (pág. 18 e 19).



                Uma pane no motor de seu avião obrigou um piloto a fazer um pouso de emergência no deserto do Saara. Sozinho, longe de qualquer traço de civilização, a quilômetros e quilômetros de lugar algum, ele tinha que consertar o motor antes que sua reserva de água – suficiente apenas para oito dias – acabasse. Qual não foi sua surpresa ao ser despertado pela manhã por um estranho garotinho pedindo que desenhasse um carneiro. A partir de então, o piloto teve como companhia o pequeno príncipe que, ele descobriu aos poucos, viera de um minúsculo planeta – pouco maior que uma casa – onde tinha por companhia os pores-do-sol, três vulcões – um deles extinto – e uma rosa muito bela mas excessivamente orgulhosa. E que o pequeno viajante, cansado de sua rotina e dos excessos da flor, partira à procura de um amigo. Nos dias que passaram juntos no deserto, o pequeno visitante narrou para o adulto sua longa jornada, descrevendo as pessoas e também os seres que conhecera. E, enquanto o motor do avião era consertado, homem e menino se tornaram amigos e o piloto enfim conheceu alguém que enxergava como ele o valor das coisas importantes da vida.
                Uma história singela, ingênua e carregada de significados. Assim é “O pequeno príncipe” de Antoine de Saint-Exupéry. Mais que o simples relato de acontecimentos, a obra trata de encontros, experiências de vida e, sobretudo, de valores pessoais. A história de um homem que, apesar de adulto e de conviver com “pessoas grandes” e perante elas se comportar como tal, jamais deixou de ser a criança que foi um dia e nunca abandonou seu modo simples de enxergar o mundo à sua volta. A história de um principezinho de um pequeno planeta, desprovido de amarras sociais, de incoerências e de falsos valores, que em sua inocência de criança enxerga o mundo – tudo e todos – com olhos de curiosidade e de entendimento daquilo que não se vê, apenas se sente. A história de quando homem e menino se conhecem e aprendem muito um com o outro.
Narrada em primeira pessoa, a história é contada pelo piloto seis anos após sua pane no deserto. O piloto, que não é identificado por nome ou alcunha (isso seria importante?), relata como conheceu o pequeno príncipe (que também não é identificado por um nome, somente a denominação do que ele efetivamente era, um pequeno príncipe de um planetinha distante, assim sem maiúscula que caracterizasse um título), como foram seus dias juntos no deserto, como foram suas meias conversas – porque o principezinho nunca respondia uma pergunta e jamais desistia de uma pergunta que houvesse feito – e as valiosas lições que aprendeu com ele. O texto intercala os momentos em que o piloto narra seus momentos com o pequeno visitante e os momentos em que ele narra, como um narrador onisciente, as aventuras do príncipe em suas viagens. A linguagem culta, característica da época em que o livro foi escrito (1943) não impede que o texto adote uma postura simples e clara perante seu leitor. Escrito para o público infantil, o narrador expressa constantemente suas opiniões e impressões, todas provenientes de um adulto que jamais abandonou sua criança interior e enxerga o mundo através da lente da simplicidade subjetiva e do coração, em oposição à visão adulta, prática, lógica e desprovida – segundo sua percepção – dos verdadeiros valores. E nesse clima de descontração e liberdade poética, Saint-Exupéry transmite importantes noções e conceitos, valorosas lições para adultos e crianças: o valor da amizade sincera, da conquista de um coração; o valor de um trabalho com propósito em oposição àquele motivado apenas pelo acúmulo de bens e de riquezas; o uso correto da autoridade e do status; a insignificância dos números e sua incapacidade de expressar os verdadeiros valores, entre tantas outras. E há as aquarelas, as ilustrações feitas pelo próprio Saint-Exupéry. Lindas e singelas, exemplificam com excelência as ideias contidas no livro e a leveza da história a ser contada.
Antoine-Jean-Baptiste-Marie-Roger Foscolombe de Saint-Exupéry, terceiro fruto do casamento entre o conde Jean Saint-Exupéry e da condessa Marie Foscolombe, nasceu em Lyon, na França, em junho de 1900. Apaixonado por mecânica e aviação, assumiu o posto de subtenente de reserva e tornou-se piloto aos 21 anos. Realizou várias missões como piloto em países como Marrocos, Senegal, Estados Unidos e, claro, França. Em seus voos, Antoine de Saint-Exupéry esteve inclusive em Florianópolis, Brasil, onde funcionava um campo de pouso sob administração francesa. Mas aviação não era a única paixão deste piloto francês. Ele era também ilustrador e escritor. Escreveu para jornais e revistas francesas e publicou vários livros abordando temas como a guerra civil e a ocupação alemã na França. A aviação era tema recorrente em suas histórias. Sua mais importante obra, “O pequeno príncipe”, foi escrita durante seu exilio nos Estados Unidos. Estando em terras americanas, Saint-Exupéry fez um acordo com sua editora norte-americana para que o livro fosse publicado simultaneamente nos EUA e na França. Entretanto, o autor não viveu o suficiente para ver o sucesso de sua obra. Em julho de 1944, num voo com objetivo de observar os movimentos das tropas alemãs, o piloto-escritor, então com 44 anos, sofreu um acidente fatal próximo à Baía de Carqueiranne, em Toulon. Os destroços do avião foram encontrados somente em 2004, sessenta anos após sua morte. O corpo jamais foi localizado. O livro foi publicado nos EUA em 1943. O autor recebeu o primeiro exemplar alguns dias antes de embarcar na fatídica viagem que resultou em sua morte. Na França, a publicação póstuma ocorreu em 1945.
O sucesso de “O pequeno príncipe” foi e continua sendo tão estrondoso que a obra coleciona números e títulos consideráveis: é o maior best-seller da literatura francesa; em escala mundial, detém o posto de 5ª obra mais vendida; já vendeu em todo o globo aproximadamente 140 milhões de exemplares; é o terceiro livro mais traduzido no mundo; possui edições em mais de 210 idiomas, incluindo nessa lista o toba, uma língua do norte da Argentina; também possuem transcrições para o braile. Mas apesar dos números serem impressionantes, a magnitude da obra não pode ser expressa por eles. Nas palavras do próprio Saint-Exupéry: “Mas, com certeza, para nós, que compreendemos o significado da vida, os números não têm importância!” (pág. 18). E como ele faz ao explanar nas páginas do livro sobre o exagerado valor que as “pessoas grandes” atribuem aos números em detrimento das qualidades reais das pessoas e das coisas, o valor do seu “O pequeno príncipe” extrapola o que a matemática pode quantificar. É um livro que presenteia o leitor com uma visão simples, porém tão profunda e verdadeira da vida que toca o coração de todo ser humano que detiver seus olhos por suas páginas. É um livro para ser lido quando criança; para ser relido quando adolescente; para ser relembrado e novamente relido quando adulto; para ser interiorizado na alma quando da chegada dos filhos; para ser apreciado e degustado quando a sabedoria da velhice bater à porta. É uma obra para todas as idades e para todas as gerações. E a prova de que seu valor é incomensurável e verdadeiro é sua capacidade de comover e fazer pensar; e de resgatar a criança interior de cada um, de acalentá-la e fazê-la novamente se despir de ideias pré-concebidas e equivocadas, fazendo-a enxergar que “o essencial é invisível aos olhos” (pág. 70).




Bibliografia de Antoine de Saint-Exupéry (ordem cronológica):
  • L’Aviateur (O aviador) – 1926;
  • Courrier sud (Correio do Sul) – 1929;
  • Vol de Nuit (Voo Noturno) – 1931;
  • Terre des hommes (Terra dos homens) – 1939;
  • Pilote de guerre (Piloto de guerra) – 1942;
  • Le Petit Prince (O pequeno príncipe) – 1943 nos Estados Unidos e 1945 na França;
  • Lettre à um otage (Carta a um refém) – 1943/1944;
  • Citadelle (Cidadela) – 1948, póstumo.


Estátua de Saint-Exupéry usando seu uniforme de piloto ao lado do pequeno príncipe - Lyon, França.


Cédulas comemorativas de 50 francos lançadas na França em 1993 em homenagem aos 50 anos de publicação de "O pequeno príncipe".


Referências:

Crédito das imagens:
Cédulas - Blog do Curioso
Estátua em Lyon - Flickr Mauricio e Debora
Helkem Araujo

O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade; sei lá de quê! - Florbela Espanca
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Comentários
7 Comentários

7 comentários :

  1. *-* Resenha mais que maravilhosa e mais que especial. Helkem, minha flor, simplesmente sensacional. Eu amo o "O Pequeno Príncipe" e cada trecho que pode ser tirado como lição de vida. Você transmitiu tudo o que esse livro traz de lindo e sim é para qualquer geração! Parabéns por mais uma vida e que tudo que há de bom esteja nela! Beijos

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  2. Amo O pequeno príncipe. Tenho o livro que leio, no mínimo, três vezes por ano e o filme que vejo todo mês.
    Cada leitura, novas portas abrem no meu inconsciente. Novos significados. É um livro atemporal.
    Gostaria que o filme tivesse uma nova versão.
    Parabéns pela resenha.

    http://poesianaalmaliteraria.blogspot.com.br/

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  3. Olá Helken ! Eu vi esse livro várias vezes em promoção mas não tive interesse em comprar, justamente por não fazer ideia do que se tratava o livro. Agora que conheço não há como ignora-lo por mais tempo , parece ser uma história muito linda ....

    Abraços
    www.dezenoveprimaveras.com

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  4. O Pequeno príncipe é um clássico, né?
    Eu tenho meu estrelando minha estante, marcou tanto a minha infância que eu quero que Alice o leia e ele represente muito pra ela também.
    Como sempre, suas resenhas são ótimas e bem detalhadas, tá de parabéns pra variar.
    Xeroo
    ♫ Conversas de Alcova ♫

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  5. Muito obrigada pelos elogios, meninas.
    Carolina, não tem como não se apaixonar pela história do Pequeno Príncipe. É absolutamente fantástica!!! Posso te garantir. Pode comprar e ler sem medo de errar.

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  6. Como a Kris disse, é um clássico, tão clássico que ainda não o li. Pela mesma razão da Carolina. Conheço muitas pessoas que já o leram, mas não entendo o porque da vontade não surgir em mim. Não sou uma "leitora árdua" por assim dizer. Não tenho vício em ler, talvez seja isso. Mas por ser tão falado e tão lido e depois da sua super resenha (hehe) quem sabe ele entre na minha lista de livros, né?

    Um beijo.
    Pretty Things!

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  7. Olá,

    Já li e assisti a animação, simplesmente amo a história e as lições por trás d'O Pequeno Príncipe. É com toda certeza uma obra surreal e de valores inestimáveis. Ótima resenha! *O*

    https://www.jinformal.com.br/

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