RESENHA - Era dos Mortos: Parte 2 (Rodrigo de Oliveira)

Rodrigo de Oliveira apresenta a seus leitores o desfecho da mais épica saga de zumbis escrita por um autor nacional. Bem-vindos a Era dos Mortos.


Ficha técnica:
Referência bibliográfica: DE OLIVEIRA, Rodrigo. A Era dos Mortos - Parte 2. 1ª edição. São Paulo, Faro editorial, 2018. 318 páginas.
Gênero: Terror
Temas: Apocalipse Zumbi, Mortes, Vingança.
Categoria: Literatura Nacional
Ano de lançamento: 2018
Série Crônicas dos Mortos: O vale dos Mortos (Livro 1), Elevador 16 (Livro 1.5), Batalha dos Mortos (livro 2), Senhora dos Mortos (Livro 3), Ilha dos Mortos (Livro 4), Era dos Mortos - Parte 1 (livro 5), Era dos Mortos - Parte 2 (Livro 6).






“- Ivan, vem aqui, me ajuda! Eu não quero morrer, por favor…
E nesse momento um berserker saltou logo atrás de Daniel. A criatura, magérrima e de pele enegrecida, o encarou com olhos vermelhos e selvagens, e soltou um urro enfurecido.
Daniel virou a cabeça, em pânico. Suas pernas estavam presas, esmagadas pelos escombros, e ele perdera sua arma. Seu coração saltava dentro do peito e seus olhos estavam cheios de lágrimas, causadas pela dor e pelo terror
- Não, por favor, eu…
O berserker saltou sobre ele, enfurecido, e puxou a cabeça do soldado com tanta força que a arrancou do pescoço, arrastando também a coluna vertebral do rapaz para fora do corpo. O cadáver de Daniel desabou, enquanto uma imensa torrente de sangue se esparramava logo atrás, jorrando do seu pescoço grosseiramente degolado.”
*A Era dos Mortos - Parte 2 (pág. 73).

              
               A saga As Crônicas dos Mortos chega ao fim. Zumbis, tiranos e rebeldes se enfrentam pela última vez para para decidir quem irá prevalecer no fim. Após os trágicos eventos que dizimaram os sobreviventes da Serra Catarinense, Fernando e Sarah se separaram e cada um seguiu por um caminho diferente, o que só fez aumentar o desejo em ambos de derrubar o ditador Otávio a qualquer custo. Com isso em mente, os jovens enfrentaram diversos desafios para se manterem vivos em meio a um mundo tomado pela violência.
               Então, quando já se pensava que Otávio não poderia mais cometer atrocidades, ocorre uma tragédia devastadora em uma das maiores comunidades de sobreviventes do país, o que fez girar a chave da revolta, pois todos sabem que o líder tirano tem em sua posse uma das mais poderosas armas de guerra já concebidas e não hesita em usá-las contra qualquer oposição. A sensação de relativa segurança cai por terra e qualquer comunidade pode ser alvo.
               E ele ainda tem Roberto como arma.
             Longe dos conflitos, os zumbis atingem um novo patamar de evolução, tão letal que nenhum exército será capaz de detê-los. O ser humano não pode mais combater os mortos-vivos.
               Bem-vindo à Era dos Mortos.

               A Era dos Mortos - Parte 2 é uma obra de terror nacional escrita pelo autor Rodrigo de Oliveira e por se tratar de seu sétimo e último livro, dispensa quaisquer apresentações. Se você caiu nessa resenha de paraquedas, saiba que a resenha por si só é um compilado de muitos spoilers. Recomendo ler as obras e voltar aqui depois para conversarmos. Sério, você não vai querer saber o que aconteceu aqui se tem vontade de ler os livros.
               A obra tem início com um flashback de um dos momentos mais tenebrosos de toda a saga: a morte de Isabel. Ela, debilitada depois da batalha psíquica que travou contra Roberto, não foi páreo para as forças de Ilhabela e sucumbiu. Otávio, que foi pessoalmente comandar a operação, arrancou a cabeça da anciã com uma serra elétrica para estudar seus poderes paranormais. Porém, antes do fim, Isabel sorriu e aquilo havia deixado tanto os espectadores, quanto os leitores intrigados. A explicação veio nesse flashback.
               Logo depois o livro conta como Fernando e Jennifer conseguiram escapar das garras do tirano e pedir abrigo na fortaleza de São José da Ponta Grossa, local liderado por Ingrid, filha da lendária Adriana (quem não lembra, ela estava presente desde o primeiro livro, lá no Condomínio Colinas). Lá, o garoto se destacou entre os soldados, mesmo sendo apenas um jovem de 13 anos e em pouco tempo já estava na linha de frente das missões de combate. Na outra ponta, ficamos sabendo o que aconteceu com Sarah depois do hediondo assassinato de sua mãe no livro anterior. A garota se refugiou em um prostíbulo, tendo sido salva dos soldados de Ilhabela pela anfitriã da casa, Madame Bianca. A mulher, ao ficar sabendo de toda a história de Sarah decidiu acolhê-la e treiná-la para o futuro que aguardava a criança.

A Comunidade Unidos por São Paulo tem papel importante na trama

               Antes de fazer minhas considerações sobre a obra, quero deixar meus agradecimentos ao Rodrigo por escrever uma série tão fantástica. E à Faro Editorial por acreditar e confiar no nosso trabalho aqui na Academia. É muito gratificante para mim poder acompanhar o desenvolvimento de uma obra literária até o desfecho e essa, sem sombra de dúvidas, foi uma das sagas mais empolgantes que li na vida. Obrigado mesmo. Dito isso, vamos ao que realmente interessa para vocês leitores:
Mais uma vez o autor volta a surpreender seus leitores com uma trama bem elaborada e bem escrita. Acompanhamos a jornada de Fernando e Sarah, profetizados por Isabel como aqueles que trariam morte e destruição para o mundo e, como havia dito na resenha anterior, estava doido para saber como eles desempenhariam esse papel. E foi muito simples entender: a morte é um imã natural para as duas crianças, em especial para Fernando. Com seus cartazes de mais procurados espalhados por todo o Brasil, todos estavam atrás das crianças terroristas e cada vez que descobriam o paradeiro deles, a morte vinha ceifar vidas ao redor dos dois.
O que dita o tom da narrativa é a vingança. A força motora que move tanto Fernando, quanto Sarah, é a oportunidade de vingar tudo que eles perderam. E para isso os dois passam por anos de provações, onde suas mentes e corpos são levados ao limite. Também vale ressaltar que ambos tiveram até mesmo de mudar suas identidades para continuarem sobrevivendo no novo mundo. E por uma ironia curiosa, quisera o destino que seus nomes fossem “Ivan” e “Estela”.

“Fernando nunca surgia na muralha de rosto desprotegido: a pedido de Ingrid, usava sempre uma touca ninja, que cobria toda sua face. Ela sabia que os soldados de Otávio vigiavam a comunidade, e desconfiava que havia espiões infiltrados no grupo. Ninguém podia saber que o garoto estava ali. Ele até mesmo recebeu outro nome.
- Ivan? – Fernando perguntara, intrigado.
- Sim. Ele foi um dos melhores soldados que esta terra já conheceu. Quem sabe esse nome servirá de inspiração pra você – Ingrid falara, em um raro momento de descontração.”
*A Era dos Mortos - Parte 2 (pág. 124).

Otávio continua sendo um grande filho da p&t@. Impiedoso como sempre foi, ele fez uma verdadeira campanha de “guerra contra o terror” ao espalhar os cartazes de Fernando e Sarah por todos os lugares. E como se não bastasse o próprio Roberto sob seu poder, ele ainda viria a descobrir um novo brinquedinho para pôr medo nos corações dos sobreviventes. Algo que, se usado com devida precisão, poderia ser ainda mais letal que seu zumbi de estimação. Porém, pior do que os zumbis, pior do que os Berserkers, pior do que Otávio, pior do que Roberto, é o autor. Não tem vilão na saga pior que o Rodrigo. É impressionante como ele sabe fazer você se importar com um personagem para depois vê-lo em uma cova qualquer por conta de uma morte horrível. Sério, é de doer o coração.
Era dos Mortos - Parte 2 é uma obra fantástica que explora o que há de mais perverso na raça humana. Onde os poucos de bom coração precisam resistir a força impiedosa de Otávio. Esse é um livro que serve como reflexão para os nossos atos no sentido de: até onde iriamos para salvar alguém que amamos ou para salvar a própria pele? Existe limites para a maldade do ser humano? É possível deixar as diferenças de lado para enfrentar um inimigo em comum? As Crônicas dos mortos como um todo tem tudo isso e muitas outras coisas. Não se trata apenas de sobreviver a uma horda de zumbis. E se você ainda tem alguma dúvida sobre o quanto essa série é maravilhosa, experimente comprar o primeiro livro e ler. Vai na fé.


Bom, como nem tudo são flores, tenho considerações a respeito da obra. Considerações estas que não vem apenas de um resenhista, mas de um fã da série. O primeiro ponto é sobre a parte sobrenatural da coisa toda. Há quem possa discordar de mim, mas vamos aos pontos: no livro cinco, ficamos sabendo que Isabel podia falar com os Mortos. E não era só isso, ela discutia estratégias com eles e até mesmo sabia que Ivan e Estela iriam reencarnar em algum momento. Isso é muito explorado na obra e moldou muitas das decisões da anciã acerca das crianças (inclusive o treinamento na Grande Imersão). Com a morte de Isabel, esse “elo” foi quebrado. Ou foi assim que pensei, quando Sarah teve um sonho com Isabel a alertando sobre o perigo da nova arma de Otávio. Depois disso, esse aspecto espiritual da obra foi deixado de lado. Algo que tinha potencial para ser mais utilizado, foi explorado pouquíssimas vezes, como se não precisassem mais desse recurso. Se fosse o caso, poderia ter rolado, sei lá, uma despedida. Posso estar sendo chato, eu sei, mas desde a primeira vez que vi o autor falando de espíritos na trama, imaginei que eles teriam (os já mortos) algum papel que não fosse só conversar com Isabel.
               Como também dito no livro anterior, tivemos a descoberta chocante de zumbis que possuíam resquícios de inteligência. O suficiente para se organizarem sob o comando de um líder e conseguir até mesmo manusear objetos para a guerra. Fiquei extremamente empolgado sobre como eles iriam ser usados no embate, mas infelizmente eles ficaram como “inimigos secundários”, usados apenas para que Otávio pudesse mostrar ao mundo (e aos leitores) seu novo brinquedinho de destruição, que naturalmente se provou mais letal que um exército de zumbis e para que Fernando e seus amigos conseguissem apoio de novos aliados. Uma pena. Verdade que nenhum exército convencional poderia pará-los, mas imaginei que eles seriam usados em algum momento dos acordes finais. Foi legal? Foi. Eles tocaram o terror? Tocaram, mas não foi bem o que eu esperava. Enfim… como já dito várias vezes: o inimigo da humanidade no momento não são os zumbis, são os próprios humanos.
“Lúcifer não sabia o nome do lugar, mas tinha uma lembrança muito clara da direção a seguir. Seus instintos o levariam para o local certo. Caminhando com passos decididos, armados de clavas rústicas, pedaços de aço e armas rudimentares de diversos tamanhos e tipos, a mais poderosa e letal horda de criaturas que o mundo jamais conhecera rumou para onde tudo começara para Lúcifer.
Ao longo do caminho, vários outros seres, inclusive zumbis convencionais, passariam a seguir o bando, que podia não ser tão grande, mas tinha o diferencial de ser composto pelos seres mais fortes e perigosos que vagavam pela Terra.”
*A Era dos Mortos - Parte 2 (pág. 124).

               Falando de um zumbi específico: Roberto. A promessa de um “Senhor dos Mortos”, aquele que foi capaz de enfrentar a mulher mais poderosa do mundo e vencer. Esse sim eu tinha expectativas altas de tocar o terror tanto ou mais que Jezebel… porém, o promissor zumbi perdeu espaço para um brinquedo menos instável: a tecnologia armamentista. Confesso que fiquei decepcionado, pois queria ver Roberto em todo o seu potencial explodindo cabeças como Jezebel fez nos livros 3 e 4. Infelizmente não foi o que aconteceu. Spoilers a parte, mas Roberto foi vencido por um recurso que não curto muito em histórias de terror: o poder do amor. Há quem goste que as coisas se resolvam com redenção, mas particularmente não sou fã desse recurso em histórias de terror (quem leu “Sétimo”, do André Vianco, sabe bem do que eu estou falando).
               E por fim: com tantas tramas interligadas e apenas dois livros para resolvê-las aconteceu o que eu temia: o autor teve de acelerar o ritmo da narrativa no clímax. E não digo acelerar no sentido de tornar mais frenético, não. Digo de apertar o botão de acelerar do controle mesmo. Isso não chega a ser uma crítica, apesar de rápido, foi bem trabalhado, com a resolução de todas as tramas. Porém, ficou aquele gostinho de queria mais. “Poxa, se ele tivesse desenvolvido mais essa parte, nossa, ficaria sensacional” ou “Ah, se os zumbis inteligentes tivessem mais tempo de página, certeza que causariam um estrago muito maior…”. Mas imagino que por uma questão de custos financeiros, não seria possível. Porém, eu nem ficaria chateado se tivesse mais um livro haha.
               Essas são minhas considerações sobre a obra. Volto a repetir que essas ponderações foram opiniões de um fã empolgado, mas que nada afetam o brilhantismo da obra (e muito menos da saga). As Crônicas dos Mortos é sem sombra de dúvidas uma das melhores sagas já escritas por um autor nacional. Desejo todo o sucesso do mundo ao Rodrigo em seus novos projetos. Na ansiedade aqui pela continuação de Filhos da Tempestade.
No final tivemos uma breve homenagem aos heróis do Condomínio Colinas, que aprendemos a gostar e respeitar ao longo da jornada de Ivan e Estela, e um gancho para uma… continuação? Quem sabe não veremos novos e valorosos personagens lutando contra hordas de zumbi novamente.
(imagem)
          A obra é narrada em terceira pessoa. Aqui o foco da narrativa está nas histórias de sobrevivência de Fernando e Sarah, deixando alguns outros capítulos para os personagens secundários (em especial, os vilões). A fluidez da narrativa é a mesma que estamos acostumado com as obras do Rodrigo: frenéticas a um ponto que você mal percebe as páginas passarem. A obra é truncada, com passagens no passado para ambientar o leitor e explicar algo que já havia acontecido na trama principal.
               Essa obra teve um pouco mais de erros ortográficos e/ou digitação que a anterior, mas nada que prejudique a leitura. Novamente tenho de elogiar o trabalho excepcional da Faro quanto à diagramação. Se você ainda não folheou um livro da Faro, faça isso assim que puder. Não vai se arrepender. Em especial, se for de um autor nacional. O capricho que eles têm com as obras de nossos autores é louvável. O curioso é que apesar de serem dois livros (Parte 1 e 2), a Era dos Mortos é dividido em 3 livros: Era dos Mortos parte 1 ficou com infância, enquanto o Era dos Mortos parte 2 ficou com Adolescência, com 9 capítulos e Maturidade com 13 capítulos. Ao fim, os agradecimentos do autor.  

Rodrigo de Oliveira é gestor em TI e fã de ficção científica, dos clássicos de terror, em especial da obra de George Romero. A ideia para esta série surgiu após um longo pesadelo tão real que, ao acordar, começou a escrever freneticamente, até concluir seu primeiro livro. Casado, com dois filhos, nasceu em São Paulo, e vive entre a capital e o Vale do Paraíba. Rodrigo é autor da Saga Crônica dos Mortos: O Vale dos Mortos, A Batalha dos Mortos, A Senhora dos Mortos, A Ilha dos Mortos, A Era dos Mortos - parte 1, A Era dos Mortos - parte2 e o Spin Off Elevador 16.
               Indispensável para você que já leu algum livro do Rodrigo. Indispensável para você que é fã de zumbis e do terror no geral. O autor não poupa detalhes e nem personagens na hora de criar uma cena de morte. Rodrigo é o maior nome nacional que temos sobre o gênero zumbi que eu conheço, então se você está cansado da série The Walking Dead e quer coisa nova, pode ir sem medo. E por fim, apoie, adote, compartilhe o trabalho de um autor nacional. Rodrigo é um exemplo prático de como temos muito potencial na nossa Literatura.
               A Era dos Mortos - Parte 2 é o desfecho da mais épica saga de zumbis brasileira. Se você ainda não leu, leia, antes que os mortos se levantem e seja tarde demais.

Bibliografia de RODRIGO DE OLIVEIRA (ordem cronológica):

Livros:

  • O Vale dos Mortos –Editora Baraúna (2013); Relançado pela Faro Editorial (2014).
  • Elevador 16 – Faro Editorial (2013)
  • A Batalha dos Mortos – Faro Editorial (2014)
  • A Senhora dos Mortos – Faro Editorial (2015)
  • Ilha dos Mortos – Faro Editorial (2016)
  • A Era dos Mortos: Parte 1 – Faro Editorial (2018)
  • A Era dos Mortos: Parte 2 – Faro Editorial (2018)


Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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