RESENHA - Sr. Ardiloso Cortês (Derek Landy)



Ficha técnica:
Referência bibliográfica: LANDY, Derek. Sr. Ardiloso Cortês. 1ª edição. Rio de Janeiro, Galera Record, 2008. 305 páginas.
Gênero: Fantasia
Temas: Magia, monstros, conspiração, deuses antigos.
Categoria: Literatura Estrangeira; Literatura Irlandesa.
Ano de lançamento: 2008
Série: Sr. Ardiloso Cortês (Livro 1).



“Ela virou para olhar para ele. Quando o chapéu dele voou, o cabelo voou junto. Em meio à confusão, tudo que ela pode ver foi uma cabeça branca como giz, e por isso esperava que ele fosse um albino careca, talvez. Mas não. Sem os óculos e com o cachecol abaixado, não havia como negar que ele não tinha carne, não tinha pele, nem olhos, nem rosto.
Tudo que tinha como cabeça era uma caveira.”
*Sr. Ardiloso Cortês (pág. 37).


                Stephanie era uma garota comum, que tinha uma vida comum e um tanto sem graça. Em seu interior a garota sabia que havia mais. E ela queria mais, porém não via como dar um novo rumo a sua vida pacata em Dublin.
                Porém, tudo mudou quando seu tio Gordon faleceu.
                O tio da garota era um escritor famoso de horripilantes livros de terror e rico que acabou deixando toda sua fortuna para sua sobrinha favorita. Sua morte também desencadeou uma reviravolta em sua vida: o mundo era muito mais do que ela pensava. Ela descobriu que havia magia, havia monstros como Vampiros e Trolls, heróis e vilões… e havia um esqueleto vivo que andava, falava, fazia magia e soltava bolas de fogo nas pessoas.
A garota se vê mergulhada em uma trama onde um antigo mal está prestes a destruir a humanidade. Seria esse o fim do mundo?
Só por cima do cadáver de Ardiloso Cortês.


         Sr. Ardiloso Cortês é uma obra escrita pelo autor Derek Landy. Nela conhecemos Stephanie, que após a morte do tio foi jogada de ponta cabeça em uma trama sinistra cheia de gente que desafiava constante a lógica do mundo que a garota conhecia. Após herdar a mansão de seu falecido tio, Stephanie é atacada por um homem desconhecido que a todo o momento perguntava por uma chave que ela não tinha ideia do que era.
Pensando que iria morrer nas mãos do homem por não ter o que ele procurava, eis que surge, chutando a porta, Ardiloso Cortês. Depois de travar uma pequena batalha no aposento, Stephanie vê com um misto de choque e surpresa o detetive atirar uma bola de chamas no inimigo, que, por mais absurdo que parecesse para a garota, não queimou o homem, pelo contrário, o deu mais força. E para piorar Ardiloso perdeu seu disfarce na batalha e revelou-se como um esqueleto morto-vivo. Que fala, anda e solta bolas de fogo nos outros.
Lembro quando fui à livraria procurar um livro novo. Na época, antes mesmo de ser blogueiro, eu estava voltando aos poucos ao hábito de leitura. Vi esse livro, achei a capa chamativa e levei sem nem ler a sinopse. E nossa, que compra bem feita! Ardiloso Cortês é uma obra muito bem escrita, divertida e tem um humor ácido como eu nunca havia visto igual naqueles tempos.
Fica até difícil decidir por onde começar a rasgação de seda para esse livro. Mas vamos começar pelos personagens. Depois que Stephanie conhece Ardiloso, ela é inserida em um novo mundo de magia e esquisitices. E mesmo com todos os avisos de que ela estava para se meter em um mundo perigoso, a garota simplesmente não conseguia ignorar tudo o que havia visto. O autor nos apresenta personagens muito carismáticos e com nomes tão incríveis que fica difícil esquecer. Quer exemplos? Olha só: Porcelana Tristeza, Senhor Êxtase, Medonho reservado, Tanith low e o próprio Ardiloso Cortês.
E vocês perguntam: que nomes esquisitos são esses?
Aqui que entra a sacada de gênio do autor, a maior mitologia da obra: Todo mundo tem 3 nomes. O nome com o qual você nasce, o nome que lhe é dado e o nome que você escolhe. Todas as pessoas, não importa quem seja, nasce com um nome. Seu nome de batismo é o nome que lhe foi dado e não o nome com o qual você nasce. Louco, não? Mas faz sentido haha.
E pra que servem os nomes? No mundo do autor, o nome é uma ferramenta extremamente poderosa. Se um mago tiver posse do nome que lhe foi dado, ele pode ter um pequeno controle sobre suas vontades. Dando comandos simples como ficar em pé, sentar, falar, etc. Porém, se o seu nome de nascimento fosse conhecido, o mago poderia ter total controle sobre seu corpo, como Ardiloso explica para a garota:

- Mas você tem um outro nome, um nome real, um nome verdadeiro. Um nome que é unicamente seu e só seu.
- Qual é esse nome?
- Não sei. Você não sabe, também, pelo menos não conscientemente. Esse nome lhe dá poder, mas também dá às outras pessoas poder absoluto sobre você. Se alguém o conhecesse, teria controle sobre sua lealdade, seu amor, tudo em você. Seu livre-arbítrio seria completamente erradicado. E é por isso que mantemos nossos nomes verdadeiros ocultos.
*Sr. Ardiloso Cortês (pág. 63).

E o terceiro nome? O terceiro nome é aquele que você escolhe. Ele é seu nome de faz de conta, por assim dizer. Como os nomes que super-heróis e vilões usam para esconder suas identidades ou tornar sua “marca” registrada. Logo, esse nome não pode ser usado para influenciar seu portador. Genial, não acham?
No mundo criado por Derek também existe magia e coisas esquisitas acontecendo ao tempo todo. Sobre a magia, existem dois tipos de usuários: adeptos e elementalistas, que, como o nome sugere, pode manipular elementos. Já os adeptos utilizavam magias que não como objetivo serem ofensivas, como ler mentes e mudar de forma).


Bom, voltando a trama. A dupla de detetives estão atrás de um homem chamado Nefasto Serpenteio, que Ardiloso acredita estar armando para acabar com a trégua que quase levou o mundo a destruição contra os adoradores das entidades ancestrais chamadas Sem-Rosto e para isso o vilão estava em busca de um artefato extremamente poderoso chamado Cetro dos Antigos. Uma arma da qual não havia defesa. Uma vez atingido, a pessoa morreria na hora.

- O Cetro dos Antigos foi criado para destruir, e ele destrói mesmo. Não há nada que não seja transformado em cinzas diante seu clarão.
- Existe algum tipo de defesa contra ele?
- Nenhum escudo, nenhum feitiço, nenhuma barreira. Ele não pode ser impedido e não pode ser destruído.
*Sr. Ardiloso Cortês (pág. 147).

Interessante também notar o trabalho do autor em inserir seu mundo fantástico dentro do nosso mundo. Apesar de toda a fantasia listada acima, o cenário é inspirado no mundo real, mais precisamente em Dublin e seus arredores (necessito conhecer). Então acredito que seja um prato cheio para aqueles que já tiveram a oportunidade de conhecer a cidade.
E uma última coisa a se destacar: o humor ácido dos personagens. Ardiloso é um mestre quando o assunto é soltar piadinhas ácidas. Mas não é uma piada solta ou sem propósito. O autor dosou na medida certa o humor presente na obra, de modo a não ficar forçado, sabe? E essa é uma das qualidades que mais admirei na escrita do autor, fazendo com que a obra não fique pesada demais de ler. Mesmo que a coisa fique tensa para o lado dos mocinhos, lá estará Ardiloso para salvar o dia comentando algo engraçado na sequência.
Não vou me alongar muito, pois posso estragar alguma surpresa, mas tenho de dizer o quanto esse livro é injustiçado no mercado editorial. Uma história como essa merecia muito mais destaque por parte da editora que a lançou e pelos leitores. Fiz uma enquete no meu insta e mais de 70% dos que participaram não conheciam a obra. Um crime! haha. Espero que com essa resenha possa ter despertado a curiosidade de vocês e quem sabe, apenas quem sabe, ver a editora lançar novos volumes. Aqui no Brasil foram lançados 5 e lá fora tem mais de 10. E eu sou um daqueles que levanta bandeira para que a obra volte a circular e tenha um lugar cativo no coração dos leitores BR, porque Derek mais do que merece nossa atenção.
Que os Sem Rosto não destruam o mundo antes de eu pôr as mãos nos outros volumes.
 A obra é narrada em terceira pessoa. Nela acompanhamos Stephanie e Ardiloso solucionando os casos mais sinistros e no decorrer da trama somos apresentados a outros personagens cativantes e cheios de personalidade. Até mesmo os personagens mais secundários tem sua personalidade e alguma peculiaridade, seja no nome, no jeito de se portar ou mesmo na aparência. Isso sem falar nas reviravoltas! Que são fantásticas e do começo ao fim do livro você vai suspirar quando o autor revela algo relacionado a trama.
  A fluidez da narrativa é maravilhosa, você nem vê o tempo passar na leitura do tanto que a trama é intrigante e divertida. A revisão está excelente, praticamente não vi erros e a diagramação está muito boa, com um bom espaçamento entre as letras e folhas amareladas. A capa é sensacional e passa exatamente o que veremos no decorrer da obra: um esqueleto soltando bolas de fogo nos inimigos.
Derek Landy já escreveu vários roteiros para filmes de zumbis e assassinos em série, mas ele fez questão de tornar seu herói, Sr. Ardiloso Cortês, mais bem vestido, mesmo estando morto. Landy vive em uma cidadezinha perto de Dublin, Irlanda, e a razão pela qual ele escreve sua própria biografia é que assim ele finalmente pode falar de si mesmo na terceira pessoa sem parecer metido ou maluco.
Já deu para notar que eu amo essa saga, né? Então recomendo TODO MUNDO LER haha. Mentira! Recomendo para quem gosta de histórias que tenham elementos fantásticos como magia e monstros, mas que se situa paralelamente ao nosso mundo. Recomendo também para aqueles que não estão muito habituados a esse universo de fantasia urbana, mas tem curiosidade de conhecer.
 E caso você, querido leitor, tenha lido essa obra fantástica depois de ver essa resenha, por favor, fale comigo. Ficarei extremamente feliz de ter mostrado para alguém o quanto essa série é maravilhosa.
Ah, uma observação importante: sempre leiam as dedicatórias. São muito engraçadas.



Bibliografia de DEREK LANDY (ordem cronológica):

Livros:


  • Sr Ardiloso Cortês – Galera Record (2008).
  • Brincando com fogo – Galera Record (2009).
  • Os Sem-Rosto – Galera Record (2010).
  • Dias Sombrios – Galera Record (2012).
  • Espiral da Morte – Galera Record (2003).

Luciano Vellasco

Sou o cara que brinca de ser escritor e se diverte em ser leitor. Apaixonado por livros, fotografia e escrever. Jogador de rpg nos domingos livres, colecionador de Action Figures e Edições Limitadas de jogos. Cinéfilo, amante de series e animes. Estou sempre em busca de conhecer novas pessoas e aprender com cada uma delas e por último, mas não menos importante: um lendário sonhador.
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Comentários
2 Comentários

2 comentários :

  1. Oi Luciano, tudo bem?

    Não conhecia o livro, mas depois de ler sua opinião sobre a sua obra me vi encantada e louca para realizar a leitura. Sou apaixonada por universos fantásticos, então esta obra tem tudo para me conquistar completamente e me proporcionar bons momentos. Gostei da premissa da personagem se deparar com coisas que até então eram uma espécie de "lenda" para ela, imagino sua confusão. Essa questão do nome também é muito interessante e me fez querer saber mais a respeito. Adorei sua resenha, maravilhosa!

    Beijos!

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  2. Eu não conhecia e obra e confesso que fiquei um tanto curiosa,pois parece uma leitura diferente de alguma forma,é bom ler um livro quando tem uma dedicatória legal,eu ligo muito pra isso. rsre

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